O
CALENDÁRIO ISLÂMICO (HÉGIRA)
Por Waleed Muhanna
1. História e Motivação
O calendário islâmico, que se baseia no ciclo
lunar, foi introduzido pela primeira vez no ano 638 d.C pelo
companheiro próximo do Profeta e segundo califa, 'Umar
ibn al-Khattab (592-644 d.C). Ele tomou essa decisão,
numa tentativa de racionalizar os vários sistemas de
datas usados naquela época. 'Umar consultou seus conselheiros
sobre a data de início da nova cronologia muçulmana
e finalmente foi acordado que o acontecimento de referência
mais adequado para o calendário islâmico era a
Hégira. Para a data do início verdadeiro do calendário
foi escolhido (com base no ano lunar, contando-se para trás)
o primeiro dia do primeiro mês (1° de Muharram) do
ano da Hégira. O calendário islâmico (Hégira)
(com datas que caem dentro da era muçulmana) é
normalmente abreviado pela letra H., tirado das línguas
ocidentais derivadas do latim, Anno Hegirae. Portanto, 1°
Muharram, do ano 1, corresponde ao dia 16 de julho do ano de
622 da era cristã.
A Hégira, que narra a migração do Profeta
Mohammad (saw) de Meca para Medina, em setembro de 622 d.C.,
é o acontecimento histórico central dos primórdios
do Islam e que teve como consequência o estabelecimento
da primeira cidade-estado muçulmana, um ponto decisivo
na história mundial e islâmica. Para os muçulmanos
o calendário com base na Hégira não é
só um sistema afetivo de contagem de tempo e de datas
de acontecimentos religiosos importantes (por exemplo, o jejum
e a peregrinação a Meca). Tem uma importância
histórica e religiosa muito mais profunda.
Mohammad Ilyes (Ilyes 84) menciona Nadvi, que escreveu:
"(O advento do século 15) é, na verdade,
uma ocasião ímpar para se meditar que a Era Islâmica
não teve início com base em vitórias das
guerras islâmicas, nem com o nascimento ou a morte do
Profeta (saw), ou com a própria Revelação.
Ela começa com a Hégira, ou o sacrifício
pela causa da Verdade e pela preservação da Revelação.
Foi uma escolha inspirada divinamente. Deus quis ensinar ao
homem que a luta entre a Verdade e o Mal é eterna. O
ano islâmico lembra aos muçulmanos, anualmente,
não as honrarias ou as glórias do Islam e sim
o seu sacrifício, preparando-os para fazer o mesmo."
De um ponto de vista histórico, Ilyes cita Samiullah
que escreve:
"Todos os eventos da história islâmica, principalmente
aqueles que aconteceram durante a vida do Santo Profeta e posteriores,
são mencionados com base no calendário da Hégira.
Mas nossos cálculos no calendário gregoriano nos
afasta daqueles acontecimentos que estavam repletos de lições
educativas e instruções orientadoras.
... E este estudo cronológico só é possível
com a adoção do calendário com base na
Hégira para indicar o ano e o mês lunar de acordo
com nossas mais estimadas tradições."
2. Especificação e Método
O ano islâmico (Hégira) consiste de 12 meses (lunares).
São eles:
(1) MuHarram
(2) Safar
(3) Raby` al-awal
(4) Raby` al-THaany
(5) Jumaada al-awal
(6) Jumaada al-THaany
(7) Rajab
(8) SHa`baan
(9) Ramadan
(10) SHawwal
(11) Thw al-Qi`dah
(12) Thw al-Hijjah
As datas mais importantes do ano islâmico (Hégira)
são: 1° de Muharram (ano novo islâmico); 27
de Rajab (Isra e Miraj); 1° de Ramadhan (primeiro dia do
jejum); 17 de Ramadhan (Nuzul al-Qur'an); os últimos
dez dias do mês de Ramadhan, que inclui o Laylatu al-Qadar;
1° de Shawwal (Eid ul-Fitr); 8-10 deTw al-Hijjah (a peregrinação
a Meca); e 10 de Tw al-Hijjah (Eid al-Adha).
É considerado um mandamento divino usar o calendário
(Hégira) com os 12 meses lunares sem intercalação
(Ilyes 84), conforme se depreende dos versículos alcorânicos
a seguir:
"Perguntar-te-ão sobre os novilúnios. Dize-lhes:
Servem para auxiliar o homem no cômputo do tempo e no
conhecimento da época da peregrinação."
(Alcorão 2:189)
"Para Deus, o número dos meses é de doze,
como reza o Livro Divino, desde o dia em que Ele criou os céus
e a terra. Quatro deles são sagrados; tal é o
cômputo exato. Durante estes meses não vos condeneis,
e combatei unanimemente os idólatras." (Alcorão
9:36)
"A transposição do mês sagrado é
um excesso de incredulidade, com que são desviados,ainda
mais,. os incrédulos; permitem-no num ano e o proíbem
noutro, para fazerem concordar o número de meses feitos
sagrados por Deus, de maneira a tornarem lícito o que
Deus vedou. Suas más ações os iludiram.
Sabei que Deus não guia os incrédulos." (Alcorão
9:37)
Considerando que o calendário islâmico é
lunar, quando comparado com o ano solar ou luni-solar, ele é
mais curto do que o ano gregoriano em cerca de 11 dias e os
meses do ano islâmico não têm qualquer ligação
com as estações, que estão relacionadas
com o ciclo solar. Por isto, as festividades muçulmanas
que sempre caem no mesmo mês do ano com base na Hégira
podem ocorrer no verão ou no inverno. Somente após
33 anos do ciclo é que os meses lunares completam uma
volta e caem na mesma estação.
Por razões religiosas, o início de um mês
no calendário da Hégira não é marcado
pelo começo de uma nova lunação e sim pela
visão da lua crescente em um dado local. Do ponto de
vista do Fiqhi, uma pessoa pode começar o jejum do Ramadan,
por exemplo, baseado na visão "local" (ikhtilaf
al-matale') ou na visão da lua em qualquer lugar do mundo
muçulmano (ittehad al-matale'). Embora diferentes, tanto
uma como outra são posições Fiqhi válidas
.
Astronomicamente, alguns dados são definitivos e conclusivos
(isto é, o tempo do nascimento de uma lua nova). No entanto,
determinar a VISIBILIDADE do crescente não é definitivo
ou conclusivo;depende de uma série de fatores, principalmente
de natureza ótica. Daí a dificuldade em se confeccionar
calendários islâmicos que sejam confiáveis
(no sentido de que eles sejam consistentes com a visibilidade
real do crescente).
Esforços para se obter um critério astronômico
de se predizer o momento da primeira visibilidade lunar remontam
ao período babilônico, com importantes melhorias
e estudos feitos mais tarde por muçulmanos e outros cientistas.
Estes esforços resultaram no desenvolvimento de vários
critérios de se predizer a primeira visão possível
de um crescente. No entanto, ainda permanece uma medida de incerteza.
Além do mais, houve muito pouco trabalho no sentido de
se estimar a visibilidade do crescente em escala global. Enquanto
isto durar, não existe qualquer programa de calendário
da Hégira que seja 100% confiável e a visão
real do crescente permanece fundamental, principalmente para
fixar datas importantes como o início do Ramadan e dos
dois eids.
As ligeiras diferenças nos calendários islâmicos
impressos no mundo, portanto podem apresentar dois aspectos:
(1) a ausência de um critério global para a primeira
visibilidade; e (2) o uso de diferentes critérios de
visibilidade (ou método de cálculo). As condições
metereológicas e as diferenças na localização
do observador também explicam porque algumas vezes existem
diferenças na observância das datas islâmicas
no mundo.
Aqueles que quiserem informações adicionais sobre
o assunto devem consultar o excelente livro de Mohammad Ilyas,
"A Modern Guide to Astronomical Calculations of Islamic
Calendar, Times & Qibla", Berita Publishing, 1984,
(ISBN: 967-969-009-1). O livro contém uma discussão
cuidadosa do sistema islâmico de calendário e fatos
históricos e científicos relacionados. Também
apresenta uma proposta válida para um Calendário
Islâmico universal, baseado no critério de visibilidade
global e no conceito de um Dia Lunar.
Ramadan