Tendo visto como as mulheres foram cruelmente
tratadas por diferentes religiões, Civilizações
e Culturas, ser-nos-á, agora, possível entender
corretamente e apreciar os alcances gloriosos do Islam nesta
questão, e de como ele, de fato, elevou a posição
da mulher na sociedade.
Por isso, ao longo deste trabalho, tentaremos refutar as alegações
das pessoas desencaminhadas contra o Islam em relação
à mulher, e elaborar a sua real posição
no Islam. No meio das trevas que mergulharam o mundo, a Revelação
Divina ecoou, no deserto hostil da Arábia, com uma Mensagem
Lúcida, nobre e Universal para a humanidade:
''Ó humanos, temei a vosso Senhor, que vos criou de um
só ser, do qual criou a sua companheira e, de ambos,
fez descender inumeráveis homens e mulheres. Temei a
Deus, em nome do Qual exigis os vossos direitos mútuos
e reverenciai os laços de parentesco, porque Deus é
vosso Observador.'' (Alcorão Sagrado 4:1)
O famoso sábio muçulmano, Al-Khuli Al Babi, ponderou
sobre este versículo e declarou:
''É crença geral que não existe texto,
quer antigo, quer moderno, que diga respeito à humanização
da mulher sobre os aspectos da vida, numa tal espantosa brevidade,
eloqüência, profundidade e originalidade, como no
Decreto Divino."
Assim, com um simples traço magistral, o Islam removeu
o estigma da ''fraqueza" e da "impureza", com
as quais as religiões mundiais caracterizaram a mulher.
O Islam proclama que homens e mulheres provêm da mesma
essência e, por conseguinte, se a mulher podia ser tida
como fraca, o homem, também, poderia ser visto como tal,
ou se o homem tinha uma centelha de nobreza, então a
mulher, também, a deveria possuir. A propósito,
o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele), disse:
''As mulheres são almas gêmeas dos homens.''
A elevação da posição da mulher
e os seus respectivos direitos, patenteados nesta obra, estão
garantidos pelo Próprio Deus, e podem ser facilmente
encontrados nas duas mais importantes e autênticas fontes
do Islam, ou seja, o Sagrado Alcorão e os Ahadith do
Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de
Deus estejam sobre ele).
Os direitos garantidos por Reis, ou por Assembléias Legislativas,
podem ser tão facilmente removidos, quão o são
conferidos; mas nenhum indivíduo, ou instituição
tem autoridade para eliminar, ou emendar os direitos conferidos
por Deus. Todos aqueles que pretendem ser Muçulmanos,
têm que aceitar, reconhecer e reforçar os direitos
sancionados por Deus. Se falharem em reforçá-los,
ou os violarem, o veredicto do Alcorão é inequívoco:
''Aqueles que não julgam pelos preceitos que Deus revelou
são descrentes.'' (Alcorão Sagrado 5:44).
E o seguinte versículo também proclama:
''Eles são os Iníquos.'' (Alcorão Sagrado
5:45).
Um terceiro versículo do mesmo capítulo diz:
''Eles são os prevaricadores." (Alcorão Sagrado
5:47)
Por outras palavras; se as autoridades temporais consideram
as suas próprias palavras e decisões como certas,
e as de Deus como erradas, eles não são crentes.
Se, por outro lado, eles consideram os mandamentos de Deus como
certos, mas rejeitam-nos deliberadamente em favor das suas decisões,
então são Iníquos. Os prevaricadores ou
infratores da lei são aqueles que desrespeitam a limitação
da fidelidade.
1º- Aspecto Espiritual-
A mulher tem, efetivamente, alma:
Em algumas religiões durante muito
tempo se acrediatava que a mulher não possuía
alma, mas com a chegada do Islam este conceito foi totalmente
abolido pelo Profeta Muhammad.
Nas tradições do Profeta Muhammad (que a Paz e
a Bênção de Deus estejam sobre ele), encontramos
uma prova clara de que a mulher tem, realmente, alma. Abdullah
bin Mass'ud, reporta que o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele), disse:
"De fato, a criação de cada um de vós
(macho ou fêmea) foi levada a cabo conjuntamente no ventre
da mãe, durante quarenta dias, sob a forma de uma semente,
depois um coágulo de sangue (algo que se agarra) por
igual período e, então, é-lhe enviado o
anjo que assopra a respiração da vida, ou seja
dá-lhe alma (o feto: macho ou fêmea). " (Bukhari
e Muslim)
Fica claro, a partir desta tradição, que o feto
de todo o ser humano adquire vida quando a alma, por ordem de
Deus, é assoprada para ele. Uma vez mais, é do
conhecimento geral que nenhum ser humano (macho ou fêmea)
pode viver sem alma. Agora, será que as mulheres nem
vivem, nem morrem? É então evidente que elas têm
alma, tal e qual como os homens.
2º- Iman (fé):
O Islam é bastante explícito
em relação ao fato da mulher ser completamente
equiparada ao homem, perante Deus, em termos da fé; pois
Deus diz:
''Ó fiéis, quando se vos apresentarem as fugitivas
fiéis, examinai-as, muito embora Deus conheça
a sua fé melhor do que ninguém; porém,
se as julgardes fiéis, não as restituais aos incrédulos.''
(Alcorão Sagrado 60:10).
E também diz:
''Sabe, portanto, que não há mais divindade, além
de Deus e implora o perdão das tuas faltas, assim como
das dos fiéis e das fiéis, porque Deus conhece
as vossas atividades e os vossos destinos. '' (Alcorão
Sagrado 47:19).
Nos dois versículos anteriores, Deus, denomina-as de
mulheres crentes, sendo assim, quem tem, autorização
para refutar o que Deus proclama?
3º -Ibadah (Adoração):
Em termos de obrigações religiosas
e de adoração, tais como as cinco orações
diárias, a zakat, o jejum e a peregrinação
a Makkah, a mulher não é diferente do homem. A
este respeito Deus, diz:
''Os fiéis (homens e mulheres) que praticarem o bem,
observarem a oração e pagarem o zakat, terão
a sua recompensa no Senhor e não serão presas
do temor, nem se atribularão.'' (Alcorão Sagrado
2:277).
"Ó vós que credes (homens e mulheres)! É-vos
prescrito o jejum como foi prescrito aos vossos antepassados,
para que possais temer a Deus." (Alcorão Sagrado
2:183).
4º - Jazaa (recompensa):
Deus promete recompensa, indiscriminadamente, para o homem e
a mulher que sejam crentes e trabalhem honestamente. Ele diz:
''A quem praticar o bem, seja homem ou mulher, e for fiel, concederemos
uma vida agradável e premiaremos com uma recompensa,
de acordo com a melhor das ações. '' (Alcorão
Sagrado 16:97).
''Aqueles que praticarem o bem, sejam homens ou mulheres, e
forem fiéis, entrarão no Paraíso e não
serão defraudados, no mínimo que seja.'' (Alcorão
Sagrado 4:124).
"Entrai no jardim (Paraíso), vós e vossas
esposas e alegrai-vos.'' (Alcorão Sagrado 43:70)
5º - Eva não
é a Causa da Queda de Adão (que Deus esteja satisfeito
com ambos):
De acordo com o Alcorão Sagrado,
a mulher não é culpada do primeiro erro de Adão.
Ambos erraram na sua desobediência a Deus, ambos se arrependeram,
e ambos foram perdoados. Podemos ler o seguinte no Alcorão:
''Determinamos: Ó Adão, habita o Paraíso
com a tua esposa e desfrutai dele com a prodigalidade que vos
aprouver; porém, não vos aproximeis desta árvore,
porque vos contareis entre os iníquos. Todavia, Satã
os seduziu, fazendo com que saíssem do estado (de felicidade)
em que se encontravam.'' (Alcorão Sagrado 2:35-36).
''Então, seu Senhor os admoestou: Não vos havia
vedado esta árvore e não vos havia dito que Satanás
era vosso inimigo declarado? Disseram: Ó Senhor nosso,
nós mesmos nos condenamos e, se não nos perdoares
a Te apiedares de nós, seremos desventurados! '' (Alcorão
Sagrado 7:22-23).
De acordo com o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele):
"Toda a criança nasce com igual natureza...''
Tal significa que todo o recém-nascido carrega consigo
(seja ele ou ela) uma igual e inocente natureza, e nunca nasce
pecador, isto encontra-se em total contradição
com o Credo Cristão do pecado inato.
A
Condição da Mulher no Islam
Tudo que é do outro, que não
faz parte da nossa realidade mais imediata, tende a nos assustar
e a ser objeto de nossa rejeição. Raríssimas
vezes nos detemos nas questões que nos escapam e, por
isso mesmo, fazemos julgamentos apressados, superficiais, e
incorporamos conceitos sempre carregados de preconceitos, porque
fundamentados na ignorância dos fatos. Nos dias atuais,
onde tantas questões polêmicas nos são colocadas
diariamente, onde mal temos tempo de digerir o noticiário,
tal a rapidez com que as coisas acontecem no mundo, vamos estabelecendo
nossos julgamentos e entendimentos em bases que carecem de uma
análise mais profunda. Assim é com relação
ao Islam, tão incompreendido, tão desconhecido.
Assim é a questão da mulher no Islam, onde preconceitos
e falsas informações estão disseminados
de tal forma que ocupam o imaginário dos não muçulmanos,
estereotipando essas mulheres, transformando-as em personagens
que nunca correspondem à realidade. Tomamos para nós
alguns conceitos, que passam a ser verdade, a nossa verdade,
que sequer é nossa, e engrossamos o rol desta vasta legião
de meros repetidores de falsas verdades, aliás, uma característica
do nosso tempo. Mas, o que é o Islam? Como o Islam trata
realmente a questão dos sexos? Qual é o papel
da mulher muçulmana numa sociedade islâmica? Para
se falar sobre a mulher no Islam, como ela é vista, qual
a sua função, qual o seu papel, quais os seus
direitos e deveres, torna-se necessário comparar este
mesmo papel com outras culturas, outras religiões, quais
os seus direitos e deveres, quais as suas conquistas, enfim,
devemos considerar todos os aspectos, sejam sociais, politícos,
econômicos, éticos ou morais e não, simplesmente,
nos determos em aspectos culturais isolados. Por isso, nada
melhor do que enfocar a condição da mulher no
Islam, levando em conta essa mesma condição no
Ocidente, e, mais especificamente no Brasil, de tradições,
cultura e religião tão diferentes do Oriente.
No que a muçulmana é diferente da mulher ocidental?
Que valores éticos, morais, sociais e religiosos regem
essas duas mulheres? Que padrões comportamentais fazem
essas duas mulheres tão diferentes? Há 1400 anos,
o Islam afirmou que a mulher é um ser humano, que tem
uma alma da mesma natureza que a do homem, e que ambos, homens
e mulheres, gozam dos mesmos direitos. No Islam, a mulher é
um ser responsável e não pode ser desrespeitada
ou discriminada em razão de seu sexo. No ocidente, apesar
dos avanços conseguidos pelos movimentos feministas,
as conquistas alcançadas não representam sequer
a terça parte do que o Islam já havia garantido.
Sabemos que a mulher ainda é discriminada, o maior contingente
de analfabetos está na população feminina,
ela é vítima da violência, que começa
em casa, recebe um salário menor para o exercício
de funções que ela executa em igualdade de condições
com o homem, etc. Em 1995, há alguns anos atrás,
na Quarta Conferência Mundial da Mulher, ocorrida em Pequim,
os governos participantes reconheceram a péssima condição
feminina e firmaram uma Declaração, onde entre
outros tópicos, afirmavam o seguinte:
“Nós, os governos que participamos da Quarta Conferência
Mundial da Mulher (…) estamos convencidos de que: (…)
Os direitos da mulher são direitos humanos; (…)
A igualdade de direitos, de oportunidades e de acesso aos recursos,
à distribuição equitativa entre homens
e mulheres das responsabilidades relativas à família
… são indispensáveis ao seu bem-estar e
ao de sua família, assim como para a consolidação
da democracia. (…) A paz global, nacional e regional só
pode ser alcançada com o progresso das mulheres, que
são uma força fundamental de liderança,
resolução de conflitos e promoção
de uma paz duradoura em todos os níveis.”
A diferença básica entre esses dois mundos, o
oriental e o ocidental, é que o Islam, conforme revelado
ao Profeta Mohammad, está pronto, bastando ser seguido
por todos. O Islam dignifica o ser humano, garante direitos.
Sua mensagem, ainda que dirigida inicialmente aos árabes,
é universal e se aplica a todos os homens e mulheres,
em qualquer lugar e em qualquer tempo. As origens do Islam são
as mesmas que as das religiões anteriores e Mohammad
foi o último profeta de Deus. Deus esclarece no Alcorão
que, ao longo de toda a história da humanidade, cada
povo teve o seu mensageiro, em sua própria língua,
em linguagem compatível com a compreensão do ser
humano, anunciando a unicidade de Deus, confirmando o Dia do
Juízo Final e determinando a subordinação
ao que foi legislado por Ele.
Prescreveu-vos a mesma religião que tinha instituído
para Noé, a qual te revelamos, a qual recomendamos a
Abraão, a Moisés e Jesus (dizendo-lhes): Observai
a religião e não discrepeis acerca disso.(cap.
14:5)
A crença nos profetas e nos livros são artigos
de fé para o muçulmano. Depois de Mohammad não
haverá mais nenhum profeta e nem revelação
alguma será feita.
Hoje, aperfeiçoei a religião para vós;
agraciei-vos generosamente e aponto o Islam por religião.
(Cap. 5:3)
A
Importância da Mulher no Islam
Desde tempos imemoriais que o Islam tem sido
vítima de uma distorção deliberada por
parte dos Não-Muçulmanos. O lado mais negativo
de tal fato é o de que não foram apenas não-Muçulmanos
que elaboraram falsas concepções relativas ao
Islam; infelizmente um certo número de seguidores do
Islam é incapaz de compreender a essência deste
Delicado mas Abrangente Código de Vida, desde que ficaram
sob o impacto da Civilização Ocidental.
Muito tem sido dito contra a posição da mulher
no Islam por parte dos não-Muçulmanos preconceituosos
e fanáticos. Como conseqüência, o Islam tem
sido, impiedosa e perpetuamente, objeto de ataques violentos,
baseados em falsas suposições e fatos distorcidos
acerca da real posição da mulher nesta Religião.
Esta é a questão fundamental de todo o mundo não-Muçulmano,
em geral, e do mundo ocidental em particular.
O Ocidente conhece o Islam há mais de 13 séculos.
No entanto, esse conhecimento foi adquirido de uma forma negativa
como um inimigo e uma ameaça. Por isso, não é
de forma alguma surpreendente que no Ocidente o Islam tenha
sido descrito como uma religião hostil, tirânica
e violenta. Da mesma forma a própria Cultura Islâmica
tem sido narrada com cores sombrias e tristes.
Este estado de coisas não pode continuar e torna-se um
dever imperativo defender o Islam e clarificar esta questão.
Conseqüentemente, tentaremos, neste pequeno trabalho, elucidar
a forma como o Islam emancipou a mulher e elevou a sua posição.
Mas antes de passar um veredicto sobre um costume, é
necessário que seja levada em conta não só
a História daquele tempo mas, também, todas as
circunstâncias então prevalecentes.
É, por isso, necessário que consultemos a História
e verifiquemos, por nós próprios, quão
aviltadas, desprezadas e humilhadas as mulheres foram em diferentes
civilizações e religiões do mundo, antes
do advento do Profeta Muhammad (que Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele).
Embora não seja possível descrever, neste apontamento,
todos os acontecimentos da História relacionados com
esta questão, aqui ficam descritos alguns que julgamos
serem oportunos e suficientemente elucidativos.
A Civilização
Grega
A Civilização Grega é
tida como a mais gloriosa de todas as civilizações
antigas. Durante o decorrer desta Civilização,
a mulher era menosprezada moral e socialmente, e não
tinha quaisquer direitos legais. Os Gregos olhavam para a mulher
como uma criatura sub-humana, cuja posição na
sociedade era, em todos os sentidos, inferior à do homem,
para o qual estava reservada a honra, bem como um lugar de superioridade.
A prostituição estava fortemente implantada na
sociedade Grega, e as relações com mulheres adúlteras
não eram consideradas pecaminosas, Mais tarde, os Gregos
foram arrastados pelo egoísmo, bem como pela perversão
sexual.
Como conseqüência, modificou-se o modo de olhar a
mulher, e as adúlteras obtiveram uma tal proeminência,
de que não existe paralelo na História.
As casas de prostitutas tornaram-se o centro das atenções
de todas as classes da sociedade, atraindo os seus filósofos,
poetas, historiadores e pensadores. Esse tipo de mulher não
somente promovia funções literárias mas,
também, questões políticas de grande relevo,
que eram decididas sob a sua influência.
É realmente estranho que o conselho de uma mulher que
não ficava ligada a um homem por mais de três noites
consecutivas, fosse largamente tido em conta, sobretudo em questões
de cuja solução dependia a vida, ou a morte da
nação.
O homem comum considerava o matrimônio como algo desnecessário,
sendo a liberdade sexual tida como perfeitamente lícita
e correta. De tal forma assim era, que, estes males tomaram-se
numa parte da sua religião: foi deste modo que o culto
à Afrodite, a deusa do amor e da beleza, se propagou
por toda a Grécia.
De acordo com a sua mitologia, esta deusa, que era esposa de
um deus, desenvolveu relações ilícitas
com três outros deuses, bem como com um mortal. Como resultado
desta última relação ilícita nasceu
um deus bastardo, Cupido, o deus do amor!
Com o louvor dos deuses (satânicos) do amor na Grécia,
as casas de prostituição tornaram-se em locais
de veneração.
As prostitutas eram consideradas como jovens pias dedicadas
a templos, e o adultério foi elevado ao estatuto de piedade
e revestido de toda a santidade religiosa. Nenhuma nação
no mundo foi capaz de se elevar novamente após tal declínio
moral. E tal é o que afirma Deus no Alcorão Sagrado:
''E quando temos que destruir uma cidade Nós mandamos
ordens aos seus habitantes que vivem na opulência e que,
a seguir, cometem abominações; então, a
Palavra (do castigo) é pronunciada e, Nós, punimo-la
com completa destruição.'' (Alcorão Sagrado
17:16)
A História é testemunha de que após o término
do, seu período de glória, a nação
Grega nunca mais obteve uma segunda oportunidade de recolher
os seus passos em grandeza e orgulho. A posição
da mulher na Civilização Grega pode ser resumida
nas palavras de Sócrates, o grande pensador e filósofo
grego:
''A Mulher é a grande fonte do caos e da ruptura no mundo.
Ela é como a árvore de "dafali", cujo
aspecto externo é extremamente belo mas, se os pássaros
a comerem, morrerão com toda a certeza. "
Anderoosky descreve o conceito grego da mulher, nas seguintes
palavras:
''É possível curar-se de uma queimadura e da mordida
de cobra, mas é impossível prender a subtilidade
feminina."
A Civilização
Chinesa
Nas escrituras Chinesas as mulheres são
apelidadas de ''águas da desgraça", que desperdiçam
toda a sua boa sorte, a mulher foi sempre vista como inferior
ao homem, não lhe sendo concedido qualquer tipo de direitos.
A mulher era eternamente tida como menor, não sendo as
crianças olhadas como verdadeiramente suas. Sempre que
quisesse, o homem podia repudiar a sua mulher, podendo mesmo
chegar a vendê-la como concubina.
Após a viuvez, ela permanecia como propriedade da família
do marido, sendo-lhe, praticamente, impossível voltar
a casar. A par com isto estavam a escravatura e o infanticídio.
A Civilização
Romana
Nesta Civilização o homem
possuía todo o poder e autoridade sobre a sua família,
incluindo o direito de tirar a vida à sua própria
mulher. Um esposo romano podia facilmente afastar a sua mulher
por mero capricho.
Entre os romanos a mulher não possuía personalidade
legal. Ela nunca podia aparecer no tribunal como queixosa. Era
vista como uma menor, demente, como uma pessoa incapaz de fazer
ou de agir de acordo com a sua preferência.
A sua propriedade passava para as mãos do seu marido
pelo casamento. Ela não podia obter ou deter qualquer
tipo de propriedade.
Não podia ser testemunha, não podia comprar ou
vender, nem fazer parte de qualquer contrato. Com o avanço
da civilização, o conceito humano com respeito
à posição da mulher sofreu uma profunda
alteração. As regras que determinavam o casamento
sofreram, gradualmente, uma completa "metamorfose"
que as condições mudaram para pior.
O divórcio foi facilitado, e o matrimônio era efetuado
com bases que eram pouco sólidas. Séneca (4 a.C.
- 65 d.C.), o famoso filósofo e estadista romano, criticou
os seus compatriotas pela elevada incidência do divórcio
entre eles. Séneca afirmou:
"Agora, o divórcio não é mais visto
como algo de vergonhoso em Roma, as mulheres calculam a sua
idade pela quantidade de homens que tiveram como mandos."
Naqueles dias, as mulheres tinham por hábito casarem-se
diversas vezes; S. Jerônimo (340 - 420 d.C.) menciona
uma mulher maravilhosa, cujo último marido tinha sido
o seu 23º, tendo sido, ela própria, a 21º mulher
do seu marido.
A Flora tornou-se um desporto romano muito popular, no qual
mulheres nuas competiam em concursos de raça. Homens
e mulheres tomavam banho juntos nos banhos públicos.
Quando os Romanos ficaram de tal maneira absorvidos por paixões
animalescas, a sua glória desapareceu por completo, sem
sequer deixar rasto atrás de si.
Hinduísmo
A Asura, como forma de casamento entre os antigos hindus, nada
mais era do que uma espécie de venda da filha pelo pai.
A legalização só muito dificilmente salvou
mulheres de mãos cruéis, uma vez que nunca herdavam
qualquer tipo de propriedade.
Na Índia, nos seus primórdios (e mesmo agora,
em algumas partes), as moças eram (e são) delicadas
aos deuses, freqüentemente, sendo-lhes oferecidas em matrimônio
para que, desta maneira, pudessem usufruir dos seus serviços
da mesma forma que os maridos se serviam das suas mulheres.
Por conseqüência, elas ficavam sob a dependência
dos sacerdotes ''dharmakarthas'', ou dos mandatários
ligados aos templos.
Nos tempos dos Vedas, as mulheres eram tratadas como recompensas
de guerra, após a vitória, as mulheres eram levadas
à força e distribuídas como artigos de
saque. Por isso, o tratamento dado as mulheres era o pior possível.
De acordo com Manu, mentir é uma particularidade feminina,
ainda segundo a ordem de Manu, no Hinduísmo,
"Uma mulher nunca deve procurar a independência e
nunca deve fazer seja o que for de acordo com a sua satisfação.
"
A lei do Hinduísmo diz:
"Por uma moça por uma jovem mulher, ou até
mesmo por uma idosa, nada deve ser feito independentemente,
mesmo na sua própria casa. Na infância uma fêmea
deve ser submetida ao seu pai, na juventude ao seu marido, e
quando da morte do seu senhor, aos seus filhos; uma mulher nunca
deve ser independente."
A professora Indka, no seu livro "Posição
das Mulheres em Mahabharate", escreve:
"Não existe criatura mais pecadora do que a mulher.
A mulher é o fogo ardente. Ela é o gume afiado
da navalha. É o conjunto de tudo isto. Os homens não
devem amá-las ... destruição."
Sir R. G. Bhandarkar comenta:
''A Bhagavad Geeta dá expressão à crença
geral de que é somente uma alma pecadora que nasceu como
mulher"
Naqueles tempos, como agora, um casamento hindu era indissolúvel,
nem o adultério, nem a prostituição, nem
mesmo a degeneração podiam dissolver um casamento
hindu.
O que dizer da vida, se até mesmo após a morte
do marido as viúvas não podiam exigir a separação.
O mais cruel era a prática do sati, no qual a viúva
era queimada viva juntamente com o seu esposo morto. Esta prática
foi proibida somente pelos preceitos Islâmicos.
A viúva era, e ainda o é, olhada como algo repugnante,
inauspicioso e que se devia evitar. A posição
das viúvas que não praticassem o ''Sati'' era
tão triste, que as pobres almas consideravam preferível
serem queimadas vivas do que suportarem uma longa e cruel tortura
nas mãos de uma sociedade fria e injusta.
Até à altura da conquista da índia pelos
Muçulmanos, as mulheres hindus caminhavam quase nuas
e expunham os seus atrativos sem a menor vergonha.
Budismo
O ensinamento da Nirvana (salvação)
não pode ser levado a cabo na companhia de mulheres,
tal fato é, suficientemente, eloqüente para nos
fornecer uma visão para a atitude do Budismo em relação
às mulheres.
A idéia do matrimônio, e a vida que lhe está
inerente, é contrária ao objetivo do Budismo -
a aniquilação do desejo - fato que promove o celibato.
Por isso, para um Budista, de acordo com o célebre historiador
Westermark:
''As mulheres são, das ciladas que o demônio inventou
para os homens, a mais perigosa; nas mulheres estão inerentes
todas as paixões que cegam a mente do mundo."
A concepção sobre a mulher no Budismo encontra-se
resumida nas palavras de um sábio Budista de renome,
lembradas por Bettany no seu livro "Religiões Mundiais",
nos seguintes termos:
"Infelizmente profundo, como o percurso de um peixe na
água é o caráter da mulher, revestido de
mil artifícios, com os quais se torna difícil
descortinar a verdade, para a qual uma mentira é como
a verdade, e a verdade como uma mentira"
Judaísmo
De acordo com as escrituras Hebraicas, no
Judaísmo a mulher encontra-se sob uma maldição
eterna e Divina.
"Da mulher provém o início do pecado, e através
dela todos nós morremos"
É uma crença que detém a mulher como responsável
por todas as fraquezas do homem. Por isso a sua degradação
na sociedade Judaica, onde ela era considerada não como
uma criatura merecedora de honra, mas como alguém que
podia ser sujeita, justamente, a qualquer tipo de insultos,
e ser reduzida à posição de um móvel
na casa.
Cristianismo
Toda a estrutura do credo Cristão
baseia-se na doutrina do Pecado Original, pelo qual o Cristianismo,
como o Judaísmo, responsabiliza a mulher:
''A mulher que me deste por companheiras ela me deu da árvore,
e comi" (Gênesis 3:12)
Eva, segundo o Cristianismo:
''... foi a primeira a cometer o pecado e causadora da desgraça
de Adão: por isso, ela era realmente responsável
pelos pecados da humanidade e Deus teve que enviar o Seu único
Filho, Jesus Cristo, para ser crucificado e lavar todos os pecados
do mundo com o seu próprio sangue."
Esta é a suma da fé Cristã.
Mais adiante, reproduziremos algumas passagens do Novo Testamento,
as quais deverão, sem a necessidade de comentário,
demonstrar a posição da mulher no Cristianismo,
e de como ela deverá ser evitada pelos candidatos ao
Reino dos Céus:
"Porque eis que hão de vir dias em que dirão:
Bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que não
geraram, e os peitos que não amamentaram." (S. Lucas
23:20)
"Bom seria que o homem não tocasse em mulher.''
(I aos Corintios 7:1)
"Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo
(ou seja solteiros) ... Digo, por isso, aos solteiros e às
viúvas, que lhes é bom ficarem como eu (ou seja,
solteiros). Mas se não podem conter-se, casem-se. Porque
é melhor casar do que abrasar-se." (Corintios 7:9)
"O solteiro cuida nas coisas do Senhor, em como há-de
agradar ao Senhor. Mas o que é casado cuida nas coisas
do mundo, em como há-de agradar à mulher."
(Corintios 7:32-33)
"Mas, (ele), o que a não dá em casamento,
faz melhor.'' (Corintios 7:38)
As comunicações Bíblicas sobre a fraqueza
da mulher só poderiam levar os primeiros Sacerdotes Cristãos
a fazerem tão "piedosíssimas" difamações,
sobre as quais nenhuma mulher, que tenha respeito por si própria,
poderá manter-se calada.
Paulo, o primeiro santo da Cristandade, proclama:
''A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição.
Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use
de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio.
Pois primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão
não foi enganado mas a mulher, sendo enganada caiu em
transgressão.'' (I à Timóteo 2:11-14)
Diz S. Tertúlio às mulheres:
"Sabeis vós, que cada uma de vós é
uma Eva; a sentença de Deus sobre este sexo das vossas
vidas nesta era; a culpa tem de necessariamente viver, igualmente;
vós sois o primeiro desertor da Lei Divina, vós
sois aquela que o persuadiu, quando o demônio ainda não
era suficientemente forte para atacar. Vós destruísses
muito facilmente a imagem de Deus no homem. Por conta da vossa
deserção, ou seja, morte, até o Filho de
Deus teve que morrer." (De Cottu Feminarum)
Afirma S. Gregório Taumaturgo:
"Entre todos os homens, procurei a castidade apropriada
a eles, e não a encontrei em nenhum. Provavelmente pode-se
encontrar um homem casto entre mil, mas nunca entre as mulheres."
Segundo S. Gregório de Nazianzum:
''A ferocidade é característica do dragão
e a astúcia da áspide, mas a mulher tem a malícia
de ambos."
S. João Crisóstomo olhava a mulher como:
"Um demônio necessário, uma calamidade desejada,
um fascinador mortífero, e uma doença camuflada."
Aos olhos de S. Clemente de Alexandria:
"Nada de calamitoso é próprio do homem, que
é dotado de razão, o mesmo não se pode
dizer da mulher, para a qual se è uma vergonhoso refletir
sobre a sua própria natureza." (Paeds, II:, 2.83,
pag. 186)
Com efeito, os construtores da Igreja Cristã, bem como
os primitivos Sacerdotes, podem ser denominados de rivais concorrentes
nas suas denúncias relativas à mulher. Ela foi
descrita como:
"O instrumento do Demônio";
"O fundamento das armas do Diabo, cuja voz é o assobiar
das serpentes";
"Um escorpião sempre pronto a picar, e a lança
do demônio";
"Um instrumento que o demônio utiliza para se apoderar
das nossas almas";
"A porta do Inferno, o caminho da iniqüidade, o espigo
do escorpião";
"Algo impuro, uma filha da falsidade, uma sentinela do
Inferno, o inimigo da paz, e, de todos os animais selvagens,
o mais perigoso".
Ditos de; S. Bernardo, S. Antônio, S. Boaventura, S. Cipriano,
S. Jerônimo e S. João Damasceno, respectivamente.
A mulher era tida como "algo impuro", a "impureza"
da mulher levou a Igreja Cristã a denunciar até
o sagrado matrimônio - essa grande instituição
social da humanidade. Diz S. Gregório:
''Abençoado, é aquele que leva uma vida celibatária,
e não encerra em si a imagem Divina com a obscenidade
da concupiscência."
A irreparável injúria que foi infligia sobre as
mulheres na Cristandade, e sobretudo durante a Idade Média,
dispensa qualquer tipo de descrição.
A condição das mulheres antes do advento do Profeta
Muhammad (que Paz e a Bênção de Deus estejam
sobre ele), era miserável por todo o mundo, nenhuma religião
lhes permitia a igualdade, nenhuma religião lhes deu
uma parte na propriedade dos seus familiares e esposos.
A mulher era vista como um demônio e como um fardo indesejado,
uma fonte de desgraça e humilhação para
a família.
As mulheres eram universalmente tratadas como bens e brinquedos
nas mãos dos homens. Elas nunca eram vistas como parte
integrante do casamento. Podiam ser obtidas num momento de prazer,
e rejeitadas de uma forma puramente caprichosa; somente o coração
e a bolsa podiam colocar limitações.
As mulheres não tinham uma posição independente,
não possuíam qualquer propriedade, não
tinham qualquer direito a herança.
Na Arábia (em particular), mesmo antes do Profeta Muhammad
(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre
ele), a condição da mulher era simplesmente miserável
de tal forma que as crianças recém-nascidas de
sexo feminino eram enterradas vivas. Elas não eram olhadas
como pessoas humanas, com efeito, na Arábia, a mulher
permanecia algures no limbo entre o mundo animal e a humanidade.
O
Islam Realmente Honrou a Mulher
O Islam exaltou generosamente a mulher, honrou-a
e tratou-a com civilidade, quer como criança e adolescente,
quer como esposa e mãe.
a) - Como Criança
e Adolescente:
Antes do advento do Profeta Muhammad (que
a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele),
o mundo degradou a mulher e, praticamente, baniu-a. Ela tinha
sido atirada para tão profundo abismo, que parecia não
haver esperança na sua redenção. O Islam
lutou acirradamente contra esta injustiça, sublinhando
que a vida precisava tanto do homem como da mulher. A mulher
não foi criada para ser ridicularizada e banida, como
o homem, a mulher tem o seu propósito e direito à
existência, e a Natureza está a alcançar
o seu objetivo com a ajuda de ambos, homem e mulher, conforme
reza o Alcorão:
"A Deus pertence a Soberania dos céus e da terra.
Ele cria o que deseja. Dá filhas a quem deseja e dá
filhos a quem deseja; ou dá-lhes aos pares machos e fêmeas,
e torna estéril a quem deseja, pois Ele é Sábio
e Poderoso.'' (Alcorão Sagrado 42:49-50)
Onde todas as outras religiões privam a mulher de todos
os direitos, até ao de viver, o Islam garante-lhe os
mesmos direitos que ao homem. O Islam também avisa aqueles
que pretendem retirar-lhes os seus direitos, serão, seguramente,
responsáveis perante Deus no Dia do Julgamento.
''Quando as almas forem reunidas, quando a filha, sepultada
vida, for interrogada: Por que delito foste assassinada?'' (Alcorão
Sagrado 81:7-9).
O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele), instituiu numerosas instruções
a favor da mulher. Favores que ela não podia obter mesmo
dos auto-denominados apoiantes modernos dos direitos da mulher.
O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele), disse:
''Deus proibiu-vos a desobediência às vossas mães,
a recusa a sancionar direitos, a acumulação de
riqueza de qualquer maneira (halal e haram = lícito e
ilícito) e o enterro de filhas vivas." (Al Bukhari).
Ele disse, igualmente:
"Um homem que tem uma filha e não a despreza, não
a enterra viva, nem prefere o seu filho em detrimento da sua
filha, Deus admiti-lo-á no Céu." (Abu Daud).
Sobre Fatimah o Profeta disse:
''A minha filha é a minha carne, qualquer problema com
ela causará a minha dor." (Bukhari e Muslim).
Os ensinamentos Islâmicos revolucionaram o pensamento
daqueles homens que enterravam as suas filhas vivas, e que não
sentiam qualquer vergonha ao fazê-lo. Começaram
a amar e a alimentar as suas filhas. Aqueles que no passado
tinham recusado a abrigar as suas próprias filhas, tornaram-se
os guardiães das filhas de terceiros.
Por ocasião da Batalha de Uhud, o pai de Jabir, disse-lhe:
"Meu filho, eu posso ser martirizado na batalha que se
avizinha; se isso acontecer, aconselho-te a tomares conta das
minhas filhas."
Assim aconteceu, Jabir, que ainda era novo, desposou uma viúva
que tinha à sua responsabilidade as sua irmãs.
O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele), perguntou-lhe:
"Porque é que não casaste com uma mulher
jovem?''
Ele respondeu:
"Ó Rassulullah (Mensageiro de Deus)! O meu pai foi
morto na Batalha de Uhud, deixando atrás de si nove filhas,
que são minhas irmãs. Por isso, escolhi tal mulher
para o meu casamento que pudesse tomar bem conta delas."
O Profeta disse: "Agiste bem." (Al Bukhari).
Estes são exemplos que a história de outras religiões
não podem apresentar, o Islam é a única
religião que honrou a mulher, desde a sua infância
até à sua morte.
b)- Como Esposa:
O casamento é a união legal
entre um homem e uma mulher para toda a vida e, por conseqüência,
não tem como objetivo ser uma ligação temporária.
É por isso que, no Islam, o "mutah", ou seja
casamento temporário, é proibido.
Assim, o casamento no Islam é compartilhado pelas duas
metades da sociedade, e os seus objetivos, para além
de perpetuar a vida humana, são o bem-estar emocional
e a harmonia espiritual. A sua base é o amor e a misericórdia.
Entre os versículos mais impressionantes do Alcorão,
sobre o casamento, está o seguinte:
''Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado companheiras
da vossa mesma espécie, para que com elas convivais;
e colocou amor e piedade entre vós. Por certo que nisto
há sinais para os sensatos.'' (Alcorão Sagrado
30:21).
Esta é uma importante definição da relação
existente entre esposo e esposa, através do casamento,
espera-se que encontrem tranqüilidade na companhia um do
outro, limitados, não somente pela relação
sexual, mas, também, pelo amor e misericórdia.
Tal descrição inclui carinho mútuo, consideração,
respeito e afeto.
Existem numerosas tradições, particularmente as
narradas por Aicha esposa do Profeta Muhammad (que a Paz e a
Bênção de Deus estejam sobre ele), que fornecem
uma clara visão interna do modo como o Profeta Muhammad
(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre
ele), tratava as suas esposas, e da forma como estas o tratavam.
O aspecto mais relevante, sobre este assunto, é o da
evidência do cuidado e respeito mútuos das relações
matrimoniais. Não existe qualquer servilismo por parte
das esposas, existem quase tantas referências ao Profeta
em levar a cabo determinadas ações de modo a agradar
às suas esposas, como as há destas a retribuírem-lhe
a atenção. O Alcorão refere-se às
esposas de uma forma geral, num outro capítulo, dizendo:
''Elas são vossas vestimentas e vós o sois delas.''
(Alcorão Sagrado 2:187).
Por outras palavras, assim como o vestuário fornece calor,
proteção, decência e elegância, também
o marido e a esposa oferecem a cada um intimidade, conforto
e proteção para não cometer adultério,
ou outro tipo de ofensa.
Tudo isto vai de encontro ao que foi retirado do Alcorão,
de que um dos mais importantes objetivos dos regulamentos que
orientam o comportamento e relações humanas, é
o de preservar a unidade familiar, de tal modo que a atmosfera
de tranqüilidade, amor, misericórdia e consciência
de Deus, se possa desenvolver e florescer para o benefício
do marido e da esposa, bem como das crianças nascidas
do matrimônio.
É evidente que, onde as outras religiões condenaram
a mulher, o Islam honrou-a. O Profeta Muhammad (que a Paz e
a Bênção de Deus estejam sobre ele) elevou
a posição da mulher e forneceu-lhe um lugar respeitável
no seio da sociedade humana.
C)- Como Mãe:
O Islam considera deveras importante a bondade
para os pais a seguir à adoração de Deus.
O Alcorão refere:
''O decreto de teu Senhor é que não adoreis senão
a Ele; que sejais indulgentes com vossos pais, mesmo que a velhice
alcance um deles ou ambos, em vossa companhia; não os
reproveis, nem os rejeiteis; outrossim, dirigi-lhes palavras
honrosas. '' (Alcorão Sagrado17:23).
Mais do que isto, o Alcorão Sagrado contém recomendações
especiais relativas ao correto tratamento a ter em relação
às mães.
''E recomendamos ao homem benevolência para com os seus
pais. Sua mãe o suporta, entre dores e dores, e sua desmama
é aos dois anos. (E lhe dizemos): Agradece a Mim e aos
teus pais, porque retorno será a Mim.'' (Alcorão
Sagrado 31:14).
Numa família muçulmana, no que diz respeito à
honra, o Islam ordenou que se honrasse a mãe mais do
que o pai, a irmã mais do que o irmão, e a filha
mais do que o filho.
Certo homem dirigiu-se ao Profeta perguntando: "Ó
Mensageiro de Deus! Quem, de entre as pessoas, é a mais
merecedora da minha companhia?" O Profeta respondeu: ''A
tua mãe". O homem retorquiu: "Depois, quem
mais?" Só então o Profeta Muhammad disse:
"O teu pai". (Bukhari e Muslim).
Ainda existe o famoso dito do Profeta Muhammad (que a Paz e
a Bênção de Deus estejam sobre ele):
"O Paraíso encontra-se aos pés das mães"
(Nassal Ibn Majah, Ibn Hanbal).
Ele também disse:
"É o generoso (em caráter) aquele que é
bom para as mulheres, e é fraco aquele que as insulta".
"Deus ordena-nos que tratemos as mulheres de uma forma
nobre, pois que elas são nossas mães, filhas e
tias."
Aspecto
Social - Direitos Assegurados Pelo Islam à Mulher
1-. Direito à
Vida:
O primeiro e fundamental direito é,
o direito à vida. A Lei Islâmica diz:
''Aquele que matar um ser humano (homem ou mulher) sem que ele
tenha cometido homicídio ou semeado corrupção
na terra, será considerado como se tivesse assassinado
toda a humanidade.'' (Alcorão Sagrado 5:32).
"E não destruas a vida que Deus tornou sagrada a
não ser em casos de justiça." (Alcorão
Sagrado 6:151).
Apesar da aceitação social do infanticídio
feminino entre as tribos árabes, o Islam proibiu este
conhecido costume, e considerou-o um crime como qualquer outro
assassinato:
''Quando as almas forem reunidas, quando a filha, sepultada
vida, for interrogada: Por que delito foste assassinada?'' (Alcorão
Sagrado 81:7-9).
Criticando a atitude de tais pais que rejeitam crianças
do sexo feminino, Deus diz:
"Quando a algum deles é anunciado o nascimento de
uma filha, o seu semblante se entristece e fica angustiado.
Oculta-se do seu povo, pela má notícia que lhe
foi anunciada: deixá-la-á viver, envergonhado,
ou a enterrará viva? Quem péssimo é o que
julgam! '' (Alcorão Sagrado 16:58-59).
Além disso, o Islam requer, para ela, um tratamento amável
e justo. Entre os dizeres do Profeta Muhammad (que a Paz e a
Bênção de Deus estejam sobre ele), citamos
o seguinte:
"Qualquer um que tenha uma filha e que não a enterra
viva, que não a insulta, nem favorece o seu filho em
detrimento da sua filha, Deus fá-lo-á entrar no
Paraíso." (Ibn Hanbal).
2 – Individualidade
No Islam, a mulher não é produto
do diabo ou a semente do mal. No Islam, o homem não ocupa
o lugar de senhor absoluto da mulher, que, sem outra alternativa,
tem que se render ao seu domínio. No Islam só
nos submetemos a Deus e só a Ele nos rendemos e prestamos
contas. No Islam, ao contrário de outras crenças
e sistemas religiosos, a mulher tem alma e é dotada de
qualidades espirituais. O Islam não considera Eva a única
responsável pelo pecado original de toda a humanidade
e, por consequência, pelo sacrifício na cruz de
Jesus(swas) para redimir a humanidade do pecado original. O
Alcorão esclarece que tanto Adão como Eva erraram,
ambos foram tentados, ambos pecaram e ambos foram perdoados
por Deus após ter manifestado arrependimento.
Allah salienta no Alcorão que Adão foi o único
responsável por seu erro.
"Havíamos firmado o pacto com Adão, porém,
ele esqueceu-se dele; e não vimos nele firme resolução"
(Alcorão 20:115)
"E ambos comeram (os frutos) da árvore, ... Adão
desobedeceu a seu Senhor e foi seduzido. Mas logo o seu Senhor
o elegeu, absolvendo-o e encaminhando-o." (Alcorão
20:121-122)
Portanto, não há nada na doutrina islâmica
ou no Alcorão que considere a mulher como responsável
pela expulsão de Adão do Paraíso ou pela
miséria da humanidade.
A mulher na lei islâmica é igual ao homem. Ela
é tão responsável por seus atos como o
homem o é. Seu testemunho é solicitado e valido
na corte. Suas opiniões são buscadas e seguidas,
o Profeta (sas) consultou sua esposa, (Um Salama) sobre uma
das mais importantes questões para a comunidade muçulmana.
O Alcorão menciona, especificamente, que aqueles que
buscavam informação das esposas do Profeta podiam
fazê-lo, desde que atendidas determinadas condições.
"... E se desejardes perguntar algo a elas (suas esposas),
fazei-o detrás de cortinas." (Alcorão 33:53)
Na medida em que perguntas exigem respostas, as Mães
dos crentes ofereciam fatwas àqueles que perguntavam
e narravam ahadiss a todo aquele que desejasse transmiti-los.
Além do mais, as mulheres estavam acostumadas a questionar
o Profeta (sas) mesmo na presença dos homens. Nem elas
ficavam constrangidas por se fazerem ouvir nem o Profeta as
impedia de indagar. Mesmo no caso de Omar, quando ele foi desafiado
por uma mulher durante o seu sermão no minbar, ele não
retrucou, pelo contrário, admitiu que ela estava certa
e ele errado e disse: "Todo mundo é mais instruído
do que Omar."
Um outro exemplo alcorânico de uma mulher falando em público
é o mencionado no versículo 28:23. Além
desse, o Alcorão relata a conversa entre Salomão
e a Rainha de Sabá, assim como entre ela e seus subordinados.
Todos esses exemplos demonstram que as mulheres podem expressar
suas opiniões publicamente porque o que quer que tenha
sido prescrito a elas antes de nós está prescrito
para nós, a não ser que seja unanimente rejeitado
pela doutrina Islâmica.
Portanto, a única proibição é a
mulher se comportar de modo a se insinuar ou tentar o homem.
Isto está expresso no Alcorão, onde Allah diz:
"Ó esposas do Profeta, vós não sois
como as outras mulheres; se sois tementes, não sejais
insinuantes na conversação, para evitardes a cobiça
daquele que possui morbidez no coração, e falai
o que é justo." (Alcorão 33:32)
Assim, o que é proibido é o falar insinuante que
induz aqueles que têm os corações doentes
a se comportarem de forma inadequada. Mas, isto não quer
dizer que toda conversa com as mulheres seja proibida, porque
Allah completa o versículo
"... mas falai o que é justo." (Alcorão
33:32)
O homem é testado mais por suas bênçãos
do que por suas tragédias.
E Allah diz:
"... e vos provaremos com o mal e com o bem." (Alcorão
21:35)
Em apoio a este argumento Allah diz no Alcorão que as
duas maiores bênçãos da vida, riqueza e
filhos, são provas.
"E sabei que tanto vossos bens como vossos filhos são
para vos pôr à prova" (Alcorão 8:28)
Uma mulher, não obstante as bênçãos
que ela espalha em seu ambiente, também pode ser uma
prova, posto que ela pode desviar um homem de sua obrigação
para com Allah. Assim, Allah cria a consciência de como
as bênçãos podem ser extraviadas a ponto
de se tornarem maldições. Os homens podem usar
suas esposas como uma desculpa para não cumprir a jihad
ou para fugir do sacrifício de produzir riqueza. No Alcorão
Allah avisa:
"Ó fiéis, em verdade, tendes adversários
entre as vossas mulheres e os vossos filhos" (Alcorão
64:14)
A advertência é a mesma para aqueles abençoados
com riqueza e descendência abundantes (63:9). Além
disso, o hadiss diz: "Por Deus não receio a pobreza
para vós, mas sim que o mundo vos seja abundante como
o foi para aqueles antes de vós e assim que luteis pela
abundância da mesma forma que aqueles antes de vós
lutaram e assim que sejais destruídos assim como eles
foram destruídos." Este hadiss não quer dizer
que o Profeta encorajasse a pobreza.
A pobreza é uma maldição contra a qual
o Profeta buscava refúgio em Allah. Ele não pretendia
que sua Ummah se privasse da riqueza e da abundância-
"O melhor da boa riqueza é para o justo." As
mulheres também são um presente para o justo,
porque o Alcorão diz que o muçulmano e a muçulmana,
o crente e a crente, são ajuda e conforto um para o outro,
aqui e no além. O Profeta não condenou as bênçãos
que Allah propiciou para a sua Ummah. Antes pelo contrário,
ele desejava afastar os muçulmanos e a sua Ummah dos
caminhos escorregadios, cujo fosso insondável é
uma lama de crueldade e desejo. A mulher é reconhecida
no Islam como a parceira completa do homem e igual a ele na
procriação da humanidade. Ele é o pai e
ela é a mãe e ambos são essenciais para
vida. O papel da mulher não é menos vital do que
o do homem. Nesta parceria as partes são iguais em cada
aspecto, têm direitos e responsabilidades iguais e são
dotadas das mesmas qualidades, seja homem ou mulher. No Islam,
a mulher se iguala ao homem ao ser responsável por seus
atos. Ela possui uma personalidade independente, dotada de qualidades
humanas e digna de aspirações espirituais. Sua
natureza humana não é nem inferior nem superior
à do homem. Homens e mulheres têm as mesmas obrigações
e responsabilidades sociais, morais e religiosas e devem enfrentar
a consequência de seus atos.
Aqueles que praticarem o bem, sejam homens ou mulheres, e forem
fiéis, entrarão no Paraíso e não
serão defraudados, no mínimo que seja. (Cap. 4:124)
No Islam, a mulher é independente economicamente, uma
vez que ela pode ser proprietária, com direito a administrar
seus bens e ninguém, pai, marido ou irmão, tem
ingerência no trato de questões financeiras.
3. Educação
e instrução.
Ela se iguala ao homem na busca pelo conhecimento
e educação. Quando o Islam conclama os muçulmanos
para a busca do conhecimento, ele não faz distinção
entre os sexos. A educação não é
somente um direito, mas uma responsabilidade de todos os homens
e mulheres porque essa é a melhor forma de se aproximar
de Allah (swt). Ela passa a ter os seus horizontes abertos,
e a sua fé passa a ser uma fé consciente, enraizada
na mente e no coração. A mulher é a base
da sociedade, pois ela é a mãe "é
a melhor das escolas"; é com ela que aprendemos
tudo o que se refere aos princípios morais e boas maneiras.
Logo, se a mãe é sábia e virtuosa, seus
filhos assim crescerão, e a sociedade será consolidada
na verdade e na virtude, Mohammad, há 14 séculos
atrás, foi muito claro ao afirmar que a busca do conhecimento
é uma obrigação para todo o muçulmano,
seja homem ou mulher. Durante muito tempo foi negado à
mulher o direito de expor suas opiniões. Em Coríntios
I 14:34/35, São Paulo diz: “Como em todas as congregações
de santos, as mulheres devem permanecer caladas nas igrejas.
Não é permitido a elas falar e devem ser submissas,
como a lei diz. Se elas quiserem perguntar sobre alguma coisa
que perguntem a seus maridos em casa, porque é vergonhoso
para uma mulher falar nas igrejas.” Em Timóteo
I 2:11-14, ele escreveu: “Eu não permito a uma
mulher ensinar ou ter autoridade sobre um homem; ela deve ser
calada, porque Adão foi feito primeiro, e depois Eva.
E Adão não foi o que perdeu, foi a mulher que
perdeu e se tornou pecadora”.
O Islam entende que uma mulher não pode se instruir se
não lhe é permitido falar. O Islam entende que
uma mulher não pode crescer intelectualmente se ela é
obrigada a um estado de completa submissão. O Islam entende
que uma mulher não tem vida própria se sua única
fonte de informação é o marido em casa.
4. Liberdade de Expressão:
Por isso, no Islam ela tem direito à liberdade
de expressão, tanto quanto o homem. Suas opiniões
são levadas em consideração e não
podem ser desrespeitadas sob a alegação de serem
provenientes de uma mulher. Há diversos relatos a respeito
da participação efetiva das mulheres, não
só expressando sua opinião como também
questionando e participando de discussões sérias
com o Profeta. A propósito, o Alcorão tem a seguinte
passagem: Em verdade, Deus escutou a declaração
daquela que discutia contigo, acerca do marido, e se queixava
em oração a Deus. Deus ouviu vossa palestra, porque
Ele é Oniouvinte.
Aqueles, dentre vós, que repudiam as suas mulheres através
do zihar, saibam que elas não são suas mães.
Estas são as que os geraram; certamente, com tal juramento,
eles proferiram algo iníquo e falso; porém, Deus
é Absolvedor, Indulgentíssimo. (Cap. 58:1-2)
Este relato se refere Khawlah, esposa de Auss Ibn Assámet,
que havia se divorciado dela, seguindo um costume idólatra,
apesar de ele ser muçulmano. O expediente era conhecido
como zihar e consistia em dizer para a esposa que a partir daquele
momento ela era considerada sua mãe. Isto liberava o
marido de qualquer responsabilidade conjugal sem dar, no entanto,
liberdade para ela abandonar o lar ou contrair novo matrimônio.
Tendo ouvido estas palavras de seu marido, a mulher foi ter
com o Profeta, na esperança de que ele resolvesse o seu
caso. O Profeta era de opinião que ela deveria ser paciente,
desde que parecesse que não havia outro caminho. No entanto,
ela continuou questionando Mohammad quando veio a revelação
que constitui os versículos acima. Portanto, como vemos,
a mulher no Islam tem o direito de argumentar, mesmo que seja
com o Profeta do Islam. Ninguém tem o direito de instruí-la
a se calar.
Vida na participação de Direito Em primeiro lugar,
deve ser esclarecido que o Islam entende que o papel da mulher
na sociedade como mãe e esposa, é o mais sagrado
de todos. Nenhuma babá ou empregada pode substituir a
mãe no seu papel de educadora de uma criança.
A regra geral na vida política e social é a participação
e a colaboração de homens e mulheres nas questões
públicas. O Islam não exige, como algumas pessoas
pensam, que a mulher fique confinada em sua casa até
a morte. Em toda a história do Islam há relatos
suficientes que comprovam a participação da muçulmana
nas questões públicas, nas funções
administrativas, na erudição e ensinamentos e
mesmo nos campos de batalha, ao lado do Profeta.. Não
há no Alcorão, ou nas sunas do Profeta, qualquer
texto que impeça a mulher de exercer qualquer posição
de liderança, exceto na condução da prece,
por motivos óbvios que serão vistos mais adiante,
e na liderança do estado. Um chefe de estado não
é apenas decorativo. Ele exerce funções
inerentes ao cargo, viaja, negocia com outras autoridades, participa
de encontros confidenciais com tais autoridades. São
atividades, muitas das vezes, não são condizentes
com as diretrizes traçadas pelo Islam para a interação
entre os sexos. Registros históricos comprovam que as
mulheres participavam da vida pública em igualdade de
condições com os muçulmanos, principalmente
em tempos de emergência. Elas combatiam nas guerras, cuidavam
dos feridos, preparavam suprimentos, ajudavam os guerreiros,
consultavam diretamente o Profeta a respeito de assuntos pessoais
e até íntimos, etc. Jamais houve qualquer barreira
que impedisse a integração da mulher na sociedade
islâmica. Jamais foram consideradas criaturas desprovidas
de alma ou de qualquer mérito. O aconselhamento, o ensinamento
religioso, a educação espiritual são atividades
exercidas pelas mulheres desde os primórdios do Islam.
5) Direito ao Emprego:
Quanto ao direito da mulher de procurar emprego,
deveria tornar-se claro que o Islam vê o seu papel na
sociedade como mulher e mãe, um papel sagrado e essencial.
Nem as empregadas, nem as amas podem substituir a mãe
no seu papel de educadora de uma criança. Tal papel,
tão nobre e vital, que afeta largamente o futuro das
nações, não pode ser levado de uma forma
tão "leviana".
Não obstante, não existe qualquer regra no Islam
que proíba a mulher de procurar o emprego sempre que
para tal haja necessidade, tendo em conta as normas islâmicas
de castidade, e assegurando-se que estas estão a ser
respeitadas e, especialmente, em cargos que se coadunem com
a sua própria natureza, onde a sociedade dela mais necessita.
Mesmo então, o Islam ensina o princípio da divisão
do trabalho, destina trabalho algo enérgico e duro, fora
da casa, ao homem, tornando-o responsável pela manutenção
da família. Olha para o lar como a principal preocupação
da mulher, delegando-lhe o cuidado da casa, a responsabilidade
da educação e a vigilância das crianças
um encargo que forma o mais importante item na tarefa da construção
de uma nação. E ambos devem trabalhar em espírito
de harmonia simpatia e amor. Ao fim e ao cabo, ambos têm
a sua parte a desenvolver na vida, sendo a da mulher mais relevante
tanto em importância como em nobreza. Pois que, se o homem
se gaba de ganhar dinheiro, fabricar computadores, aviões,
foguetes e mísseis, a mulher deverá, logicamente,
silenciá-lo ao lembrar-lhe que ela é a parceira
indispensável no criação do próprio
Homem. Assim sendo, torna-se evidente que o aspecto econômico
da mulher é mais seguro no Islam do que em qualquer outra
religião.
O Seu Dever Sagrado
A mulher, na verdadeira acepção Islâmica,
é um relicário de santidade em contraste com o
Cristianismo, onde ela é olhada como fonte do mal. Com
uma só palavra o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele) elevou-a ao mais alto pedestal, quando
disse: ''A mulher é a rainha da casa" e decerto
"O Céu encontra-se sob os pés da tua mãe".
Sob os ensinamentos do Cristianismo, se a primeira mulher (Eva)
trouxe o Inferno eterno, no Islam ela abriu a porta do Paraíso!
Durante os últimos anos, tem havido luta permanente entre
os dois sexos, relativamente aos seus respectivos direitos e
obrigações; mas, poderão os advogados do
Movimento Modernista reivindicar melhor posição
para a mulher, do que já lhe foi concedida pelo Islam?
O Mundo deve saber e aceitar a verdade de que nenhuma outra
fé, ou cultura, deu à mulher tantos direitos e
preservou a sua honra e castidade, como o Islam o fez. Pierre
Crabbites, no seu artigo sobre "Coisas que Muhammad fez
pela mulher'' observa:
''A mulher muçulmana é uma força canalizadora,
modelada por Muhammad há 13 séculos atrás,
que assegurou às mães, mulheres e filhas do Islam,
uma ordem e dignidade que ainda não está geneticamente
assegurada às mulheres, pelas leis do Ocidente.''.
6- Direito de Posse
Independente:
De acordo com a Lei islâmica ,o Islam
decretou o direito da Mulher ao seu dinheiro, aos seus bens
de raiz, ou às suas outras propriedades. O Islam garante
à mulher direitos iguais para contratar, para assumir
empreendimentos, para ter ganhos e posses independentemente
Este direito não é dependente de ela ser solteira,
ou casada. Ela retém todos os direitos para comprar,
vender, amortizar, ou alugar qualquer das suas propriedades.
A este respeito, o Alcorão observa:
''Não ambicioneis aquilo com que Deus agraciou uns, mais
do que aquilo com que (agraciou) outros, porque aos homens lhes
corresponderá aquilo que ganharem; assim, também
as mulheres terão aquilo que ganharem. Rogai a Deus que
vos conceda a Sua graça, porque Deus é Onisciente.''
(Alcorão Sagrado 4:32).
É por causa deste direito de posse independente, que
ambos os mandamentos de Zakat e de Hajj se tornaram obrigatórios
para as mulheres que possam ter recursos para esses efeitos.
. Somente no século passado a Europa reconheceu o direito
da mulher de contrair obrigações. No Islam, vida,
propriedade, honra são tão sagrados para ela quanto
para o homem. Se ela cometer qualquer falta sua pena não
é maior ou menor do que para o homem, em casos semelhantes,
estabelecida pela shariah islâmica. Conta a tradição
que certa vez alguém veio ter com o Profeta solicitando
a sua intercessão para a filha de uma autoridade que
havia sido apanhada praticando roubo. O Profeta então
respondeu que ainda que fosse Fátima, sua filha muito
amada, que estivesse naquela situação, ele não
poderia impedir que a lei fosse aplicada. No Islam, a lei é
igual para todos e não exime ninguém em razão
de sua posição social. Estes direitos não
estão estabelecidos de uma forma apenas retórica.
O Islam tomou medidas para salvaguardá-los e colocá-los
em prática como artigos de fé. O Islam não
tolera o preconceito contra a mulher ou a discriminação
entre os sexos. O Islam reprova todo aquele que considera a
mulher inferior ao homem.
7- Direito à
Herança
Além do reconhecimento da mulher
como um ser independente, considerada como essencial para a
sobrevivência da humanidade, o Islam deu à mulher
o direito à herança herança e de dispor
dos seus bens como quiser. Diz Allah (swt), o Altíssimo:
*Não ambicioneis aquilo com que Allah (swt) agraciou
uns, mais do que aquilo com que (agraciou) outros, porque aos
homens lhes corresponderá aquilo que ganharem assim,
também as mulheres terão aquilo que ganharem.
Rogai a Allah (swt) que vos conceda a Sua graça, porque
Allah (swt) é Onisciente.* (4: 32). Este direito dado
a mulher no estatuto muçulmano a 1400 anos atrás,
só foi conquistado pela mulher no Brasil em 1962, quando
teve os direitos de assinar contratos e receber herança
se a autorização do marido. Na Inglaterra, só
em 1882 lhe foi assegurado o direito de dispor do seu dinheiro.
. Antes do Islam, ela não só era privada desta
participação como era considerada propriedade
do homem. Seja ela esposa ou mãe, irmã ou filha,
a mulher tem participação na herança, e
esta participação depende do seu grau de relação
com o morto e o número de herdeiros. Esta quota é
dela e ninguém tem poder para negar-lhe esta participação,
ainda que o morto quisesse deserdá-la. Qualquer um pode,
legalmente, dispor de 1/3 dos seus bens, não afetando,
assim, o direito de herdeiros, sejam homens ou mulheres. Em
alguns casos, o homem recebe 2 quotas na herança ao passo
que a mulher fica com uma. Isto não é sinal de
preferência ou supremacia do homem sobre a mulher. Eis
algumas razões que justificam a medida: No Islam o homem
assume as responsabilidades financeiras da completa manutenção
de sua esposa e família. É sua obrigação
perante a lei assumir todos os encargos financeiros e manter
seus dependentes adequadamente. Isto significa que ele herda
mais, mas ele é responsável financeiramente por
outras mulheres: filhas, esposas, mãe e irmãs.,em
alguns casos ele é responsável por seus parentes
com certas necessidades, especialmente os do sexo feminino.
Esta responsabilidade não é nem, renunciada, nem
reduzida, por causa da saúde da sua mulher, ou devido
ao seu acesso a alguma remuneração proveniente
do trabalho, renda, lucro, ou de outros meios legais.
. A mulher no Islam está protegida e segura do ponto
de vista material. Se ela é esposa, o marido é
o provedor. Se ela é mãe, cabe ao filho o encargo.
Se ela é filha, o pai se reponsabiliza por sua manutenção,
se ela é irmã, o irmão, e assim por diante.
Quando ela é sozinha, não tem ninguém,
é evidente que não tem herança a ser recebida
e ela passa a ser responsabilidade da sociedade como um todo,
cabendo, portanto, ao Estado, prover sua mantença através
de ajuda, arrumando trabalho para que ela ganhe seu próprio
sustento.
O Islam garantiu, o direito à herança de seus
pais, parentes, marido e descendentes. O Alcorão diz:
''Aos filhos varões corresponde uma parte do que tenham
deixado os seus pais e parentes. Às mulheres também
corresponde uma parte do que tenham deixado os pais e parentes,
quer seja exígua ou vasta, uma quantia obrigatória.
'' (Alcorão Sagrado 4:7).
Aqui, a partilha é absolutamente dela e ninguém
pode reclamar alguma coisa da mesma, inclusive o seu pai e os
seus parentes; nem mesmo o seu marido. A sua parte é,
na maioria dos casos, metade da parte do esposo, sem qualquer
implicação de que ela seja inferior ao homem.
Esta variação nos direitos hereditários
é apenas consistente com as variações nas
responsabilidades financeiras do homem e da mulher, de acordo
com a Lei Islâmica.
A mulher, por outro lado, está muito mais segura economicamente,
e encontra-se muito menos sobrecarregada em relação
a reclamações sobre as suas riquezas. Os seus
bens, pré e pós matrimoniais, não são
transferidos para o seu marido, e ela até mantém
o seu nome de solteira. Após o casamento, ela não
tem qualquer obrigação de gastar dos seus bens,
ou dos seus rendimentos, seja com ela, seja com sua família.
A metade da partilha dos bens que a mulher herda pode, deste
modo, ser considerada generosa, visto que se destina só
para ela.
Para elucidar este ponto, tomemos um exemplo: um pai de dois
filhos - um rapaz e uma moça - faleceu e deixou 300 reais.
De acordo com a Lei Islâmica da Herança, na ausência
de outros herdeiros legais, a filha será titular de 100
reais, e o filho de 200 reais. Quando atingirem a maioridade
e pensarem em casar, o jovem rapaz será obrigado a pagar
um dote à sua mulher. Neste caso, ele terá que
gastar parte do dinheiro da sua herança, e fica, ainda,
obrigado a manter a sua família e a incorrer em todas
as despesas neste sentido.
Em relação à jovem, (irmã do jovem
rapaz referido) quando se casar, será intitulada a receber
um dote de seu marido; previamente ela já tinha herdado
100 reais (da herança do pai falecido) e, agora, receberá
mais algo proveniente do dote do seu marido, perfazendo um total
bastante razoável. E, nunca será obrigada a gastar
nada do seu dinheiro, por muito rica que ela seja, uma vez que
o seu marido é responsável por a manter e aos
seus filhos, enquanto ela for sua esposa. Será contraditório
afirmar que o seu dinheiro aumentou, enquanto o do seu irmão
diminuiu, ou desapareceu Completamente? Então, quem realmente
beneficiou mais da herança? O filho, ou a filha?
Dificilmente se, poderá negar que, um exame minucioso
à Lei Islâmica da herança, dentro do estudo
geral dos princípios da Chari'ah, não só
revela justiça mas, também, uma certa abundância
de compaixão pela mulher.
Conclusão: Quando o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele) tomou posse do Ofício Profético
em 610 (Era Cristã), a maioria das nações
Européias debatiam arduamente a natureza da mulher:
"Será que ela era realmente humana? Terá
alma? Poderá Ter fé? Poderá ela adorar?
Poderá ela ser recompensada por Deus da mesma forma que
o homem? Poderá ela ser admitida no Paraíso? Poderá
ela possuir bens? Poderá ela ter direito à herança?
Em resumo, deverá ela ser tratada como um ser humano,
ou apenas como um boneco nas mãos do homem?"
Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam
sobre ele) o Guia da humanidade, que numa época em que
nenhum país, nenhum sistema, e nenhuma religião
dava qualquer direito, ou respeito à Mulher, solteira
ou casada, esposa ou mãe; que num país onde o
nascimento de uma filha era considerado uma calamidade, assegurou
à mulher direitos que, à mulher Ocidental, no
século XX, são concedidos de uma forma relutante
e sob pressão, pelo Ocidente "civilizado";
e isso merece a gratidão da humanidade.
Se Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus
estejam sobre ele) nada mais tivesse feito do que emancipar
a mulher, a sua reivindicação para ser o maior
benfeitor da humanidade teria sido incontestável. Não
será, então, malícia por parte de alguns
críticos Ocidentais para com o salvador da espécie
feminina (que devolveu à mulher a sua posição
devida na sociedade), tornando-o como seu inimigo?
Dizemos isto porque, mesmo hoje, no século XX, como no
ano 610 quando Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele) tomou a seu cargo o Ofício
Profético, as pessoas desviadas do Ocidente continuam
a proferir pensamentos maléficos sobre o Islam.
8-Direito
ao "Mahr" (Dote):
Para além de todas as precauções
para a sua proteção na altura do casamento, o
Islam decretou, especificamente, que a mulher tem o pleno direito
ao seu "mahr" (dote), um presente matrimonial que
lhe é oferecido pelo seu marido, sendo incluído
no contrato nupcial, e que tal posse não se transmite
ao seu pai, irmão, ou esposo.
O conceito de "mahr'' no Islam não é nem
um preço atual, nem um preço simbólico
da mulher (como, foi o caso em certas culturas), mas será,
antes de mais, um presente simbolizando de amor e afeto.
O "mahr" no Islam não é como o velho
dote Europeu, que era ofertado por um pai à filha na
altura do casamento, tornando-se propriedade do futuro marido.
Nem o "mahr" Muçulmano é semelhante
ao "preço" da nora Africana, que era pago pelo
noivo ao pai da noiva, como forma de pagamento ou compensação.
Pelo contrário, o "mahr" Muçulmano é
um presente matrimonial do noivo à noiva, ficando este
presente como exclusiva propriedade dela.
O Alcorão diz:
''Concedei os dotes que pertencem às mulheres.'' (Alcorão
Sagrado 4:4).
9–
Privilégios
A mulher no Islam usufrui de certos privilégios.
Durante o período menstrual ela está isenta das
preces e do jejum. Ela está isenta, também, de
todas as responsabilidades financeiras. Ela não precisa
trabalhar ou dividir com o marido as despesas domésticas.
Todos os bens de família que ela leva para o casamento
são seus e o marido não tem qualquer direito sobre
aqueles pertences. Cabe notar que somente no século passado
a Europa reconheceu o direito de propriedade à mulher
casada, em igualdades de condições com as solteiras,
viúvas e divorciadas, com a Lei da Propriedade da Mulher
Casada, de 1879. Nenhuma mulher casada é obrigada a gastar
um tostão de seus bens para manter a casa. Em geral,
a muçulmana tem garantido o sustento em todas as fases
de sua vida, seja como filha, esposa, mãe ou irmã.
Como filha e irmã ela tem garantido o sustento pelo pai
ou irmão respectivamente. Ela também é
livre para trabalhar, se assim o quiser, e participar com o
seu trabalho das responsabilidades familiares. Não ohá
no Alcorão ou na Suna qualquer texto explícito
que categoricamente proíba a muçulmana de procurar
um emprego lícito. Inclusive, algumas podem ser forçadas
a buscar emprego a fim de sobreviverem, principalmente em países
onde inexistam medidas que assegurem a estabilidade financeira
das viúvas ou divorciadas. A mulher muçulmana
foi privilegiada por Allah (swt) em relação aos
pais, pois a posição da mãe é três
vezes superior a do pai. O profeta disse: " O paraíso
jaz aos pés das mães ". Portanto, a obediência
aos pais é uma obrigação do muçulmano,
principalmente a mãe, pois ela é a base da família
e ela sofreu as dores do nosso parto, de nos educar e sofrer
para o nosso bem. Assim também, o Islam respeita a mulher
como filha e ordena que pai e mãe zelem pela educação
das meninas e prometeu o paraíso para o muçulmano
que educar uma filha e a ensinar os bons modos islâmicos
após terem difundido na Arábia pré-islâmica
que ter uma filha era motivo de vergonha e desonra. Diz o Alcorão
Sagrado: *E atribuem filhas a Allah (swt)! Glorificado seja!
E anseiam , para si, somente o que desejam. Quando a algum deles
é anunciado o nascimento de uma filha, o seu semblante
se entristece e fica angustiado. Oculta-se do seu povo, pela
má notícia que lhe foi anunciada: deixa-la-á
viver, envergonhado, ou a enterrará viva? Quem péssimo
é o que julgam!* (16:57-59)
10 . Direito Quanto
ao casamento.
A mulher tem o direito de escolher com quem
irá casar e também manter o seu nome de solteira
após o casamento, pois o nome é parte da identidade
e da personalidade da pessoa e, uma das formas de aprisionar
a mulher e colocá-la sob o domínio do homem, foi
fazê-la adotar o nome do marido após o casamento,
como um objeto que é passado de uma pessoa para a outra.
A primeira mulher a ir contra essa agressão foi Lucy
Stones, em 1885.
De acordo com a Lei Islâmica, a mulher não pode
ser forçada a casar sem o seu consentimento, não
é legal que um tutor force uma moça adulta a casar-se.
Ninguém, nem mesmo o pai, ou o soberano, pode, legalmente,
casar uma mulher adulta sem a permissão desta, seja ela
virgem, ou divorciada.
Ibn 'Abbas narrou que uma jovem dirigiu-se ao Profeta Muhammad
(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre
ele) e relatou que o seu pai a tinha forçado a casar-se
sem o seu consentimento. O Profeta deu-lhe a escolher entre
aceitar o casamento, ou invalidá-lo. (Ibn Hanbal).
Para além de todas as prevenções relativas
à sua proteção durante o tempo do matrimônio,
o Islam decreta, especificadamente, que a mulher tem todo o
direito ao seu "Mahr" (dote). As regras para a vida
de casado no Islam são claras e encontram-se em harmonia
com a verdadeira natureza humana. No tocante aos aspectos psicológico
e fisiológico do homem e da mulher, cada um possui iguais
direitos e exigências sobre o outro, à exceção
de um tipo de responsabilidade o do chefe. Este é um
assunto natural de qualquer vida em comum, e que é consistente
na natureza do homem. Por isso, o Alcorão declara:
"E elas (as mulheres) têm direitos sobre eles, como
eles os têm sobre elas, condignamente; mas os maridos
conservam um grau (de primazia) sobre elas.'' (Alcorão
Sagrado 2:228).
Tal grau é "Qiwamah" (a manutenção
e a proteção), isto refere-se à diferença
natural entre os sexos, que sujeita o sexo fraco à proteção.
Tal não implica qualquer tipo de superioridade, ou de
vantagem, perante a lei. Todavia, o papel masculino de chefe
em relação à sua família, não
significa a prepotência do marido sobre a sua esposa.
Para além dos seus deveres básicos como esposa,
existe o direito que é, vivamente, recomendado pelo Profeta
Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam
sobre ele) e vem sublinhado no Alcorão, o tratamento
amistoso e companheirismo.
''Harmonizai-vos entre elas, pois se as menosprezardes, podereis
estar depreciando seres que Deus dotou de muitas virtudes.''
(Alcorão Sagrado 4:19).
O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele) disse:
"O Melhor entre vós é aquele que for melhor
para a sua família; e eu sou o melhor entre vós
para a minha família."
"Os Crentes mais perfeitos são os melhores em conduta,
e os melhores de entre vós são aqueles que são
melhores para as suas esposas." (Ibn Hanbal).
"Quanto mais cívico e amistoso for um Muçulmano
para com a sua esposa mais perfeita é a sua fé.
" (Tirmidhi).
''A mulher" - disse ele - ''É a rainha da sua casa."
Para o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele) a mulher não é "um
instrumento do Demônio", mas, sim, uma "Muhsanah"
(uma fortaleza contra Satanás).
Antes do advento do Islam, a união matrimonial do homem
e da mulher tinha sido vista com desaprovação,
tendo sido considerada como depreciativa para o homem em algumas
religiões. Mas o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele) deitou abaixo todas estas considerações,
de uma vez por todas:
"O casamento está no meu destino, e quem declinar
este meu caminho, não é meu apoiante (ou seja
não é meu seguidor).'' (Bukhari e Muslim).
Assim como é reconhecido o direito à mulher de
decidir sobre o seu casamento, também é reconhecido
o seu direito a procurar finalizar um matrimônio mal sucedido.
11-.Direito ao Divórcio.
Apesar de, no Islam, o casamento não
ser uma relação temporária, sendo considerado
para durar toda a vida, a sua dissolução será
inevitável se ele falhar ao servir os seus propósitos.
É nessa altura que surge o divórcio.
Devemos esclarecer que, no Islam, o divórcio é
o último recurso quando todos os esforços conciliatórios
falharem. A propósito do divórcio, o Profeta Muhammad
(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre
ele) avisou com veemência:
"De todas as coisas legais, o divórcio é
a mais detestável aos olhos de Deus. "
O Islam não confina o direito ao divórcio só
ao homem ou à mulher, se a mulher não se sente
segura, ou feliz com o seu marido, ou se este é cruel
para ela, ou se tornou impossível viver a o seu lado,
ela tem o direito de procurar o divórcio através
de um Tribunal Muçulmano, sendo tal tipo de divórcio
denominado de "Khul'ah". Em qualquer dos casos, mesmo
que o divórcio seja concedido, ela deve ser tratada amistosamente.
O Alcorão diz:
''O divórcio revogável só poderá
ser efetuado duas vezes. Depois, tereis de conservá-las
convosco dignamente ou separar-vos com benevolência. Está-vos
vedado tirar-lhes algo de tudo quanto lhes haveis dotado'' (Alcorão
Sagrado2:229).
Islam garantiu aos casais o direito ao divórcio. Aqui
cabem algumas explicações a respeito do assunto,
uma vez que também o divórcio é objeto
de falsas interpretações. Não é
verdade que a qualquer tempo basta um marido dizer à
sua esposa “Eu quero o divórcio” e pronto,
ele está divorciado, largando a mulher (e provavelmente
os filhos) à própria sorte, em menos de 1 minuto.
O sistema de divórcio no Islam é o mais justo
que existe. Se o casal decide se separar, o marido pede o divórcio
dizendo “Eu quero o divórcio”. A partir de
então, começa um tempo de espera que dura 3 períodos
menstruais para que seja certificado que a mulher não
está grávida. Este períodoo permite ao
casal ter um tempo para pensar sobre o que estão fazendo
e se é isso mesmo que eles querem. Durante este período,
o marido é obrigado a alimentar, vestir e abrigar a esposa.
Não há ninguém, nem mesmo advogado, envolvido
nesta questão. Findo os três meses, e comprovado
que a mulher não está grávida, o divórcio
se consuma. Se, por um acaso, a mulher estiver grávida,
o marido é obrigado a prover a ex-esposa do necessário
até o período do desmame, normalmente 2 anos.
Como podemos observar, não há como comparar as
diferentes abordagens, uma vez que o comum no ocidente, pelo
menos no Brasil, é a mulher sair sempre lesada de uma
separação, sem garantia de direitos mínimos
para a sua sobrevivência. Pior, até bem pouco tempo
atrás, ela entrava nessa sociedade conjugal com seus
próprios bens, que acabava perdendo pelo instituito da
comunhão universal de bens, no caso de separação.
Somente em 1977, com a lei do divórcio é que a
dissolução do casamento favoreceu um pouco mais
a mulher, com a introdução do regime da comunhão
parcial de bens. Mas, ainda assim, prevalece o conceito de que
a obrigação alimentar devida pelo ex-marido fica
diretamente relacionada à “conduta moral”
da esposa, o que no Brasil, como bem sabemos, quer dizer, essa
mulher não pode se casar de novo.
Por outro lado, só a partir de 1962, com a Lei 4.121,
conhecida como o Estatuto da Mulher Casada, é que a mulher
brasileira alcançou sua capacidade jurídica plena.
Até então, ela era considerada relativamente incapaz,
do ponto de vista jurídico.
O casamento no Islam é uma bênção
santificada, que não deve ser quebrado, exceto por razões
relevantes. Os casais são instruídos a procurar
salvar a instituição do casamento, por todos os
meios possíveis. O divórcio não é
comum, a não ser que não haja outra solução.
Em outras palavras, o Islam reconhece o divórcio mas
não o encoraja. O Islam dá à mulher muçulmana
o direito de pedir o divórcio pois reconhece que ela
não pode ser refém de um mau marido. Finalmente,
é bom lembrar que o divórcio só muito mais
tarde foi introduzido na Europa e, no Brasil, há apenas
muito pouco tempo, através da Lei nº 65l5, de 26.12.77,
do Sen. Nelson Carneiro.
12-Vida sexual
O Islam garantiu a mulher o direito ao prazer
sexual, direito que a ocidental só conquistou após
a revolução sexual, pois antes a mulher que demonstrava
sentir prazer era considerada prostituta. No Islam é
diferente, é estabelecido o casamento como único
entre homem e mulher e, dentro das regras do casamento o profeta
Muhammad (sallallaahu `alayhi wa sallam) disse: "Não
tenhais relações com vossas esposas como os animais.
Que haja entre vós uma ligação! Perguntaram-lhe:
Que ligação é essa? Então disse:
O beijo e a conversa.
O Islam não nega, em hipótese alguma, a sexualidade
do ser humano. O Islam não advoga a supressão
do anseio sexual através do celibato ou do monasticismo.
O homem é dotado por seu Criador de impulsos que o impelem
às várias atividades que garantem a sua sobrevivência.
O principal objetivo do sexo é a própria espécie.
O Islam reconhece que o ser humano é tomado por emoções
inexplicáveis que o atraem irresistivelmente para o sexo
oposto e, por isso mesmo, normatiza as relações
entre homens e mulheres. O Islam reconhece a importância
do instinto sexual, mas só admite a sua realização
através do casamento lícito, proibindo rigorosamente
o sexo fora do casamento e tudo aquilo que possa conduzir à
sua prática de modo ilícito. Há uma tradição
do Profeta onde ele menciona que a relação sexual
entre um casal é recompensada por Deus. Os companheiros
ficaram espantados: como era possível ter os desejos
e prazeres completamente satisfeitos e, ainda assim, obter recompensa
divina? O Profeta, então, respondeu que da mesma forma
que uma relação extraconjugal era punida. O Islam
se baseia na crença na revelação divina.
A sua lei e a sua moral estão baseadas nos mandamentos
divinos. Dentro desse contexto, homens e mulheres devem obedecer
a certas regras de comportamento e disciplina, a fim de evitar
que o ilícito seja praticado. O Islam tem imposto, recomendado
e encorajado certos hábitos com o fim de reduzir as oportunidades
para a prática do ilícito. Além disso,
toma as precauções necessárias e possíveis,
no tocante a sanções materiais, tais como, proibição
da promiscuidade, dos encontros reservados entre pessoas do
sexo oposto sem a presença de terceiros, etc. O fato
de a mulher ficar atrás do homem durante as orações
não indica que ela seja inferior ao homem. Faz parte
da disciplina da oração o muçulmano se
colocar em fila, ombro a ombro com o seu irmão. As preces
islâmicas envolvem atos, movimentos, posturas de prostração,
genuflexões que ocasionam contatos corporais e toque
involuntário na pessoa que está ao lado, diminuindo
a concentração daquele que está em prece.
Além do mais, seria inapropriado e desconfortável
para uma mulher ficar em tal posição, prostra-se,
inclinar-se e colocar a testa no chão, tendo atrás
de si uma fileira de homens. Assim, para evitar qualquer embaraço
de ambas as partes, o Islam ordenou a organização
de filas, homens na frente, e mulheres atrás. O que deve
ser ressaltado é que as proibições são
dirigidas a ambos os sexos. O que o Islam proíbe para
a mulher, também o faz para o homem. A modéstia
é recomendada tanto para homens como para mulheres. A
castidade até a realização do casamento
é imperativo para homens e mulheres, igualmente. O adultério
é proibido tanto para homens como para as mulheres. Em
suma, a forma como Islam encara o sexo é uma linha muito
estreita entre dois extremos. O primeiro é desqualificá-lo
ao ponto de sua total abstenção, através
do celibato ou monasticismo, negando a própria natureza
humana, e o segundo é achar que é muito natural
fazer sexo com quem quer que seja, em qualquer lugar, sempre
que se quiser. Enquanto no ocidente a sensualidade, o amor entre
um homem e uma mulher, atributos humanos concedidos por Deus,
são reduzidos à sua condição mais
baixa e se transformam em libertinagem, pornografia, o Islam
não aceita, em hipótese nenhuma, a superexposição
do sexo, o sexo pelo sexo, com qualquer um, em qualquer lugar.
13-Direito ao Voto
A mulher muçulmana também pode
votar. Enquanto ela teve este direito há 1400 anos, nos
Estados Unidos, a mulher só conseguiu esse direito em
1916, e no Brasil, em 1932.
14- Dignidade Humana:
Como ser humano, a mulher é perfeitamente
igual ao homem, o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção
de Deus estejam sobre ele), declarou:
"Na verdade, as mulheres são as irmãs dos
homens."
Tal implica que ambos, homem e mulher, provêem dos mesmos
pais, ou seja, de Adão e Eva, sendo assim, como pode
a mulher ser inferior ao homem, se ela surge dos mesmos pais?
Realçando o mesmo, o Alcorão Sagrado observa:
''Ó humanos, em verdade, Nós vos criamos de macho
e fêmea ... Sabei que o mais honrado, dentre vós,
ante Deus, é o mais temente. Sabei que Deus é
Sapientíssimo e está bem inteirado. '' (Alcorão
Sagrado 49:13).
Por outras palavras, a honra perante o Criador nunca será
dependente do sexo, mas sim da piedade.
15- Direito à
Justiça:
Uma igualdade absoluta entre homem e mulher
foi estabelecida no Islam, no que diz respeito às leis
civis e penais, a Lei Islâmica não reconhece qualquer
distinção entre elas no tocante à proteção
da vida e da propriedade, da honra e da reputação,
Deus diz:
"E elas (as mulheres) têm mesmos direitos sobre eles,
como eles os têm sobre elas.'' (Alcorão Sagrado
2:228).
''Ó fiéis (homens e mulheres), sede firmes em
observardes a justiça, atuando de testemunhas, por amor
a Deus, ainda que o testemunho seja contra vós mesmos,
contra os vossos pais ou contra os vossos parentes, seja contra
vós mesmos, contra os vossos pais ou contra os vossos
parentes, seja o acusado rico ou pobre, porque a Deus incumbe
protegê-los. Portanto, não sigais os vossos caprichos,
para não serdes injustos; e se falseardes o vosso testemunho
ou vos recusardes a prestá-lo, sabei que Deus está
bem inteirado de tudo quanto fazeis.'' (Alcorão Sagrado
4:135).
A Lei Islâmica dita a pena de morte ao assassino, tenha
ele morto um homem ou uma mulher, uma vez que a vida desta é
tão sagrada quanto a daquele. Se uma mulher perdoar o
assassino de um parente, os outros familiares não têm
autoridade para anular o seu consentimento no perdão.
16- Igualdade Perante
a Lei:
No que diz respeito à prescrição
das penas, o Islam condena da mesma forma, seja homem ou mulher,
tomemos três exemplos: assassinato, roubo e adultério.
Vejamos quais as penas que o Islam aplica ao homem e à
mulher. No Alcorão Sagrado podemos ler:
''Ó fiéis, está-vos preceituado o talião
para o homicídio: livre por livre, escravo por escravo,
mulher por mulher. Mas, se o irmão do morto perdoar o
assassino, devereis indenizá-lo espontânea e voluntariamente.
Isso é uma mitigação e misericórdia
de vosso Senhor. Mas quem vingar-se, depois disso, sofrerá
um doloroso castigo. '' (Alcorão Sagrado 2:178).
''Quanto ao ladrão e à ladra, decepai-lhes a mão,
como castigo de tudo quanto tenham cometido.'' (Alcorão
Sagrado 5:38).
''Quanto à adúltera e ao adúltero, vergastai-os
com cem vergastadas, cada um; que a vossa compaixão não
vos demova de cumprir a lei de Deus, se realmente credes em
Deus e no Dia do Juízo Final. Que uma parte dos fiéis
testemunhe o castigo.'' (Alcorão Sagrado 24:2).
Assim, a partir dos versículos acima citados, fica perfeitamente
patente que a Lei Islâmica aplica, indiscriminadamente,
os mesmos castigos a ambos os transgressores, homem e mulher.
CONCLUSÃO
A mulher pode exercer qualquer função
que não vá contra os princípios do Islam,
que não agrida a sua natureza feminina e que não
a ocupe totalmente, fazendo com que descuide da família,
pois isso causa sérios prejuízos a sociedade,
pois acarreta na não educação materna,
no abandono dos filhos que serão entregues as "mães
artificiais". No Islam, a mulher tem o direito de ser sustentada
pelo pai, irmão ou marido, visto ser uma injustiça
querer que ela trabalhe dentro e fora de casa.
A mulher tem grande importância dentro do Islam, pois
Allah (swt) é justo e distribui os direitos e deveres
de acordo com sua plena justiça.
E por incrível que pareça, o Islam cresce mais
entre as mulheres, e as novas muçulmanas alegam ter encontrado
no Islam o respeito que procuravam e os seus direitos garantidos
sem segundas intenções.
Os direitos conquistados pela mulher têm custado para
a mulher ocidental o que não custou para a mulher muçulmana.
A mulher no ocidente está a cair numa verdadeira armadilha.
Dizem a ela: "Nós vamos te libertar, você
vai ser livre e ter os seus direitos". Porém, estes
direitos não garantem o principal direito: o respeito
a mulher como ser humano, como mãe, como esposa , como
irmã, como filha, como educadora.
Em nome da liberdade, a mulher é usada e manipulada na
sociedade. Seu corpo é vendido; é usado como uma
estátua para enfeitar os programas de auditório;
a mulher é comparada a objetos em comerciais, por acaso
não lembram dos comerciais de cerveja na TV, em um deles
perguntam: O que o brasileiro mais gosta, mulher, cerveja, praia
ou futebol? Em outra propaganda aparece um senhor ao lado de
duas moças com o seguinte slogan: "troquei"
uma de 51 por duas de 21. Comparar a mulher a futebol e cerveja
e trocá-la faz parte dos seus direitos?! Se a mulher
tem um corpo formoso e belo é valorizada e considerada,
se não é mais uma! A moda que difundem na sociedade
tende a expor cada vez mais o corpo da mulher, e a convenceram
de que isto é liberdade, está sendo usada e assediada
e acredita que isto lhe trará respeito e dignidade, não
percebe que assim ela está sendo submissa ao homem e
está a atender aos seus desejos e impulsos ilimitados.
Ao garantir os direitos da mulher devemos nos preocupar em não
prejudicá-la em nome deste direito, a sobrecarregando
e impondo a ela junto com estes direitos deveres que não
fazem parte de sua natureza. A condição da mulher
no Islam é algo ímpar, novo, sem qualquer semelhança
com qualquer outro sistema. Se olharmos para as nações
democráticas do ocidente, vamos perceber que a mulher
não desfruta dessa posição. Ela é
mais subjugada a padrões e regras de comportamento do
que se supõe que a mulher muçulmana o seja. Ela
é o reflexo do poder masculino, onipresente na sociedade
ocidental cristã, que tem por objetivo delimitar o papel
das mulheres, normatizar seus corpos e almas, esvaziá-las
de qualquer saber ou poder ameaçador. A mídia
exerce hoje o monopólio, antes exercido pela Igreja,
na construção (desconstrução) dessa
mulher, impondo valores, regulamentando o cotidiano das pessoas,
determinando o uso do corpo de uma perspectiva escatológica.
No ocidente, a mulher é compelida a perseguir noções
abstratas de beleza , e, muitas das vezes, não percebe
que está sendo manipulada pelas companhias de cosméticos,
indústrias de roupas e remédios. É um produto
tão descartável quanto qualquer mercadoria de
supermercado. O rótulo (a aparência) da mulher
ocidental tem que obedecer a regras impostas de cima e ingenuamente
ela supõe que é livre para escolher a sua roupa,
o seu sapato, a cor do seu cabelo. A mulher ocidental, desde
criança, é ensinada que o seu valor é proporcional
à sua beleza, aos seus atrativos. Só consegue
um lugar ao sol aquela que se veste assim, que fala assado,
que vai ao lugar tal. No Brasil, por exemplo, só consegue
emprego quem tem “boa aparência”. A mulher,
desde cedo é empurrada para um mercado de trabalho selvagem,
deslealmente competitivo, tendo de se submeter a toda sorte
de humilhações para conseguir o seu sustento.
Foi através de muita luta que a mulher ocidental alcançou
esse esboço de liberdade. Foram séculos de uma
árdua luta para a mulher conquistar o direito de aprender,
de trabalhar, de ganhar o seu próprio sustento, de ter
a sua própria identidade, de ter personalidade e capacidade
jurídica. Esta mulher pagou um alto preço para
provar sua condição de ser humano, provido de
alma. A posição que a mulher ocidental de nossos
dias desfruta foi conquistada pela força e não
por um processo de mútuo entendimento. Ela abriu o seu
caminho à força, a custa de muitos sacrifícios,
abrindo mão de sonhos e ideais. Muitas vezes as circunstâncias
a empurraram para um campo de batalha até então
desconhecido. E apesar disso tudo, de toda essa guerra, de tão
pesados sacrifícios e lutas dolorosas, ela ainda não
conquistou o que o Islam estabeleceu para a mulher muçulmana
por decreto divino. De tudo o que foi dito, podemos inferir
que a condição das mulheres nas sociedades islâmicas
atuais é a ideal? É compatível com o que
estabelece o Islam? Não, é claro que não.
Mas, rotular a condição da mulher no mundo muçulmano
de hoje como “islâmica” está tão
longe da verdade quanto imaginar que a condição
da mulher ocidental é de total liberdade para usufruir
direitos. Sabemos que em muitas partes do mundo muçulmano
ainda proliferam as condições opressivas e injustas.
Os erros de alguns muçulmanos na condução
dos destinos de suas respectivas sociedades apenas provam que
o ser humano tem suas limitações. É absurdo
tomar como regra geral islâmica o que não passa
de interpretações pessoais, contaminadas por todo
um contexto sócio-cultural. Os muçulmanos não
podem ser julgados com base nas ações de uns poucos
e nem esses poucos são amostras significativas do verdadeiro
significado do Islam. O que precisa ficar claro é que
não é o Alcorão que necessita ser reexaminado,
ou a Suna, e sim a prática humana, que muitas vezes reflete
aspectos culturais tão enraizados que distorcem o que
foi decretado por Deus. É preciso confrontar o passado
e rejeitar práticas e costumes que se contraponham aos
preceitos do Islam. Assim, por exemplo, a condição
da mulher no Afganistão, que está condenada a
ficar reclusa dentro de casa, não reflete os ensinamentos
do Alcorão nem tão pouco o exemplo de milhares
de muçulmanas, que através da História,
tiveram participação efetiva em suas respectivas
comunidades. A mulher na Arábia Saudita está proibida
de dirigir? Sim, está, mas esta é uma lei saudita,
humana, que não vigora no Irã, por exemplo. O
que devemos compreender é que existe uma imensa diferença
entre a crença propriamente dita, conforme revelada no
Alcorão, e a prática de algumas sociedades supostamente
islâmicas. Tais práticas atendem muito mais a aspectos
culturais específicos, a interesses particulares, e não
representam necessariamente o Islam e nem podem servir de base
para se denegrir o verdadeiro sentido do Islam. O Islam ainda
tem muito a oferecer à mulher de hoje, em termos de respeito,
dignidade, reconhecimento. Basta que ela tenha consciência
disso e lute para implantar os ensinamentos islâmicos.
Para isso, ela tem todos os os instrumentos à sua disposição.
A MULHER NO ISLAM: MITO E REALIDADE
Dr.Sherif AbdelAzeem Mohammed
Há 5 anos atrás, li no Toronto Star, edição
de 3.7.90, um artigo intitulado "O Islam não está
sozinho nas doutrinas patriarcais", de Gwyne Dyer. O artigo
descrevia as reações furiosas das participantes
de uma conferência sobre mulheres e poder, realizada em
Montreal, aos comentários da famosa feminista egípcia,
Dra. Nawal Saadawi.
Suas declarações "politicamente incorretas",
incluíam: "os elementos mais restritivos em relação
às mulheres, podem ser encontrados, primeiro no Judaísmo,
Velho Testamento, depois no Cristianismo e, finalmente, no Alcorão";
"todas as religiões são patriarcais porque
elas provêm de sociedades patriarcais"; e "o
véu das mulheres não é uma prática
especificamente islâmica mas, sim, um herança cultural
antiga, com analogia nas religiões irmãs".
As participantes não puderam ficar sentadas, enquanto
suas crenças estavam sendo igualadas ao Islam. Assim,
a Dra. Saadawi recebeu uma avalanche de críticas. "Os
comentários da Dra. Saadawi eram inaceitáveis.
Suas respostas revelavam uma falta de compreensão acerca
da fé das outras pessoas" , declarou Bernice Dubois,
do Movimento Mundial de Mães. "Eu tenho que protestar",
disse a participante Alice Shalvi, da televisão feminina
de Israel, "não existe o conceito do véu
no Judaísmo". O artigo atribuía esses furiosos
protestos a uma forte tendência no Ocidente de culpar
o Islam por práticas que são muito mais uma parte
da própria herança cultural do Ocidente.
"As feministas cristãs e judias não irão
se sentar para discutir, em igualdade de condições,
com as más muçulmanas", escreveu Gwyne Dyer.
Não me surpreendeu que as participantes da conferência
tivessem uma tal visão negativa do Islam, especialmente
por envolver questões femininas. Acredita-se, no Ocidente,
que o Islam é o símbolo da subordinação
das mulheres por excelência. A fim de compreendermos como
está enraizada tal crença, basta mencionar que
o Ministro da Educação da França, a terra
de Voltaire, recentemente ordenou a expulsão das escolas
francesas, de todas as jovens muçulmanas que vestissem
o Hijab! Na França é negado a uma jovem muçulmana,
que usa um lenço, o direito à educação,
enquanto que estudantes católicos podem usar uma cruz
ou um estudante judeu pode usar o solidéu. A cena de
policiais franceses, impedindo jovens muçulmanas com
as cabeças cobertas de entrarem no colégio, é
inesquecível. Este fato nos traz à memória
outra cena igualmente triste, a do Governador George Wallace,
do Alabama, em l962, em pé, defronte ao portão
da escola, tentando bloquear a entrada de estudantes negros,
a fim de impedir a desagregação das escolas do
Alabama. A diferença entre as duas cenas é que
os estudantes negros tiveram a simpatia de muitas pessoas nos
EUA e no mundo inteiro. O presidente Kennedy enviou a Guarda
Nacional Americana para forçar a entrada dos estudantes
negros. As moças muçulmanas, por outro lado, não
receberam a ajuda de ninguém. Sua causa parece ter muito
pouca simpatia, tanto dentro da França como fora. A razão
é a incompreensão e o medo de tudo que seja islâmico
no mundo atual
O que mais me intrigou sobre a conferência de Montreal
foi uma questão: As declarações feitas
por Saadawi, ou qualquer de suas críticas, são
verdadeiras? Em outras palavras, o Judaísmo, o Cristianismo
e o Islam têm o mesmo conceito sobre as mulheres? São
tais conceitos diferentes? O Judaísmo e o Cristianismo,
na verdade, oferecem às mulheres um tratamento melhor
do que o Islam? Qual é a verdade?
Não é tarefa fácil pesquisar e encontrar
respostas para estas questões difíceis. A primeira
dificuldade é que a pessoa tem que ser honesta e objetiva
ou, pelo menos, fazer o máximo para o ser. Isto é
o que o Islam ensina. O Alcorão instruiu os muçulmanos
a dizerem a verdade, mesmo que aqueles que estejam próximos
a eles não gostem disso:
"... e se falardes, sede justo, mesmo que se refira a um
parente próximo" (6:152);
"Ó aqueles que creram, erijam a justiça na
partilha, como testemunhas de Alá, ainda que contra vós
mesmos, ou seus pais ou seus parentes, ..."
A outra grande dificuldade é o fôlego irresistível
do assunto. Por essa razão, durante os últimos
anos, passei muitas horas lendo a Bíblia, a Enciclopédia
da Religião e a Enciclopédia Judaica, na busca
de respostas. Também li muitos livros que discutem a
posição das mulheres nas diferentes religiões,
escritos por exegetas, apologistas e críticos. O material
apresentado nos capítulos seguintes representa as descobertas
importantes dessa humilde pesquisa. Eu não sou objetivo,
absolutamente. Isto está além da minha limitada
capacidade. Tudo que posso dizer é que tentei, através
dessa pesquisa, me aproximar do ideal alcorâmico de "falar
imparcialmente".
Gostaria de enfatizar nesta introdução, que minha
proposta para este estudo não é denegrir o Judaísmo
ou o Cristianismo. Como muçulmanos, acreditamos nas origens
divinas de ambos. Ninguém pode ser muçulmano sem
acreditar em Moisés e Jesus como grandes profetas de
Deus. Meu intento é somente afirmar o Islam e pagar um
tributo para a última mensagem verdadeira de Deus para
a raça humana. Também gostaria de enfatizar que
me preocupei somente com a Doutrina, isto é, minha preocupação
é, principalmente, a posição das mulheres
nas três religiões, como aparece em suas fontes
originais, e não como é praticada por seus milhões
de seguidores no mundo hoje. Por causa disso, a maior parte
das evidências citadas vêm do Alcorão, dos
ditos do Profeta Mohammad, da Bíblia, do Talmud e dos
ditos de alguns dos mais influentes padres da Igreja, cujos
pontos de vista contribuíram imensamente para definir
e desenhar o Cristianismo. Muitas pessoas confundem cultura
com religião, e outras não sabem o que seus livros
religiosos dizem, e outras ainda, sequer se preocupam com disso.
1. O ERRO DE EVA?
As três religiões concordam
com um fato básico: Tanto as mulheres como os homens
foram criados por Deus, o Criador de todo o Universo. Contudo,
a divergência começa logo após a criação
do primeiro homem, Adão, e da primeira mulher, Eva. A
concepção judaico-cristã da criação
de Adão e Eva está narrada detalhadamente em (Gênesis,
2:4-3:24). Lá está dito que Deus proibiu o homem
de comer do fruto da árvore proibida. O Senhor Deus deu
ao homem uma ordem, dizendo: "Podes comer de todas as árvores
do jardim. 17 Mas, da árvore do conhecimento do bem e
do mal não deves comer, porque no dia em que o fizeres
serás condenado a morrer". Também deu a mesma
ordem à mulher. A serpente seduziu Eva para que o comesse.
E a mulher respondeu à serpente: "Do fruto das árvores
do jardim, Deus nos disse 'não comais dele nem sequer
o toqueis, do contrário morrereis." A serpente replicou
à mulher: "De modo algum morrereis 5 É que
Deus sabe que no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão
e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal". E
Eva, por sua vez, seduziu Adão para comer com ela. (Gênesis
6) A mulher notou que era tentador comer da árvore, pois
era atraente aos olhos e desejável para se alcançar
inteligência. Colheu o fruto, comeu-o e deu também
ao marido, que estava junto. E ele comeu. E quando Deus repreendeu
Adão pelo que ele havia feito, ele colocou a culpa em
Eva. (Gênesis 11) Disse-lhe Deus: "E quem te disse
que estavas nu? Então, comeste da árvore, de cujo
fruto te proibi?"12 E o homem disse: "A mulher que
me destes por companheira, foi ela que me fez provar do fruto
da árvore e eu o comi". Consequentemente, Deus disse
a Eva Gênesis 16: "Multiplicarei os sofrimentos de
tua gravidez. Em meio a dores darás à luz os filhos,
a paixão arrastar-te-á para o marido e ele te
dominará". Para Adão Ele disse (Gênesis
17) "Porque ouviste a voz da mulher e comeste da árvore,
cujo fruto te proibi comer, amaldiçoada será a
terra por tua causa. Com fadiga tirarás dela o alimento
durante toda a vida. 18 Produzirá para ti espinhos e
abrolhos e tu comerás das ervas do campo. 19 Comerás
o pão com o suor do rosto, até voltares à
terra, de onde foste tirado. Pois tu és pó e ao
pó hás de voltar".
O conceito islâmico da primeira criação
é encontrado em muitas passagens do Alcorão, como
por exemplo:
"E dissemos ó! Adão, mora tu e tua zauj (mistura
companheira) no Paraíso e comam dele prosperamente onde
lhes aprouver, e não vos aproximeis desta árvore
e então sereis dos injustos." (Alcorão 2:35).
Então, Satanás sussurrou para eles, a fim de revelar
a ambos o que lhes havia sido ocultado de SAUÉTIHIMÉ
(suas ambas e outras igualmente presentes, invisíveis,
não bons atributos) e, então, disse: "Não
vos proibiu a ambos, Vosso Senhor, desta árvore senão
de seres ambos convertidos em anjos ou de serem ambos dentre
os imortais". E jurou-lhes que era um conselheiro sincero.
Assim, a ambos, DALLÉHUMÉ (indicou a ambos em
confiança, porém, com enganos, arrancando-os e
enviando-os para baixo, no que intencionou). Quando ambos provaram
da árvore, divisaram ambos suas SAUÉTIHIMÉ
e começaram a cobrir-se com folhas do paraíso.
E seu Senhor chamou a ambos: "Eu não vos havia proibido
daquela árvore e dito a ambos que Satanás é
vosso inimigo declarado?" Eles disseram: "Senhor Nosso.
Nós injustiçamos a nós mesmos e se Tu não
nos perdoares, Te apiedares de nós, certamente estaremos
dentre os perdedores." (7:20:23).
Um exame mais cuidadoso dos dois relatos sobre a Criação,
revela algumas diferenças essenciais. O Alcorão,
ao contrário da Bíblia, coloca a culpa igualmente
em Adão e Eva pelo erro de ambos. Não há
no Alcorão a mais leve sugestão de que Eva tentou
Adão, ou mesmo que ela tenha comido do fruto antes dele.
Eva, no Alcorão, não é insinuante, sedutora
ou vencida. Além do mais, Eva não pode ser culpada
pelas dores do parto. Deus, de acordo com o Alcorão,
não pune ninguém pelas faltas do outro. Ambos,
Adão e Eva, cometeram um pecado e então pediram
a Deus o perdão, e Ele os perdoou.
2. O LEGADO DE EVA
A imagem de Eva na Bíblia, como uma
mulher sedutora, teve um impacto extremamente negativo para
as mulheres através da tradição judaico-cristã.
Acreditava-se que todas as mulheres haviam herdado de sua mãe,
a bíblica Eva, tanto a sua culpa como a sua astúcia.
Consequentemente, as mulheres não eram dignas de confiança,
eram moralmente inferiores e más. Menstruação,
gravidez e parto eram considerados punições justas
para uma culpa eterna do amaldiçoado sexo feminino.
A fim de examinarmos como foi negativo o impacto da Eva bíblica
sobre sua descendência feminina, temos que olhar para
os escritos de alguns do mais importantes judeus e cristãos
de todos os tempos. Comecemos pelo Velho Testamento, e olhemos
para alguns excertos da chamada Literatura da Sabedoria, onde
encontramos: "Eu acho a mulher um pouco pior do que a morte,
porque ela é uma armadilha, cujo coração
é um alçapão e cujas mãos são
cadeias. O homem que agrada a Deus foge dela, mas ao pecador
ela o aprisionará ... enquanto eu estava procurando,
e não estava encontrando, achei um homem correto entre
mil, mas não encontrei uma só mulher correta entre
todas elas" (Eclesiastes 7:26-28).
Em outra parte da literatura hebraica, que é encontrada
na bíblia católica, nós lemos: "Nenhuma
maldade está mais próxima do que a maldade de
uma mulher" ... "O pecado começa com a mulher
e, graças a ela, todos nós devemos morrer".
(Eclesiastes 25:19,24).
Os rabinos judeus listaram nove maldições infligidas
às mulheres, como resultado da Queda:
"Para a mulher Ele deu nove maldições e a
morte: o peso do sangue da menstruação e o sangue
da virgindade; o peso da gravidez; o peso do parto; o peso de
educar crianças; sua cabeça é coberta como
no luto; ela fura a orelha como uma escrava permanente, ou escrava
que serve ao seu senhor; ela não deve ser tomada por
testemunha; e depois de tudo -- a morte". (2)
Nos dias atuais, judeus ortodoxos, em suas preces matinais diárias,
recitam "Abençoado seja Deus, Rei do universo que
não nos fez mulher". As mulheres, por outro lado,
agradecem a Deus cada manhã por "me fazer de acordo
com Tua vontade". (3) Outra oração encontrada
em muitos livros de preces judeus: "Louvado seja Deus que
não me criou gentio. Louvado seja Deus que não
me criou mulher. Louvado seja Deus que não me criou ignorante".
(4)
A Eva bíblica desempenhou um papel mais importante no
Cristianismo do que no Judaísmo. Seu pecado foi a base
de toda a fé cristã, porque a concepção
cristã da razão da missão de Jesus Cristo
na terra provém da desobediência de Eva. Ela pecou
e, então, seduziu Adão para segui-la em seu propósito.
Consequentemente, Deus expulsou a ambos do céu para a
terra, que foi amaldiçoada por causa deles. Eles herdaram
seus pecados, os quais não foram perdoados por Deus e,
por isso, todos os humanos nascem em pecado. A fim de purificar
os seres humanos do "pecado original", Deus teve que
sacrificar, na cruz, Jesus, que é considerado o filho
de Deus. Em razão disso, Eva é culpada de seu
próprio pecado, do pecado de seu marido, do pecado original
de toda a humanidade e da morte do Filho de Deus. Em outras
palavras, uma só mulher, agindo por conta própria,
causou toda a queda da humanidade (5). O que dizer sobre suas
filhas? Elas são pecadoras como Eva e devem ser tratadas
como tal. Ouçam o tom severo de São Paulo no Novo
Testamento: Uma mulher deve aprender em calma e total submissão.
Eu não permito a uma mulher ensinar ou ter autoridade
sobre um homem; ela deve ser calada. Porque Adão foi
feito primeiro, e depois Eva. E Adão não foi o
que perdeu, foi a mulher que perdeu e se tornou pecadora (I
Timóteo 2:11-14).
São Tertuliano foi mais brando que São Paulo,
quando falava "às queridas irmãs" na
fé. Ele dizia (6): "Vocês sabem que cada uma
de vocês é uma Eva? A sentença de Deus sobre
o sexo de vocês subsiste até agora: a culpa necessariamente
subsiste também. Vocês são a porta de entrada
para o Diabo: Vocês são a marca da árvore
proibida: Vocês são as primeiras desertoras da
divina lei: Vocês são aquelas que persuadiram o
homem de que o diabo não precisava ser atacado. Vocês
destruíram tão facilmente a imagem de Deus, o
homem. Por causa de sua deserção, o Filho de Deus
teve que morrer".
Santo Agostinho foi fiel ao legado de seus antecessores. Ele
escreveu a um amigo: "Qual é a diferença,
seja uma esposa ou uma mãe, ainda assim é da Eva
tentadora que devemos nos precaver em qualquer mulher. Eu não
consigo ver qual o uso que uma mulher pode ter para um homem,
exceto a função de dar à luz crianças".
Séculos mais tarde, São Tomás de Aquino
ainda considerava a mulher como um defeito: "Com relação
à natureza individual, a mulher é defeituosa e
mal feita, porque a força ativa na semente masculina
tende para a produção de uma perfeita semelhança
no sexo masculino; enquanto que a produção da
mulher provém de um defeito na força ativa ou
de alguma indisposição material, ou mesmo de algumas
influências externas".
Finalmente, o famoso reformador Martinho Lutero não conseguia
ver qualquer benefício em uma mulher, a não ser
trazer ao mundo tantas crianças quanto possível,
apesar das conseqüências: "Se elas se cansarem
ou mesmo morrerem, isto não é problema. Deixe-as
morrer no parto, é para isso que estão aqui".
Muitas vezes as mulheres foram denegridas por causa da imagem
de Eva como a tentadora, graças ao relato em Gênesis.
Para resumir, a concepção judaico-cristã
sobre as mulheres foi envenenada pela crença na natureza
pecaminosa de Eva e de sua descendência feminina.
Se agora voltarmos nossa atenção para o que o
Alcorão diz sobre as mulheres, logo perceberemos que
a concepção islâmica sobre elas é
radicalmente diferente daquela encontrada no conceito judaico-cristão.
Deixemos que o Alcorão fale por si mesmo:
"Quanto aos muçulmanos e muçulmanas, aos
fiéis e às fiéis, aos devotados e às
devotadas, aos verdadeiros e às verdadeiras, aos homens
e mulheres que são perseverantes, aos homens e mulheres
que são humildes, para os homens e mulheres que fazem
a caridade, para os homens e mulheres que jejuam, aos homens
e mulheres que guardam a castidade, e aos homens e mulheres
que se comprometem em louvar Alá, para todos eles Alá
preparou o perdão e uma grande recompensa" (33:35).
"Os crentes, homens e mulheres, são protetores uns
dos outros: usufruem do que é justo e proíbem
o mal, observam as preces regulares, praticam a caridade regularmente
e obedecem a Alá e Seu Mensageiro. Sobre eles Alá
despejará Sua Misericórdia: porque Alá
é Exaltado em poder e sabedoria" (9:71)
"E seu Senhor respondeu a eles: Verdadeiramente, jamais
perderei a obra de qualquer um de vós, seja homem ou
mulher, porque procedeis uns do outros" (3:195)
"Quem cometer uma iniquidade será pago na mesma
moeda e aquele que praticar o bem, seja homem ou mulher, e é
um crente, entrará no Jardim de felicidade" (40:40).
"Quem praticar o bem, seja homem ou mulher, e for fiel,
concederemos uma vida agradável e premiaremos com uma
recompensa, de acordo com o melhor de suas ações"
(16:97).
Está claro que a visão do Alcorão a respeito
da mulher não difere da do homem. Ambos são criaturas
de Deus e têm como sublime meta adorar seu Senhor, fazer
boas ações e evitar o mal e por isso serão
avaliados harmoniosamente. O Alcorão jamais menciona
que a mulher é a porta de entrada para o mal ou que ela
é uma enganadora por excelência. O Alcorão
também jamais menciona que o homem é a imagem
de Deus. Homens e mulheres são suas criaturas e só.
De acordo com o Alcorão, o papel da mulher na terra não
está limitado somente ao parto. Dela se exige fazer boas
ações, tanto quanto é exigido dos homens.
O Alcorão nunca diz que jamais existiu uma mulher correta.
Pelo contrário, o Alcorão instruiu a todos os
crentes, homens e mulheres, a seguir o exemplo daquelas mulheres
, tais como a Virgem Maria e a esposa do Faraó:
"E Deus dá, como exemplo aos fiéis, o da
esposa do Faraó, que disse: Ó Senhor meu, construí,
junto a ti, uma morada no Paraíso e livra-me do Faraó
e de suas ações, e salva-me dos iníquos!
E com Maria, filha de Imram, que conservou seu pudor e a qual
alentamos com o Nosso Espírito; e ela testemunhou a verdade
das palavras de seu Senhor e de Suas revelações
e era uma das devotas" (66:11/13).
3. FILHAS VERGONHOSAS?
Realmente, a diferença entre a atitude
bíblica e a alcorâmica, em relação
ao sexo feminino, começa logo que a mulher nasce. Por
exemplo, a Bíblia estabelece que o período do
ritual materno da impureza é duas vezes mais longo no
caso do nascimento de uma menina do que no de um menino (Levítico
12:2-5) . A Bíblia Católica estabelece explicitamente
que: "O nascimento de uma filha é uma prejuízo"
(Eclesiastes 22:3). Em contraste com essa absurda declaração,
os meninos recebem especial louvor: "Um homem que educa
seu filho será invejado por seu inimigo" (Eclesiastes
30:3).
Os rabinos judeus tornaram uma obrigação para
os homens produzirem uma descendência, a fim de propagar
a raça. Ao mesmo tempo, eles não escondiam sua
preferência por meninos: "É bom para aqueles
cujas crianças são meninos, mas é mau para
aqueles cujas crianças são meninas", "
no nascimento de um menino tudo é alegria ... no nascimento
de uma menina tudo é tristeza", e "Quando um
menino chega ao mundo, a paz chega ao mundo ... Quando uma menina
chega ao mundo, nada chega". (7)
Uma filha é considerada um peso doloroso, uma fonte potencial
de vergonha para seu pai: "Sua filha é teimosa?
Mantenha um olhar firme para que ela não faça
de você um motivo de gargalhada para seus inimigos, de
falatório na cidade, objeto de fofocas e coloque você
em situação de vergonha pública" (Eclesiastes
42:11). Mantenha uma filha teimosa sob firme controle ou ela
abusará de qualquer indulgência que receba. Mantenha
vigilância sobre seu olho sem-vergonha, não se
surpreenda se ela o desgraçar" (Eclesiastes 26:10-11).
Foi esta mesma idéia de tratar as filhas como fonte de
vergonha, que levou os árabes pagãos , antes do
advento do Islam, a praticar o infanticídio feminino.
O Alcorão condena vigorosamente esta prática hedionda:
"Quando a algum deles é anunciado o nascimento de
uma filha o seu semblante se entristece e fica angustiado. Oculta-se
do seu povo, pela má notícia que lhe foi anunciada:
deixá-la-á viver, envergonhado, ou a enterrará
viva? Que péssimo é o que julgam." (16:58/59).
Deve ser dito que, este crime sinistro, jamais teria parado
na Arábia, não fora a força dos termos
que o Alcorão usou para condenar tal prática (l6:59,
43:17, 8l:8/9).
Além disso, o Alcorão não faz distinção
entre meninos e meninas. Em contraste com a Bíblia, o
Alcorão considera o nascimento de uma mulher como um
presente e uma bênção de Deus, da mesma
forma que o nascimento de um menino.O Alcorão sempre
menciona o presente do nascimento feminino primeiro:
"A Alá pertence o domínio dos céus
e da terra. Ele cria o que lhe apraz. Concede filhas a quem
quer e filhos a quem lhe apraz" (42:49).
A fim de apagar qualquer traço do infanticídio
feminino na nascente sociedade muçulmana, o Profeta Mohammad
prometeu àqueles que fossem abençoados com filhas
uma grande recompensa, se eles as tratassem gentilmente: "Aquele
que se ocupa da educação das filhas e as trata
benevolentemente, estará protegido contra o Inferno"
(Bukhari e Muslim). "Aquele que mantém duas meninas,
até que elas atinjam a maturidade, ele e eu chegaremos
no dia da ressurreição desse modo: e ele juntou
seus dedos" (Muslim).
4. A EDUCAÇÃO
FEMININA?
A diferença entre os conceitos bíblicos
e os alcorânicos sobre a mulher não está
limitada apenas ao seu nascimento, ela vai muito mais longe.
Comparemos suas atitudes em relação à mulher,
tentando aprender sua religião. O coração
do judaísmo é a Tora, a lei. Contudo, de acordo
com o Talmud, "as mulheres estão isentas de estudarem
a Tora". Alguns rabinos declaram firmemente "é
preferível que as palavras da Tora sejam destruídas
pelo fogo a serem partilhadas com uma mulher", e "aquele
que ensina a sua filha a Tora é como se ele lhe ensinasse
obscenidade" (8).
A atitude de São Paulo no Novo Testamento não
é mais inteligente: "Como em todas as congregações
de santos, as mulheres devem permanecer caladas nas igrejas.
Não é permitido a elas falar, e devem ser submissas,
como a lei diz. Se elas quiserem perguntar sobre alguma coisa,
devem perguntar aos seus maridos em casa; porque é vergonhoso
para uma mulher falar nas igrejas". (I Coríntios
14:34/35)
Como pode a mulher se instruir se não lhe é permito
falar? Como pode uma mulher crescer intelectualmente se ela
é obrigada a um estado de completa submissão?
Como pode ela delinear seus horizontes, se sua única
fonte de informação é seu marido em casa?
Agora, para ser gentil, devemos perguntar: A posição
alcorânica é diferente? Uma pequena estória
narrada no Alcorão resume sua posição concisamente.
Khawlah era uma muçulmana, cujo marido Aws declarou,
em um momento de raiva: "Para mim você é como
as costas de minha mãe". Isto era tomado como uma
declaração de divórcio pelos árabes
pagãos e liberava o marido de qualquer responsabilidade
conjugal, mas não deixava a esposa livre para deixar
a casa do marido ou para se casar de novo. Tendo ouvido estas
palavras de seu marido, Khawlah estava numa triste situação.
Ela foi direto ao Profeta do Islam para apelar para o seu caso.
O Profeta era de opinião que ela deveria ser paciente,
desde que parecesse que não havia outro caminho. Khawlah
continuou questionando o Profeta, na esperança de salvar
o seu casamento. Rapidamente, o Alcorão interveio e o
apelo de Khawlah foi aceito. O veredicto divino aboliu este
costume iníquo. Um capítulo inteiro (Capítulo
58) do Alcorão, intitulado A Discussão, ou "A
mulher que questionou", foi nomeado após este incidente:
"Alá ouviu e aceitou a declaração
da mulher que apela a você (o Profeta) acerca de seu marido
e leva sua queixa à Alá e Alá ouve os argumentos
entre vocès, porque Alá ouve e vê todas
as coisas ..." (58:1)
A mulher na concepção alcorânica, tem o
direito de argumentar, mesmo com o Profeta do Islam. Ninguém
tem o direito de instruí-la a ficar calada. Ela não
é obrigada a considerar seu marido como a única
referência em matéria de lei e religião.
5. A MULHER SUJA E
IMPURA
As leis e regulamentos judaicos, referentes
à mulher menstruada, são extremamente restritivos.
O Velho Testamento considera qualquer mulher menstruada impura
e suja. Além disso, sua impureza "infecta"
outras pessoas também. Qualquer um ou qualquer coisa
tocada por ela torna-se sujo por um dia: "Quando uma mulher
tem seu fluxo regular de sangue, a impureza de seu período
mensal durará por sete dias e qualquer um que a toque
estará sujo até a noite. Qualquer lugar onde ela
se deite, durante o seu período, ficará sujo e
qualquer lugar onde ela se sente ficará sujo. Qualquer
um que toque sua cama precisa lavar suas roupas e banhar-se
com água e ele ficará sujo até a noite.
Qualquer um que toque qualquer lugar onde ela se senta deve
lavar suas roupas e banhar-se com água e ele estará
sujo até a noite. Se for a cama ou qualquer coisa que
ela estava sentada, que alguém tocou, ele ficará
sujo até a noite" (Levítico 15:19/23).
Devido à sua natureza "contaminadora", uma
mulher menstruada era "banida" algumas vezes, a fim
de evitar qualquer possibilidade de contato com ela. Ela era
mandada para um lugar especial, chamado "a casa das impuras",
por todo o período de sua impureza (9). O Talmud considera
a mulher menstruada como "fatal", mesmo que não
haja qualquer contato físico: "Nossos rabinos ensinaram:
... se uma mulher menstruada passar entre 2 (homens), se ela
estiver no início de suas regras, ela matará um
deles e se estiver no final de suas regras ela causará
briga entre eles" (bPes. 111a.)
Além disso, o marido de uma mulher menstruada era proibido
de entrar na sinagoga, se ela o tivesse feito ficar impuro,
mesmo que pela poeira de seus pés. Um pastor, cuja esposa,
filha ou mãe estivessem menstruadas, não podia
recitar as bênçãos na sinagoga (10) . Não
espanta que muitas mulheres judias se refiram à menstruação
como "a maldição".
O Islam não considera a mulher menstruada como possuída
por qualquer espécie de "sujeira contagiosa".
Ela não é nem "intocável" nem
"amaldiçoada". Ela pratica sua vida normal,
apenas com algumas restrições. Um casal não
pode ter relações sexuais durante o período
menstrual. Qualquer outro contato físico entre eles é
permitido. Uma mulher menstruada está isenta de alguns
rituais, tais como as preces diárias e o jejum durante
o seu período.
6. DAR O TESTEMUNHO
Outra questão, na qual o Alcorão
e a Bíblia discordam, é a que se refere ao testemunho
da mulher. Na verdade, o Alcorão instruiu os crentes
a fazerem transações financeiras com o testemunho
de 2 homens ou 1 homem e 2 mulheres (2:282). Contudo, é
também verdade que o Alcorão, em outras situações,
aceita o testemunho da mulher tão igual quanto ao do
homem. Realmente, o testemunho da mulher pode mesmo invalidar
o do homem. Se um homem acusa sua esposa de falta de castidade,
exige-se dele um juramento solene pelo Alcorão, por 5
vezes, como evidência da culpa de sua esposa. Se a esposa
nega e jura igualmente 5 vezes, ela não é considerada
culpada e em qualquer dos casos o casamento é dissolvido
(24:6/11).
Por outro lado, as primeiras sociedades judaicas (12) não
permitiam o testemunho feminino . Os rabinos contavam entre
as 9 maldições infligidas às mulheres por
causa da queda, a de não ser capaz de prestar testemunho
(ver a seção "Legado de Eva"). Hoje,
em Israel, as mulheres não podem apresentar provas em
cortes rabínicas (13). Os rabinos justificam o fato de
as mulheres não poderem prestar testemunho, citando o
Gênesis 18:9/16, onde está estabelecido que Sara,
esposa de Abraão, havia mentido. Por causa desse incidente,
os rabinos desqualificaram o testemunho feminino. Deve-se notar
que esta estória narrada em Gênesis 18:9/16 foi
mencionada mais de uma vez no Alcorão, sem qualquer sugestão
de que Sara houvesse mentido (11:69/74, 5l:24/30). No ocidente
cristão, as leis civis e eclesiásticas proibiam
as mulheres de dar testemunho até o final do século
passado (14).
Se um homem acusa sua mulher de infidelidade, seu testemunho,
segundo a Bíblia, não será considerado
de maneira nenhuma. A esposa acusada tinha que ser submetida
a um julgamento penoso. Neste julgamento, a esposa enfrentava
um ritual complexo e humilhante, no qual se supunha provar sua
culpa ou inocência (Números 5:11/31). Se ela fosse
culpada ela seria sentenciada à morte. Se ela fosse inocente,
seu marido seria inocentado de qualquer injustiça. Além
disso, se um homem toma uma mulher como esposa e, então,
ele a acusa de não ser virgem, o testemunho dela não
será levado em conta. Seus pais tinham que trazer provas
de sua virgindade ante os mais velhos da cidade. Se os pais
não pudessem provar a inocência de sua filha, ela
seria apedrejada até a morte na soleira da casa de seus
pais. Se os pais não fossem capazes de provar sua inocência,
o marido seria obrigado a pagar uma multa e não poderia
se divorciar da esposa enquanto ele vivesse: "Se um homem
toma uma esposa e, após deitar com ela, se desagrada
dela e a difama chamando-a por nomes feios, dizendo, "Eu
me casei com esta mulher, mas quando eu me aproximei dela eu
não encontrei provas de sua virgindade", então
os pais da moça deverão trazer para os mais velhos
da cidade a prova de que ela era virgem. O pai da moça
dirá aos mais velhos, "Eu dei minha filha em casamento
a este homem, mas ele se antipatizou com ela. Agora, ele está
difamando-a e diz "eu não encontrei a sua filha
virgem". Mas, aqui está a prova da virgindade da
minha filha". Então, seus pais exibirão a
roupa perante os anciãos da cidade e eles punirão
o homem. Eles o multarão em 100 moedas de prata e as
darão ao pai da moça, porque esse homem deu um
nome mau para uma virgem israelita. Ela continuará a
ser sua esposa e ele não poderá se divorciar dela
enquanto viver. Se, contudo, a acusação for verdadeira
e nenhuma prova da virgindade da moça puder ser encontrada,
ela será trazida à porta da casa de seu pai e
lá, os homens da cidade a apedrejarão até
a morte. Ela fez uma coisa vergonhosa para Israel, sendo promíscua
enquanto estava na casa de seu pai. O mal deve ser expurgado
de entre vocês." (Deuteronômio 22:13/21)
7. O ADULTÉRIO
O adultério e a fornicação
são considerados pecados em todas as religiões.
A Bíblia decreta a sentença de morte para ambos
os adúlteros (Levítico 20:10). O Islam, igualmente,
pune tanto o adúltero como a adúltera (24:2).
Contudo, a definição alcorânica é
muito diferente da definição bíblica. O
adultério, de acordo com o Alcorão, é o
envolvimento de um homem casado ou uma mulher casada em um caso
extraconjugal. A Bíblia somente considera adultério
o caso extraconjugal de uma mulher casada. (Levítico
20:10, Deuteronômio 22:22. Provérbios 6:20/7:27).
"Se um homem é encontrado dormindo com a esposa
de outro homem, ambos devem morrer. Deve-se expurgar o mal de
Israel" (Deuteronômio 22:22).
"Se um homem comete adultério com a esposa de outro
homem, ambos, adúltero e adúltera devem ser colocados
para morrer" (Levítico 20:10).
De acordo com a definição bíblica, se um
homem casado dorme com uma mulher solteira, isto não
é considerado crime de forma nenhuma.
O homem casado, que tem relações extraconjugais
com mulheres solteiras, não é um adúltero
e as mulheres solteiras envolvidas com ele não são
consideradas adúlteras. O crime de adultério é
cometido somente quando um homem, seja casado ou solteiro, dorme
com uma mulher casada. Neste caso, o homem é considerado
adúltero, mesmo que ele não seja casado, e a mulher
é considerada adúltera. Em resumo, o adultério
é qualquer ato sexual ilícito envolvendo mulher
casada. O caso extraconjugal de um homem casado não é,
de per si, um crime na Bíblia. Por que este padrão
moral duplo? De acordo com a Enciclopédia Judia, a esposa
era considerada como posse de seu marido e o adultério
constituía a violação do exclusivo direito
do marido sobre ela; a esposa, como posse do marido, não
tinha direito sobre ele (15). Quer dizer, se um homem tinha
uma relação sexual com uma mulher casada, ele
estaria violando a propriedade de outro homem e, assim, deveria
ser punido.
Nos dias atuais em Israel, se um homem casado se entrega a um
caso extraconjugal com um mulher solteira, seus filhos com esta
mulher são considerados legítimos. Mas, se uma
mulher casada tem um caso com outro homem, seja casado ou solteiro,
seus filhos com este homem são considerados ilegítimos
e bastardos e são proibidos de casar com qualquer outro
judeu, exceto com os convertidos e com outros bastardos. Este
impedimento cessa após a 10a. geração,
quando se presume que a mancha do adultério enfraqueceu-se
(16).
O Alcorão, por outro lado, nunca considera uma mulher
como posse de qualquer homem. O Alcorão eloqüentemente
descreve a relação entre os esposos dizendo:
"E entre os Seus sinais está que Ele criou para
vós companheiros de entre vós mesmos, os quais
vós podeis habitar em tranqüilidade com eles e Ele
colocou amor e misericórdia em vossos corações:
verdadeiramente, nisto há sinais para aqueles que refletem"
(30:21).
Este é o conceito alcorâmico de casamento: amor,
misericórdia e tranqüilidade, não posse e
padrões duplos.
8. JURAMENTOS
De acordo com a Bíblia, um homem deve
cumprir quaisquer juramentos que ele faça a Deus. Ele
não pode quebrar a sua palavra. Por outro lado, o juramento
de uma mulher não cria necessariamente uma obrigação
para ela. Deve ser aprovado pelo seu pai, se ela está
morando em sua casa, ou por seu marido, se ela for casada. Se
um pai/marido não endossa os juramentos de sua filha/esposa,
todas as garantias feitas por ela tornam-se nulas e inócuas:
"Mas, se seu pai a proíbe quando ele a ouve fazer
o juramento, nenhum de seus juramentos ou garantias pelas quais
ela se obrigava, permanecerão ... Seu marido pode confirmar
ou anular qualquer juramento que ela faça ou qualquer
garantia prometida para negar-lhe" (Números 30:2/15).
Por que a palavra de uma mulher não a sujeita de per
si? A resposta é simples: porque ela é propriedade
de seu pai, antes do casamento, ou de seu marido após
o casamento. O controle paterno sobre sua filha era absoluto
até o ponto em que, se ele o desejasse, poderia vendê-la!
Está indicado nos escritos dos rabinos que: "O homem
pode vender sua filha, mas a mulher não pode vender sua
filha; o homem pode contratar casamento para a sua filha, mas
a mulher não pode fazê-lo para sua filha".
(17). A literatura rabínica também indica que
o casamento representa a transferência de controle do
pai para o marido: "o noivado, fazendo da mulher a posse
sacrossanta - a propriedade inviolável -- do marido ...";
Obviamente, se a mulher é considerada propriedade de
alguém, ela não pode dar qualquer garantia que
seu dono não aprove.
É de interesse notar que esta instrução
bíblica, relativa aos juramentos das mulheres, teve repercussões
negativas sobre as mulheres judias e cristãs até
o início deste século. Uma mulher casada, no mundo
ocidental, não tinha status legal. Nenhum ato seu tinha
qualquer valor legal. Seu marido podia repudiar qualquer contrato,
comércio ou negócio feito por ela. As mulheres
no ocidente (as maiores herdeiras do legado judaico-cristão)
eram tidas como incapazes de cumprir contratos porque elas eram
praticamente a posse de alguém. As mulheres ocidentais
sofreram por quase 2 mil anos por causa da postura bíblica
em relação à posição da mulher,
vis-a-vis seus pais e maridos (18).
No Islam, o juramento de cada muçulmano, homem ou mulher,
o/a sujeita. Ninguém tem o poder de repudiar as garantias
de quem quer que seja. Falhar na manutenção de
um juramento solene, feito por um homem ou uma mulher, tem que
ser expiado conforme indicado no Alcorão: "Ele (Deus)
vos chamará pelos vossos juramentos deliberados: como
expiação, alimentai dez pessoas indigentes, da
maneira como alimentais vossa família,. ou vesti-os,
ou libertai um escravo. Se isso estiver além de vossas
posses, jejuai por 3 dias. Esta é a expiação
para os vossos perjúrios. Mantenham, pois, vossos juramentos"
(5:89).
Os companheiros do Profeta Mohammad, homens e mulheres, costumavam
apresentar seus juramentos de submissão a ele pessoalmente.
As mulheres, tanto quanto os homens,vinham livremente até
ele e prestavam seus juramentos: "Ó Profeta, quando
as mulheres crentes vierem a ti para fazer um acordo contigo
de que elas não atribuirão parceiros a Deus, nem
roubarão, ou fornicarão, ou matarão seus
próprios filhos, não matarão ninguém,
nem desobedecerão a ti em qualquer assunto, então
tome este compromisso com elas e peça a Deus o perdão
para os pecados delas. Na verdade, Deus é Perdoador e
o mais Misericordioso (60:12).
Um homem não pode fazer um juramento por conta de sua
filha ou esposa. Nem pode um homem repudiar o juramento feito
por quaisquer de suas parentes femininas.
9. PROPRIEDADE DA
ESPOSA?
As três religiões dividem uma
fé inabalável na importância do casamento
e da vida familiar. Elas também concordam na liderança
do marido sobre a família. No entanto, diferenças
gritantes existem entre as três religiões, com
relação aos limites dessa liderança. A
tradição judaico-cristã, diferente do Islam,
virtualmente estende a liderança do marido até
o direito de posse de sua esposa.
A tradição judaica, com referência ao papel
do marido em relação a sua esposa, origina-se
do conceito de que ele a possui como sua escrava (19). Este
conceito foi a razão que norteou o padrão duplo
nas leis do adultério e na capacidade de o marido anular
os juramentos de sua esposa. Este conceito foi também
o responsável para se negar à esposa qualquer
controle sobre sua propriedade ou ganhos. Assim que a mulher
judia se casava, ela perdia completamente qualquer controle
sobre sua propriedade e ganhos para o seu marido. Os rabinos
judeus afirmavam que o direito do marido sobre a propriedade
de sua esposa era um corolário de sua posse sobre ela:
"Desde que alguém entre na posse da mulher não
deveria entrar na posse de sua propriedade também?"
, e "Desde que ele tenha adquirido a mulher, não
deve ele adquirir sua propriedade também?" (20).
Assim, o casamento determinava que a mulher mais rica ficasse
praticamente sem um tostão. O Talmud descreve a situação
financeira da esposa como se segue:
"Como pode uma mulher ter alguma coisa; o que quer que
seja dela, pertence ao seu marido? O que é dele é
dele e o que é dela é também dele ... Seus
ganhos, e o que ela possa encontrar nas ruas, também
são dele. Os artigos domésticos, mesmo as migalhas
de pão sobre a mesa, são dele. Ter um convidado
em sua casa e alimentá-lo é roubar de seu marido
..." (San. 71a, Git. 62a.).
A questão é que a propriedade da mulher judia
significava atrair pretendentes. A família judia fixava
para sua filha uma quota representativa do estado de seu pai,
a ser usada como dote em caso de casamento. Era este dote que
tornava as filhas judias um peso inoportuno para seus pais.
O pai tinha que educar sua filha por anos e então prepará-la
para o casamento, providenciando um grande dote. Assim, a moça
na família judia era uma obrigação e não
um direito (21). Esta responsabilidade explica por que o nascimento
de uma filha não era celebrado com alegria nas antigas
sociedades judias (ver a seção "Filhas Vergonhosas?".
O dote era o presente de casamento apresentado ao noivo sob
os termos de contrato. O marido agia como o proprietário
do dote mas não podia vendê-lo. A noiva perdia
qualquer controle sobre o dote no momento do casamento. Além
disso, esperava-se dela trabalhar após o casamento e
todos os seus ganhos tinham que ir par seu marido, como paga
por sua manutenção, a qual era obrigação
dele. Ela poderia ter de volta sua propriedade somente em duas
situações: divórcio ou a morte do marido.
Se ela morresse primeiro, ele herdaria sua propriedade. No caso
da morte do marido, a esposa poderia retomar sua propriedade
de antes do casamento, mas não se habilitava a herdar
qualquer cota de propriedade do marido falecido. Deve-se acrescentar
que o noivo também tinha que apresentar seu presente
de casamento à noiva, contudo, de novo, ele era praticamente
o proprietário deste presente enquanto eles permanecessem
casados. (22).
O cristianismo, até recentemente, seguiu a mesma tradição
judaica. No império cristão romano (após
Constantino), tanto as autoridades civis como as religiosas,
exigiam um acordo sobre a propriedade, como condição
para o reconhecimento do casamento. As famílias ofereciam
às suas filhas aumento dos dotes e, como resultado, os
homens tendiam a se casar mais cedo, enquanto que as famílias
retardavam o casamento delas até o máximo. (23).
Pela lei canônica, uma esposa se habilitava à restituição
de seu dote se o casamento fosse anulado, a menos que ela fosse
culpada de adultério. Neste caso, ela perdia seu direito
ao dote, o qual permanecia nas mãos do marido (24). Pelas
leis canônica e civil, uma mulher casada, na Europa cristã
e na América, até o final do séc. XIX e
início do séc. XX, perdia os direitos a sua propriedade.
Os direitos da mulher inglesa, por exemplo, foram compilados
e publicados em l632. Estes "direitos" incluíam:
"Aquilo que o marido possui é seu. Aquilo que a
esposa tem é do marido" (25)
A esposa não somente perdia sua propriedade após
o casamento, como perdia sua personalidade também. Nenhum
ato jurídico dela tinha valor legal. Seu marido podia
repudiar qualquer compra ou presente feito por ela como sendo
nulo de qualquer valor legal. A pessoa com quem ela tivesse
contratado era tomado como um criminoso por ter participado
de uma fraude. Além disso, ela não podia processar,
sequer seu marido, nem ser processada (26). Uma mulher casada
era praticamente tratada como uma criança aos olhos da
lei. A esposa simplesmente pertencia a seu marido e, por isso,
ela perdia sua propriedade, sua personalidade jurídica
e seu nome de família (27)
O Islam, desde o séc. VII d.C, garantiu às mulheres
casadas personalidade independente, conquista essa que as mulheres
ocidentais se viram privadas até muito recentemente.
No Islam, a noiva e sua família não têm
obrigação de presentear o noivo. A moça,
numa família muçulmana, não é responsável.
Uma mulher é tão dignificada no Islam que ela
não precisa presentear ninguém, a fim de atrair
maridos em potencial. É o noivo que precisa presentear
a noiva com um presente de casamento. Este presente é
considerado sua propriedade e, nem o noivo nem a família
da noiva têm qualquer direito ou controle sobre tal presente.
Em algumas sociedades muçulmanas de hoje, um presente
de casamento no valor de US$100.000,00 não é incomum.
A noiva fica com o seu presente de casamento, mesmo que mais
tarde ela se divorcie. Não é permitida a participação
do marido na propriedade de sua esposa, a não ser que
ela a ofereça a ele por sua livre e espontânea
vontade (29). O Alcorão estabelece sua posição
a esse respeito muito claramente:
"E concedei os dotes que pertencem às mulheres;
mas se elas, de boa vontade, conceder-vos uma parte, aceitai-o
e desfrutai-o com bom proveito" (4:4).
A propriedade e os ganhos da esposa estão sob seu completo
controle e para seu uso somente, uma vez que a sua manutenção
e a das crianças é responsabilidade do marido
(30). Não importa quão rica seja a esposa, ela
não é obrigada a agir como co-provedora para a
família, a menos que, voluntariamente, escolha fazê-lo.
O casal herda entre si. Além disso, uma mulher casada
no Islam conserva sua personalidade legal independente e o nome
se sua família (3l). Um juiz americano, certa vez, comentando
sobre os direitos das mulheres muçulmanas, disse: "Uma
muçulmana pode se casar 10 vezes, mas sua individualidade
não é absorvida pela de seus vários maridos.
Ela é um planeta solar, com um nome e uma personalidade
jurídica própria" (32).
10. DIVÓRCIO
As três religiões têm
diferenças importantes em suas posições
em relação ao divórcio. O cristianismo
abomina o divórcio complemente. O Novo Testamento, inequivocamente,
advoga a indissolubilidade do casamento. Atribui-se a Jesus
o ter dito, "mas eu digo a vocês que qualquer que
se divorcie de sua esposa, exceto pôr infidelidade, transforma
a mulher em adúltera, e qualquer um que se case com uma
mulher divorciada comete adultério" (Mateus, 5:32).
Este ideal intransigente é, sem dúvida, irreal.
Ele pressupõe um estado de perfeição moral
que as sociedades humanas jamais alcançaram. Quando um
casal percebe que sua vida conjugal não tem mais jeito,
negar o divórcio em nada irá ajudá-lo.
Forçar casais, que não se dão bem, a viverem
juntos contra suas vontades não produz qualquer efeito,
além de não ser razoável. Não espanta
que o mundo cristão tenha sido obrigado a sancionar o
divórcio.
O judaísmo, por outro lado, permite o divórcio,
mesmo sem qualquer razão ou causa. O Velho Testamento
dá ao marido o direito de se divorciar de sua esposa,
mesmo que ele apenas se antipatize por ela: "Se um homem
se casa com uma mulher que venha a se tornar desagradável
a ele, porque ele descobre alguma coisa indecente sobre ela,
ele assina o certificado de divórcio e o dá para
a esposa e a manda embora de sua casa. E se, depois que ela
deixar a sua casa, e se tornar a esposa de um outro homem, e
esse segundo marido não a quiser mais, se ele emitir
o certificado de divórcio, e a mandar embora de sua casa,
ou se ele morrer, aquele primeiro marido, que havia se divorciado
dela, não pode mais se casar com ela" (Deuteronômio
24:1/4).
Os versos acima, causaram alguns debates consideráveis
entre os exegetas judeus, por causa da discordância com
o significado das palavras "desagradar", "indecência"
e "antipatizar", mencionadas neles. O Talmud registra
suas diferentes opiniões: "A escola de Shamai entendeu
que um homem não deve se divorciar de sua esposa, a menos
que ela seja culpada de alguma má conduta sexual, enquanto
que a escola de Hillel diz que ele pode se divorciar, mesmo
que ela simplesmente tenha quebrado um prato. O Rabino Akiba
diz que o homem pode se divorciar dela simplesmente porque ele
encontrou uma mulher mais bonita do que sua esposa" (Gittin
90 a-b).
O Novo Testamento segue a opinião dos Shamaitas, enquanto
que a lei judaica tem seguido a opinião dos Hillelitas
e a do Rabino Akiba (33).
Desde que o ponto de vista dos Hillelitas tem prevalecido, a
tradição da lei judaica, de permitir o divórcio
sem uma causa forte, foi quebrada. O Velho Testamento não
só dá ao marido o direito ao divórcio de
uma esposa "desagradável", como considera o
divórcio de uma "esposa má" uma obrigação:
"Uma esposa má traz humilhação, olhar
abatido e coração ofendido. Mãos frouxas
e joelhos fracos tem o homem cuja mulher falhou em fazê-lo
feliz. A mulher é a origem do pecado e é por causa
dela que nós todos vamos morrer".
"Não deixe que o vazamento da cisterna goteje, nem
permita que uma esposa má diga do que ela gosta. Se ela
não aceitar o seu controle, divorcie-se dela e mande-a
embora" (Eclesiastes 25:25).
O Talmud registrava uma série de atos das esposas, pelos
quais os maridos eram obrigados a se divorciar delas: "se
ela comeu na rua, se ela bebeu avidamente na rua, se ela amamentou
na rua, em cada caso, o Rabino Meir diz que ela deve deixar
seu marido" (Git. 89a). O Talmud também torna obrigatório
o divórcio de uma mulher estéril (que não
gera filhos por um período de 10 anos): "Nossos
rabinos ensinaram: Se um homem tomou uma esposa e viveu com
ela por 10 anos e ela não gerou filhos, ele deve se divorciar
dela (Yeb.64a).
As esposas, por outro lado, não podiam iniciar o divórcio
de acordo com a lei judaica. A esposa judia, contudo, poderia
reclamar o direito ao divórcio perante uma corte judia,
desde que apresentasse uma forte razão para tal. São
muito poucas coisas que uma esposa podia apresentar para pedir
o divórcio: um marido com defeitos físicos ou
doença de pele, um marido que não cumprisse suas
responsabilidades conjugais, etc. A Corte pode ajudar na reclamação
da esposa, mas não pode dissolver o casamento. Somente
o marido pode fazê-lo. A corte podia açoitar, mandar
prender e excomungar o marido para obrigá-lo a conceder
o certificado de divórcio. Contudo, se o marido é
teimoso o suficiente, ele pode se recusar a garantir o direito
de divórcio à sua esposa e mantê-la amarrada
a ele indefinidamente. Pior ainda, ele pode deserdá-la
sem lhe garantir o divórcio e deixá-la descasada
e sem estar divorciada. Ele pode se casar com outra mulher,
ou mesmo morar com qualquer mulher solteira fora do lar e ter
filhos desta última (estas crianças são
consideradas legítimas pela lei judaica). A esposa deserdada,
por outro lado, não pode se casar com ninguém,
porque ela será considerada adúltera e os filhos
de uma futura união são considerados ilegítimos
por 10 gerações. Uma mulher em tal situação
é chamada de "agunah" (mulher presa) (34).
Nos USA, hoje, há aproximadamente de 1000 a 1500 mulheres
judias que são "agunot", enquanto que em Israel
o seu número pode estar acima dos 1600. Os maridos podem
extorquir milhares de dólares dessas mulheres presas
em troca de um divórcio de acordo com a lei judaica (35).
O Islam ocupa o meio termo entre o Cristianismo e o Judaísmo,
com relação ao divórcio. O casamento no
Islam é uma bênção santificada, que
não deve ser quebrada, exceto por razões relevantes.
Os casais são instruídos a procurar todos os remédios
possíveis, sempre que seus casamentos estiverem sob ameaça.
O divórcio não é para ser usual, exceto
quando não há qualquer outro caminho ou solução.
Resumidamente, o Islam reconhece o divórcio, contudo
ele o desencoraja por todos os meios possíveis.
O Islam reconhece o direito de ambos os parceiros terminarem
suas relações matrimoniais. O Islam dá
ao marido o direito ao divórcio. Além disso, o
Islam, diferentemente do Judaísmo, garante à esposa
o direito de dissolver o casamento através do que é
conhecido como "Khula" (36). Se o marido dissolve
o casamento, ele não pode retirar qualquer dos presentes
de casamento que ele tenha dado a ela. O Alcorão explicitamente
proíbe aos maridos divorciados de terem de volta os presentes
de casamento, não importando quanto eles tenham custado.
"Mas, se vos decidirdes tomar outra esposa no lugar da
primeira, mesmo que vós tenhais dado à primeira
o maior tesouro como dote, não o diminua em um pedaço.
Tomá-lo-íeis de volta, com uma falsa imputação
de erro manifesto?" (4:20).
No caso de ser a esposa a escolher o fim do casamento, ela pode
devolver os presentes a seu marido. Retornar os presentes de
casamento é uma compensação para o marido
que gostaria de manter a esposa, enquanto que ela escolheu deixá-lo.
O Alcorão instruiu os muçulmanos a não
tomar de volta os presentes que eles deram às esposas,
exceto no caso de a esposa escolher dissolver o casamento:
"Não é lícito para vós (homens)
tomar de volta quaisquer dos presentes, exceto quando ambas
as partes temerem não ser capazes de manter os limites
ordenados por Alá. Não há culpa para qualquer
um de vós se ela der alguma coisa por sua liberdade.
Tais são os limites ordenados por Alá, assim não
os transgridam" (2.229).
Certa vez uma mulher veio ao Profeta procurando a dissolução
de seu casamento. Ela disse ao Profeta que não tinha
qualquer queixa contra o marido, com relação ao
caráter ou aos modos. Seu único problema era que
ela, honestamente, não gostava dele a ponto de ser capaz
de viver com ele por muito tempo. O Profeta lhe perguntou. "Você
lhe daria seu quintal de volta" (o presente de casamento
que ela havia recebido) e ela disse: "Sim". O Profeta
então orientou o homem a tomar de volta o seu quintal
e a aceitar a dissolução de seu casamento (Bukhari).
Em alguns casos, uma esposa muçulmana pode querer manter
seu casamento, mas se acha obrigada a pedir o divórcio
por causa de alguns motivos relevantes, tais : crueldade do
marido, deserção sem razão, um marido que
não preenche suas responsabilidade conjugais, etc. Nestes
casos, a corte muçulmana dissolve o casamento (37).
Em resumo, o Islam tem oferecido à mulher muçulmana
alguns direitos inigualáveis: ela pode terminar o casamento
através da "Khula" e pedir o divórcio.
Uma esposa muçulmana não pode nunca se tornar
prisioneira de um marido recalcitrante. Foram esses direitos
que seduziram as mulheres judias, que viviam nas primeiras sociedades
islâmicas do séc. VII, d.C., a procurarem obter
os certificados de divórcio de seus maridos judeus nas
cortes muçulmanas. Os rabinos declararam aqueles certificados
nulos e inválidos. A fim de terminar esta prática,
os rabinos deram novos direitos e privilégios às
mulheres judias, na expectativa de enfraquecer o encanto das
cortes muçulmanas. Não se ofereciam às
mulheres judias, que viviam nos países cristãos,
qualquer privilégio semelhante onde a lei romana de divórcio,
então praticada, não era mais atraente do que
lei judia (38).
Agora focalizemos nossa atenção sobre como o Islam
desencoraja o divórcio. O Profeta do Islam disse aos
crentes que: "entre todos os atos lícitos, o divórcio
é o mais odiado por Deus" (Abu Dawood). Um muçulmano
não deve se divorciar de sua esposa, apenas porque ele
não se simpatiza mais com ela. O Alcorão orienta
o muçulmano a ser gentil com suas esposas, mesmo em caso
de emoções fortes ou sentimentos de desagrado:
"Vivei com elas (vossas esposas) em bases de gentileza
e equidade. Se vós vos antipatizais delas pode ser que
estejais antipatizando com alguma coisa que Alá colocou
como um grande bem" (4:19). O Profeta Mohammad deu uma
orientação semelhante: "Um crente não
deve odiar uma crente. Se ele não gosta de alguma coisa,
ele poderá se agradar de outras" (Muslim). O Profeta
também enfatizou que os melhores muçulmanos eram
aqueles que eram os melhores para as suas esposas: "Os
crentes que mostram a fé mais perfeita são aqueles
que têm o melhor caráter e o melhor dentre vocês
é aquele que é o melhor com suas esposas"
(Tirmidthi).
Contudo, o Islam é uma religião prática
e reconhece que há algumas circunstâncias nas quais
o casamento chega à beira do colapso.Em tais casos, o
simples conselho de gentileza ou autocontrole não é
a solução viável. Assim, o que fazer a
fim de salvar o casamento nesses casos? O Alcorão oferece
alguns conselhos práticos para os casais cujo parceiro
é o injusto. Para o marido, cuja má-conduta da
esposa está ameaçando o casamento, o Alcorão
dá 4 tipos de conselho, como detalhado nos versos seguintes:
"... Quanto àquelas, de quem suspeitais deslealdade,
admoestai-as (na primeira vez), abandonai os seus elitos (na
segunda vez) e castigai-as (na terceira vez); porém,
se vos obedecerem, não procureis meios contra elas. Sabei
que Deus é Excelso, Magnânimo.
E se temerdes desacordo entre ambos (esposo e esposa), apelai
para um árbrito da família dele e outro da dela.
Se ambos desejarem se reconciliar, Deus os reconciliará,
porque é Sapiente, Inteiradíssimo."(4:34/35).
Os três primeiros devem ser tentados primeiro. Se não
funcionar, então a ajuda das famílias envolvidas
deve ser procurada. Deve-se notar que à luz dos versículos
acima, bater numa esposa rebelde é uma medida temporária
e que está colocada em terceiro lugar para os casos de
extrema necessidade, na esperança de que isto possa remediar
a esposa injusta. Se isto funcionar, não se permite ao
marido, sob qualquer meio, de continuar a molestar. Se não
funcionar, não deve usar esta medida por muito tempo
e o passo final da reconciliação, assistida pela
família, deve ser explorada. O Profeta Mohammad orientou
os maridos muçulmanos a não recorrerem a tais
medidas, exceto em casos extremos, tais como atos lascivos cometidos
pela esposa. Mesmo nestes casos, a punição deveria
ser branda e, se a esposa desistisse, o marido não deveria
irritá-la. "No caso de elas serem culpadas de lascívia,
vós podeis deixá-las sozinhas em suas camas e
infligir a eles punição branda. Se elas forem
obedientes, não procurais motivos de aborrecimento contra
elas." (Tirmidthi). Além disso, o Profeta do Islam
condenou qualquer surra injustificada. Algumas esposas muçulmanas
se queixaram a ele de que seus maridos lhes batiam. Ouvindo
isso, o Profeta categoricamente estabeleceu: "Aqueles que
fazem isso (bater nas esposas) não são os melhores
dentre vós" (Abu Dawood). Deve ser lembrado também
que o Profeta disse, com relação a essa questão:
"Os melhores dentre vós são aqueles que são
os melhores com sua família, e eu sou o melhor dentre
vós para a minha família" (Tirmidthi). O
Profeta aconselhou uma muçulmana, de nome Fatimah bint
Qais, a não se casar com um determinado homem porque
ele era conhecido por bater em mulheres: "Eu fui ao Profeta
e disse: Abul Jahm e Mu´awiah me propuseram casamento.
O Profeta (a titulo de conselho) disse: Quanto a Mu´awiah,
ele é muito pobre, e quanto a Abul Jahm, ele está
acostumado a bater em mulheres" (Muslim).
Deve-se notar que o Talmud sanciona a surra na esposa, como
castigo com fins disciplinares (39). O marido não fica
restrito àqueles casos de lascívia. Ele pode bater
em sua esposa, mesmo que ela se recuse a fazer seus serviços
domésticos. Além disso, ele não se limita
apenas àqueles casos de punição leve. Ele
pode quebrar a teimosia da esposa com chibatadas ou deixando-a
com fome (40).
Para a esposa, cuja a má conduta do marido é causa
para o fim do casamento, o Alcorão oferece os seguinte
conselho: "Se a esposa teme a crueldade ou a deserção
em sua parte, não há mal que eles façam
um acordo amigável entre si; e tal acordo é o
melhor" (4:128). Neste caso, aconselha-se à mulher
a procurar a reconciliação com seu marido (com
ou sem a assistência familiar). É de se notar que
o Alcorão não aconselha a esposa a valer-se da
abstenção do sexo. A razão para este disparate
pode ser para proteger a esposa de uma reação
física violenta pelo já raivoso marido.
Tal reação física violenta será
muito pior, tanto para o marido quanto para a esposa, além
de prejudicar mais ainda o casamento. Alguns exegetas têm
sugerido que a corte pode aplicar aquelas medidas contra o marido
em nome da esposa. Quer dizer, a corte primeiro repreende o
marido rebelde e, então, proíbe-o de deitar-se
com ela e, finalmente, executa uma surra simbólica (4l).
Em resumo, o Islam oferece aos casais muçulmanos conselhos
muito mais viáveis para salvar-lhes o casamento em caso
de problemas e tensão. Se uma das partes prejudica a
relação matrimonial, a outra parte é aconselhada
pelo Alcorão a fazer o que for possível e efetivo
para salvar esta sagrada bênção. Se todas
as providências falharem, o Islam permite aos casais se
separarem pacífica e cabalmente.
11. MÃES
Em muitas passagens, o Velho Testamento recomenda
tratamento gentil e atencioso aos pais e condena aqueles que
os desonram. Por exemplo, "Se alguém amaldiçoa
seu pai ou sua mãe, ele deve morrer" (Levítico
20:9) e "Um homem sábio traz alegria para seu pai,
mas um homem tolo despreza sua mãe" (Provérbios
15:20). Embora honrar o pai somente seja mencionado em alguns
lugares, por exemplo, "Um homem sábio presta atenção
às instruções de seu pai" (Provérbio
(13:1), a mãe nunca é mencionada. Além
disso, não há ênfase especial para o tratamento
gentil à mãe, como um sinal de apreço pelo
seu grande sofrimento pelo parto e pela amamentação.
Por outro lado, as mães não herdam nada de seus
filhos, como seus pais herdam (42).
É difícil falar sobre o Novo Testamento como uma
escritura que se lembre de honrar a mãe. Pelo contrário,
tem-se a impressão de que o Novo Testamento considera
o tratamento gentil às mães como um impedimento
para o caminho de Deus. De acordo com o Novo Testamento, ninguém
pode tornar-se um bom cristão, digno de tornar-se um
discípulo de Cristo, a menos que ele odeie sua mãe.
Atribui-se a Jesus ter dito: "Se alguém vem a mim
e não odeia seu pai e sua mãe, sua esposa e filhos,
seus irmãos e irmãs - sim, mesmo sua própria
vida - ele não pode ser meu discípulo" (Lucas
14:26).
Além disso, o Novo Testamento pinta um quadro de Jesus
como indiferente, ou mesmo desrespeitoso, em relação
a sua própria mãe. Por exemplo, quando ela chegou
procurando por ele, enquanto ele pregava para multidão,
ele não se preocupou em ir ter com ela: "Então,
a mãe e os irmãos de Jesus chegaram. Em pé,
do lado de fora, eles pediram a alguém para chamá-lo.
Uma multidão estava sentada em volta dele e eles lhe
disseram: Sua mãe e seus irmãos estão lá
fora procurando-o. Quem são minha mãe e meus irmãos?,
ele perguntou. Então ele olhou para aqueles que estavam
sentados à volta dele e disse: Estes são minha
mãe e meus irmãos! Quem quer que faça a
vontade de Deus é meu irmão e irmã e mãe"
(Marcos 3:3l/35)
Alguém pode argumentar que Jesus estava tentando ensinar
a seus ouvintes uma importante lição de que os
laços religiosos não são menos importantes
do que os laços familiares. Contudo, ele podia ter ensinado
aos seus ouvintes a mesma lição sem mostrar uma
tal absoluta indiferença para com sua mãe. A mesma
atitude desrespeitosa aparece quando ele se recusou a endossar
uma declaração feita por um membro de sua audiência,
abençoando o papel de sua mãe, que o havia gerado
e alimentado: "Como Jesus dissesse estas coisas, uma mulher
na multidão o chamou ,"abençoada seja a mãe
que lhe deu à luz e o alimentou". Ele respondeu:
"Abençoados antes sejam aqueles cujos corações
ouvem a palavra de Deus e obedecem" (Lucas 11:27/28);
Se uma mãe, com a estatura da virgem Maria, foi tratada
com tal descortesia, conforme relatado no Novo Testamento, por
um filho da estatura de Jesus Cristo, o que dizer então
do tratamento dispensado pelos filhos cristãos comuns
às suas mães cristãs?
No Islam, a honra, o respeito e a estima pela maternidade é
sem paralelo. O Alcorão coloca a importância da
gentileza para com os pais vindo em segundo lugar, após
a adoração a Deus, o Poderoso:
"O teu Senhor decretou que não adoreis ninguém
a não ser Ele, que sejais indulgentes com os vossos pais,
mesmo que a velhice alcance a um deles ou a ambos, em vossa
companhia: não os reproveis, nem os rejeiteis;outrossim,
dirigi-lhes palavras honrosas. E estende sobre eles a asa da
humildade e dizei: Ó Senhor meu, tenha misericórdia
de ambos, como eles tiveram de mim, criando-me desde pequeno"
(17:23/24).
O Alcorão em muitas outras partes dá ênfase
especial para o grande papel da mãe que dá à
luz e alimenta o filho:
"E recomendamos ao homem benevolência para com os
seus pais. Sua mãe o suporta entre dores e sua desmama
é aos dois anos. Mostre gratidão a Mim e a seus
pais" (31:14)
Este lugar muito especial para as mães no Islam, foi
descrito eloqüentemente pelo Profeta: "Um homem perguntou
ao Profeta: "A quem deve honrar mais?" O Profeta respondeu:
"Sua mãe". "E quem vem depois?" perguntou
o homem. O Profeta respondeu: "Sua mãe". "E
quem vem depois?" perguntou o homem. O Profeta respondeu:
"Sua mãe". E que vem depois?", perguntou
o homem. O profeta respondeu: "Seu pai". (Bukhari
e Muslim).
Entre os poucos preceitos do Islam, que os muçulmanos
ainda observam fervorosamente até os dias atuais, é
o tratamento atencioso para com as mães. A honra que
as mães muçulmanas recebem de seus filhos e filhas
é exemplar. As relações afetuosas entre
as mães muçulmanas e seus filhos, e o profundo
respeito com que os homens se aproximam de suas mães,
deixa os ocidentais espantados (43).
12. A HERANÇA
FEMININA
Uma das diferenças mais importantes
entre o Alcorão e a Bíblia é a que se refere
ao direito de herança à propriedade de parentes
mortos. A postura bíblica foi sucintamente descrita pelo
Rabino Epstein: "As rígidas tradições
desde os tempos bíblicos não dão aos membros
femininos de uma casa, esposa e filhas, o direito de sucessão
ao patrimônio familiar. Nos esquemas mais primitivos de
sucessão, os membros femininos da família eram
considerados parte do patrimônio e tão remoto seu
direito na herança quanto o de um escravo. Ao passo que
na lei Mosaica, as filhas eram admitidas na sucessão,
no caso de não haver homem com esse direito, embora a
esposa não tivesse reconhecido esse direito, mesmo em
condições semelhantes." (44) . Por que as
mulheres eram consideradas como parte do patrimônio familiar?
O Rabino Epstein respondeu: "Elas são propriedades
dos pais, antes do casamento; e depois, dos maridos." (45)
As regras bíblicas de herança estão sublinhadas
em Números 27:1/11. Uma esposa não tem participação
no patrimônio de seu marido, enquanto que ele é
seu primeiro herdeiro, mesmo antes de seus filhos. Uma filha
pode herdar somente no caso de não existir herdeiros
masculinos. A mãe não é herdeira, enquanto
que o pai é. Viúvas e filhas, no caso de existirem
meninos, ficavam por conta dos herdeiros masculinos para o seu
sustento. Por isso que as viúvas e órfãs
estavam entre os membros mais destituídos da sociedade
judaica.
O cristianismo seguiu estes padrões por muito tempo.
Tanto as leis civis como as eclesiásticas impediam as
filhas de dividirem com seus irmãos o patrimônio
do pai. Além disso, as viúvas eram privadas de
qualquer direito à herança. Estas leis iníquas
sobreviveram até o final do século passado (46).
Entre os árabes pagãos antes do Islam, os direitos
de herança eram confinados exclusivamente aos parentes
masculinos. O Alcorão aboliu todos esses costumes injustos
e deu a todos os parentes femininos participação
na herança:
"Às mulheres também corresponde uma parte
do que tenham deixado os pais e parentes, quer seja pequena
quer seja grande, uma quantia determinada" (4:7).
As mães muçulmanas, esposas, filhas e irmãs
receberam o direito à herança 1300 anos antes
de os europeus reconhecerem sequer que aqueles direitos existiam.
A divisão da herança é um assunto vasto,
com uma grande quantidade de detalhes (4:7,11, 12, 176). A regra
geral é que a parte da mulher é a metade do que
o homem recebe, exceto nos casos em que a mãe recebe
parte igual a do pai. Se tomada isoladamente, esta regra geral
referente a homens e mulheres pode parecer desfavorável.
A fim de compreendermos a razão por detrás desta
regra, devemos ter em conta o fato de que as obrigações
financeiras do homem muçulmano excedem em muito às
obrigações das mulheres (ver a seção
"A Propriedade da Esposa"). Um noivo deve providenciar
para sua noiva o presente de casamento. Este presente se torna
posse exclusiva da noiva e permanece assim, mesmo que mais tarde
venha a se divorciar. A noiva não tem obrigação
de presentear seu noivo. Além disso, os maridos muçulmanos
são onerados com a manutenção de sua esposa
e filhos. A esposa, por outro lado, não é obrigada
a socorrê-lo no cumprimento daquela obrigação.
Sua propriedade e ganhos são para seu uso exclusivo,
a não ser que ela voluntariamente os ofereça a
seu marido. Além disso, todo mundo percebe que o Islam
advoga veementemente a vida familiar. Ele encoraja fortemente
os jovens a se casarem, desencoraja o divórcio e não
vê o celibato como uma virtude. Numa verdadeira sociedade
islâmica, a vida familiar é a norma e a vida de
solteiro é uma exceção rara. Quer dizer,
todos os homens e mulheres em idade de se casarem são
casados na sociedade islâmica. À luz desses fatos,
pode-se perceber que o homem muçulmano, em geral, tem
uma grande responsabilidade financeira e que, por isso, as regras
de herança significam uma compensação para
este desequilíbrio, de forma que a sociedade possa viver
livre de todas as lutas de classe ou de sexo. Após uma
simples comparação entre os direitos e deveres
financeiros da mulher muçulmana, uma muçulmana
inglesa concluiu que o Islam tratou as mulheres não só
favoravelmente, mas também generosamente (47).
13. A CONDIÇÃO
DAS VIÚVAS O
Velho Testamento não reconhecia o
direito de herança a elas, e por isso as viúvas
eram as mais vulneráveis entre a população
judaica. Os parentes masculinos, que herdavam todo o patrimônio
do marido morto, sustentavam a mulher com a administração
desse patrimônio. Contudo, as viúvas não
tinha meios de se assegurarem que esta provisão estava
sendo cumprida e, por isso, viviam pela misericórdia
dos outros. Assim, as viúvas estavam situadas entre as
classes mais baixas da antiga Israel e a viuvez era considerada
um símbolo de grande degradação (Isaías
54:4). Mas, a condição da viúva na tradição
bíblica ia mesmo além de sua exclusão na
propriedade do marido.
De acordo com o Gênesis 38,. as viúvas sem filhos
deviam se casar com o irmão de seus maridos, mesmo que
ele já fosse casado, pois, dessa maneira, ele podia providenciar
uma descendência para o seu irmão morto e, assim,
assegurar que o nome do irmão não morresse. Judá
disse a Onan, "Deite-se com a esposa de seu irmão
e cumpra com o seu dever para com ela como um cunhado, a fim
de gerar descendência para o seu irmão". (Gênesis
38:8).
O consentimento da viúva para este casamento não
era exigido. A viúva era tratada como parte da propriedade
do marido morto e sua principal função era assegurar
a posteridade para o seu marido. Esta lei bíblica ainda
hoje é praticada em Israel (48). Uma viúva sem
filhos em Israel é legada ao irmão de seu marido.
Se o irmão é muito jovem para casar, ela tem que
esperar até ele atingir a idade. Se o cunhado se recusar
a casar com ela, então ela fica livre para se casar com
um homem de sua escolha. Não é incomum em Israel
que as viúvas sejam submetidas à chantagem por
parte de seus cunhados a fim de ganharem a sua liberdade.
Os árabes pagãos antes do Islam, tinham práticas
semelhantes. Uma viúva era considerada uma parte da propriedade
do marido a ser legada aos herdeiros masculinos e comumente
ela era dada em casamento ao filho mais velho do marido falecido
com outra esposa. O Alcorão sarcasticamente atacou e
aboliu este costume degradante:
"Não vos caseis com as mulheres que desposaram vossos
pais - exceto fato consumado no passado - porque realmente é
um costume vergonhoso, odiento e abominável (4:22).
As viúvas e as mulheres divorciadas eram tão mal
vistas na tradição bíblica que um sacerdote
não podia se casar com uma viúva, uma divorciada
ou uma prostituta: "A mulher com quem ele (sacerdote) se
casar deve ser virgem. Ele não deve se casar com uma
viúva, uma divorciada ou uma mulher corrompida pela prostituição,
mas somente com uma virgem de seu próprio povo e assim
ele não conspurcará sua descendência entre
o seu povo" (Levítico 2l:13/15)
Atualmente em Israel, um descendente da casta Cohen (os sacerdotes
dos dias do Templo) não pode se casar com uma divorciada,
uma viúva ou uma prostituta (49). Na legislação
judaica, uma mulher que enviuvou três vezes, com todos
os três maridos morrendo de causa natural, é considerada
"fatal" e proibida de casar de novo (50). O Alcorão,
por outro lado, não reconhece castas ou pessoas fatais.
Viúvas e divorciadas têm liberdade para se casarem
com quem quer que seja que elas escolham. Não há
estigma ligado ao divórcio ou à viuvez no Alcorão:
"Quando vos divorciardes das mulheres e elas tenham cumprido
o seu período (três menstruações),
tomai-as de volta eqüitativamente ou libertai-as eqüitativamente.
Não as tomeis de volta com o intuito de injuriá-las
injustamente, porque quem tal o fizer errará por sua
própria conta. Não trateis dos sinais de Alá
como zombaria" (2:23l)
"Se algum de vós vier a falecer e deixar viúvas,
elas deverão aguardar quatro meses e dez dias. Quando
elas tiverem cumprido seu período, não sereis
responsáveis pelo que elas fizerem de suas vidas honestamente"
(2.240)
14. POLIGAMIA
Passemos agora para a importante questão
que é a poligamia. A poligamia é uma prática
muito antiga, encontrada em muitas sociedades humanas. A Bíblia
não condenou a poligamia. Pelo contrário, o Velho
Testamento e os escritos rabínicos freqüentemente
atestam a legalidade da poligamia. Dizem que o Rei Salomão
teve 700 esposas e 300 concubinas (Reis 11:3). Também
o Rei Davi teve muitas esposas e concubinas (2 Samuel 5:13).
O Velho Testamento tem algumas injunções em como
distribuir a propriedade de um homem entre seus filhos de diferentes
mulheres (Deuteronômio 22:7). A única restrição
com relação à poligamia é a proibição
de tomar uma irmã da esposa como uma esposa rival (Levítico
18:18). O Talmud aconselha a um máximo de 4 esposas (51).
Os judeus europeus continuaram a praticar a poligamia até
o século XVI.
Os judeus orientais praticavam a poligamia regularmente até
a chegada a Israel, onde ela foi proibida por lei. Contudo,
na lei religiosa, que sobrepuja a lei civil em tais casos, a
poligamia é permitida (52).
E com relação ao Novo Testamento? De acordo com
o padre Eugene Hilman, em seu penetrante livro, a poligamia
é reconsiderada, "Em parte alguma do Novo Testamento
há uma orientação expressa de que o casamento
deve ser monogâmico ou qualquer orientação
que proíba a poligamia". (53). Além disso,
Jesus não falou contra a poligamia, embora ela fosse
praticada pelos judeus de sua época. O padre Hillman
chama a atenção para o fato de que a Igreja de
Roma proibiu a poligamia, a fim de se adequar à cultura
Greco-romana (que prescrevia somente uma esposa legal, enquanto
que tolerava o concubinato e a prostituição).
Ele citou Santo Agostinho, "Agora, em nosso tempo, e de
acordo com o costume romano, não é mais permitido
tomar uma outra esposa" (54). As igrejas africanas e os
cristãos africanos muitas vezes lembram a seus irmãos
europeus que a proibição da poligamia é
mais uma tradição cultural do que uma autêntica
injunção cristã.
O Alcorão também permitiu a poligamia, mas não
sem algumas restrições: "Se vós temeis
não serdes capazes de conviver justamente com os órfãos,
casai com mulheres de sua escolha, 2 ou 3 ou 4 vezes; mas se
temerdes que que não sereis capazes de conviver justamente
com elas, então casai somente com uma" (4:13). O
Alcorão, ao contrário da Bíblia, limitou
o número de esposas a 4, sob a estrita condição
de que as esposas sejam tratadas igualmente. Isto não
deve ser entendido como uma exortação a que os
crentes pratiquem a poligamia, ou que a poligamia seja considerada
como um ideal. Em outras palavras, o Alcorão "tolera"
ou "permite" a poligamia, e não mais, mas por
que? Por que a poligamia é permitida? A resposta é
simples: há lugares e épocas em que razões
morais e sociais compelem para a poligamia. Como os versos do
Alcorão acima indicam, a questão da poligamia
no Islam não pode ser entendida como parte das obrigações
da comunidade com relação aos órfãos
e viúvas. O Islam, como uma religião universal,
aplicável para todos os lugares e tempos, não
poderia ignorar essas pressões.
Em muitas sociedades humanas, as mulheres superam os homens
em quantidade. Em um país como a Guiné, há
122 mulheres para cada 100 homens. Na Tanzânia, há
95,1 homens para 100 mulheres (55). O que uma sociedade deve
fazer para resolver esse desequilíbrio? Existem várias
soluções, e alguns podem sugerir o celibato, outros
preferem o infanticídio feminino (que ainda acontece
no mundo de hoje em alguns lugares). Outros, ainda, podem achar
que a única saída é a sociedade tolerar
todas as formas de permissividade sexual: prostituição,
sexo fora do casamento, homossexualismo, etc. Para outras sociedades,
como a maior parte das sociedades africanas de hoje, a saída
mais honrosa é permitir o casamento poligâmico,
como uma instituição culturalmente aceita e socialmente
respeitada. A questão, que é muitas vezes incompreendida
no ocidente, é que muitas mulheres de outras culturas
necessariamente não vêm a poligamia como um sinal
de degradação da mulher. Por exemplo, muitas jovens
noivas africanas, sejam cristãs ou muçulmanas,
prefeririam se casar com um homem casado, que tenha provado
a ele mesmo, ser um marido responsável.
. Muitas esposas africanas persuadem seus maridos a tomar uma
segunda esposa e assim eles não se sentem sozinhos (56).
Uma pesquisa realizada na segunda maior cidade da Nigéria
com 600 mulheres, com idades entre 15 e 59 anos, mostrou que
60% dessas mulheres não se importariam que seus maridos
tivessem uma outra esposa. Somente 23% expressaram raiva ante
a idéia de dividirem seus maridos com outras mulheres.
76% das mulheres que se manifestaram numa pesquisa realizada
no Quênia, viram a poligamia positivamente. Em outra pesquisa
realizada no campo, 25 de 27 mulheres consideraram a poligamia
melhor do que a monogamia.
Estas mulheres sentiram que a poligamia pode ser uma experiência
feliz e benéfica se as co-esposas cooperarem umas com
as outras (57). A poligamia, na maior parte das sociedades africanas
é uma instituição tão respeitada,
que algumas igrejas protestantes começaram a tolerá-la,
"Embora a monogamia possa ser ideal para a expressão
do amor entre o marido e a esposa, a igreja deve considerar
que em certas culturas a poligamia é socialmente aceitável
e que a crença de que a poligamia é contrária
ao cristianismo não se sustenta por muito tempo".
(58) Depois de um cuidadoso estudo sobre a poligamia africana,
o Reverendo David Gitari, da Igreja Anglicana, concluiu que
a poligamia, como idealmente praticada, é mais cristã
do que o divórcio e o novo casamento, porque há
uma preocupação com as esposas e crianças
abandonadas. (59) Eu pessoalmente conheço algumas esposas
africanas, finamente educadas, que apesar de terem vivido no
Ocidente por muitos anos, não fazem qualquer objeção
à poligamia. Uma delas, que mora nos USA, solenemente
estimula seu marido a tomar uma segunda esposa para ajudá-la
na criação das crianças.
O problema do desequilíbrio entre os sexos começa
na verdade nos problemáticos tempos de guerra. Os índios
nativos americanos costumavam sofrer com essa desigualdade de
número entre homens e mulheres, principalmente após
as perdas dos tempos de guerra. As mulheres dessas tribos, que
na verdade desfrutavam de uma alta posição, aceitavam
a poligamia como a melhor proteção contra a tolerância
por atividades indecentes. Os colonos europeus, sem oferecerem
qualquer outra alternativa, condenavam a poligamia indiana como
"incivilizada" (60).
Após a segunda guerra mundial, havia na Alemanha 7.300.000
mais mulheres do que homens (3.3 milhões delas eram viúvas).
Havia 100 homens na idade de 20 a 30 anos para cada 167 mulheres
naquele mesmo grupo de idade. (6l) Muitas dessas mulheres necessitavam
de um homem, não apenas como uma companhia mas, também,
como um mantenedor para a casa, num tempo de miséria
e injustiça sem precedentes. Os soldados do exército
aliado vitorioso exploravam a vulnerabilidade dessas mulheres.
Muitas jovens e viúvas tinham ligações
com membros das forças de ocupação. Muitos
soldados americanos e britânicos pagavam por seus prazeres
com cigarros, chocolates e pães. As crianças ficavam
felizes com os presentes que os estrangeiros traziam. Um menino
de 10 anos, vendo esses presentes com outras crianças,
desejava ardentemente um "inglês" para a sua
mãe e assim, ela não precisaria passar fome por
tanto tempo (62). Devemos perguntar para nossa consciência
sobre esta questão: O que dignifica mais uma mulher?
Uma segunda esposa, aceita e respeitada, ou uma prostituta virtual,
como no caso da abordagem "civilizada" das forças
aliadas na Alemanha? Em outras palavras, o que dignifica mais
uma mulher, a prescrição alcorâmica ou a
teologia baseada na cultura do império romano?
É interessante notar que, em uma conferência da
juventude internacional, acontecida em Munique, em 1948, o problema
alemão do desequilíbrio no número de homens
e mulheres foi discutido. Quando ficou claro que não
havia solução consensual, alguns participantes
sugeriram a poligamia. A reação inicial da reunião
foi uma mistura de choque e repugnância. Contudo, após
um estudo cuidadoso da proposta, os participantes concordaram
que a poligamia era a única solução possível.
Consequentemente, a poligamia estava incluída entre as
recomendações finais da conferência. (63)
Atualmente, o mundo possui mais armas de destruição
em massa do que jamais houve em qualquer tempo e as igrejas
européias podem, mais cedo ou mais tarde, se ver obrigadas
a aceitar a poligamia como o único caminho. O Padre Hillman,
após muito pensar, admitiu este fato, "É
quase concebível que aquelas técnicas genocidas
(nuclear, biológica, química...) podem produzir
um desequilíbrio tão drástico entre os
sexos que o casamento plural poderia ser um meio necessário
de sobrevivência... Em tal situação, os
teólogos e os líderes das igrejas deveriam rapidamente
produzir razões importantes e textos bíblicos
que justifiquem um novo conceito de casamento". (64)
Nos dias atuais, a poligamia continua a ser a solução
viável para alguns males das sociedades modernas. As
obrigações comunitárias a que o Alcorão
se refere, juntamente com a permissão da poligamia, são
mais perceptíveis atualmente nas sociedades ocidentais
do que na África. Por exemplo, nos USA de hoje, há
uma séria crise na comunidade negra. Um em cada 20 jovens
rapazes negros podem morrer antes de atingir a idade de 2l anos.
Para aqueles que estão entre os 20 e 35 anos, o homicídio
lidera a causa da morte (65). Além disso, muitos rapazes
negros estão desempregados, na prisão ou são
viciados (66). Como conseqüência, um em 4 mulheres
negras, na idade de 40 anos, nunca se casaram, enquanto que
este número é de 1 para 10 mulheres brancas (67).
Além do mais, muitas jovens negras se tornam mães
solteiras antes dos 20 anos e se encontram na situação
de serem mantidas. O resultado final dessas trágicas
circunstâncias é que há um aumento no número
de mulheres negras comprometidas com "homem-partilhado"
(68). Isto é, muitas dessas infelizes mulheres negras
solteiras estão envolvidas em casos com homens casados.
As esposas muitas vezes não têm consciência
do fato de que outras mulheres estão dividindo seus maridos
com elas. Alguns observadores da crise do "homem-partilhado"
na comunidade africana na América têm recomendado
a poligamia consensual, como uma resposta temporária
para a diminuição do número de homens negros,
até que reformas mais abrangentes na sociedade americana
sejam tomadas (69). Esses observadores entendem poligamia consensual
como a poligamia sancionada pela comunidade e na qual todas
as partes envolvidas concordem, em oposição ao
segredo dos casos com homens casados, os quais sempre prejudicam
tanto a esposa como a comunidade em geral.
O problema do "homem-partilhado" na comunidade africana
da América foi ponto de discussão em um painel
realizado na Universidade de Temple, na Filadélfia, em
27.01.93 (70). Alguns dos palestrantes recomendaram a poligamia
como um remédio potencial para a crise. Eles também
sugeriram que a poligamia não podia ser banida por lei,
particularmente em uma sociedade que tolera a prostituição
e o concubinato.. O comentário de uma das mulheres participantes,
de que os negros americanos precisavam aprender com a África,
onde a poligamia era praticada responsavelmente, conseguiu entusiásticos
aplausos.
Philip Kilbride, um antropólogo americano, de tradição
católica romana, em seu livro provocativo, "Casamento
Plural para o Nosso Tempo", propõe a poligamia como
solução para alguns dos males da sociedade americana.
Ele argumenta que o casamento plural pode servir como uma alternativa
potencial para o divórcio em muitos casos,a fim de eliminar
o impacto danoso do divórcio sobre as crianças.
Ele afirma que muitos divórcios foram causados pelo excessivo
número de casos extraconjugais ocorridos na sociedade
americana. De acordo com Kilbride, transformar um caso extraconjugal
em um casamento poligâmico, ao invés do divórcio,
é melhor para as crianças. Além disso,
ele sugere que outros grupos também se beneficiarão
do casamento plural, tais como: mulheres mais velhas, que enfrentam
uma crônica diminuição de homens e os negros
americanos, que estão envolvidos com o "homem-partilhado".
(7l)
Em 1987, uma votação conduzida por um estudante
de jornalismo da Universidade de Berkeley, perguntava aos estudantes
se eles concordavam que os homens poderiam ser autorizados,
por lei, a terem mais de uma esposa, tendo em vista a visível
diminuição do número de candidatos masculinos
para o casamento na Califórnia. Quase todos os votantes
aprovaram a idéia. Uma estudante chegou a declarar que
o casamento poligâmico preencheria suas necessidades físicas
e emocionais, porque lhe daria maior liberdade do que uma união
monogâmica (72). Na verdade, o mesmo argumento foi usado
por alguns poucos remanescentes das mulheres fundamentalistas
Mormom, que ainda praticam a poligamia nos USA.
Elas acreditam que a poligamia é um caminho ideal para
a mulher ter, tanto profissão como crianças, uma
vez que as esposas se ajudam umas às outras no cuidado
com os filhos.
Deve-se acrescentar que a poligamia no Islam é questão
de consenso mútuo. Ninguém pode forçar
a mulher a se casar com um homem casado. Além disso,
a esposa tem o direito de estipular que seu marido não
deve se casar com outra mulher (74). A Bíblia, pôr
outro lado, algumas vezes vale-se da poligamia forçada.
Uma viúva sem filhos deve se casar com o seu cunhado,
mesmo que ele já seja casado (ver a seção
"A condição das Viúvas") e independente
de seu consentimento (Gênesis 38:8/10).
Deve-se notar que, em muitas sociedades muçulmanas de
hoje, a prática da poligamia é rara, uma vez que
a diferença entre os sexos não é grande.
Pode-se dizer que o número de casamentos poligâmicos
no mundo muçulmano é muito menor do que o de casos
extraconjugais no ocidente. Em outras palavras, os homens no
mundo muçulmano são muito mais monogâmicos
do que os homens no mundo ocidental.
Billy Grahan, o eminente evangélico cristão, reconheceu
este fato: "O cristianismo não pode se comprometer
com a questão da poligamia. Se hoje o cristianismo não
pode fazer isso, é em seu próprio detrimento.
O Islam permitiu a poligamia como uma solução
para os males sociais e reconheceu um certo grau de latitude
da natureza humana, mas, somente dentro da estrutura estritamente
definida na lei.
Os países cristãos fazem um estardalhaço
sobre a monogamia, mas, na verdade, eles praticam a poligamia.
Ninguém ignora a existência das amantes na sociedade
ocidental. A esse respeito, o Islam é fundamentalmente
uma religião honesta, que permite a um muçulmano
se casar uma segunda vez se ele precisa, mas proibe rigorosamente
todas as associações clandestinas, a fim de salvaguardar
a probidade moral da comunidade". (75)
Releva notar que muitos países no mundo de hoje, muçulmanos
ou não, proibiram a poligamia. Tomar uma segunda esposa,
ainda que com o livre consentimento da primeira, é uma
violação da lei. Por outro lado, trair a esposa,
com ou sem o seu conhecimento e/ou consentimento, é perfeitamente
legítimada. Qual é a sabedoria legal por detrás
de tal contradição? A lei foi feita para premiar
a decepção e punir a honestidade? Este é
um dos paradoxos fantásticos de nosso mundo "civilizado".
15. HIJAB
Finalmente, vamos esclarecer o que é
considerado no ocidente como o maior símbolo de opressão
e servidão da mulher, o véu, ou a cabeça
coberta. É verdade que não existe algo como o
véu na tradição judaico-cristã?
Façamos o registro correto. De acordo com o Rabino Dr.
Menachem M. Brayer (Professor de Literatura Bíblica na
Universidade de Yeshiva) em seu livro, "A Mulher Judia
na Literatura Rabínica", era um costume judeu a
mulher ir aos lugares públicos com a cabeça coberta,
e, em alguns casos, com todo o rosto coberto, deixando apenas
um olho de fora (76). Ele cita alguns famosos ditos rabinícos
antigos, "Não é bom para as filhas de Israel
andarem na rua com suas cabeças descobertas" e "Amaldiçoado
seja o homem que permite que o cabelo de sua esposa seja visto...
uma mulher que expõe seus cabelos como adorno traz a
pobreza". A lei rabínica proibe a recitação
de bênçãos e orações na presença
de mulheres casadas com a cabeça descoberta, uma vez
que o cabelo é considerado "nudez" (77). O
Dr. Brayer também menciona que "Durante o período
Tannaitic a mulher judia com sua cabeça descoberta era
considerada uma afronta à sua modéstia. Quando
sua cabeça estava descoberta ela podia ser multada em
400 zuzim por esta ofensa". O Dr. Brayer também
explica que o véu da mulher judia nem sempre era considerado
como um sinal de modéstia. Algumas vezes, o véu
simbolizava mais um estado de distinção e de luxúria
do que modéstia. O véu personificava a dignidade
e superioridade das mulheres nobres. Também podia representar
a inacessibilidade da mulher, como posse santificada de seu
marido (78),
O véu significava o auto-respeito de uma mulher e um
status social. As mulheres das classes mais baixas vestiam o
véu para dar a impressão de uma posição
mais elevada. O fato de o véu significar sinal de nobreza
foi a razão de não se permitir às prostitutas
cobrirem seus cabelos, na antiga sociedade judaica. Contudo,
as prostitutas muitas vezes usavam um lenço especial,
a fim de parecerem respeitáveis (79). As mulheres judias
na Europa continuaram a usar o véu até o século
XIX, quando suas vidas se tornaram interrelacionadas com o meio
cultural. As pressões externas da vida européia
no século XIX, obrigaram as mulheres a saírem
com as cabeças descobertas. Algumas judias achavam mais
conveniente substituir o tradicional véu por peruca,
como uma outra forma de cobrir a cabeça. Atualmente,
muitas mulheres judias pieddosas não cobrem mais suas
cabeças, exceto quando se encontram nas sinagogas (80).
Algumas delas, tais como as da citada Hasidic, ainda usam peruca
(81).
O que dizer a respeito da tradição cristã?
É sabido que as freitas católicas usaram suas
cabeças cobertas por centenas de anos, mas isto não
é tudo. São Paulo, no Novo Testamento, fez algumas
declarações muito interessantes a respeito do
véu: "Agora eu quero que vocês percebam que
a cabeça de cada homem é o Cristo e a cabeça
da mulher é o homem e a cabeça do Cristo é
Deus. Cada homem que reza ou vaticina com a cabeça coberta
desonra a sua cabeça. Cada mulher que ora ou vaticina
com a cabeça descoberta desonra sua cabeça - é
como se sua cabeça estivesse raspada. Se a mulher não
cobrir sua cabeça, ela deve ter os seus cabelos cortados:
e para não cair na desgraça de ter os cabelos
cortados ou raspados ela deve cobri-los. Um homem não
deve cobrir sua cabeça uma vez que ele é a imagem
e glória de Deus; mas a mullher é oriunda do homem;
o homem não foi criado da mulher, mas a mulher foi criada
do homem. Por esta razão, e por causa dos anjos, a mulher
deve ter um símbolo da autoridade sobre sua cabeça"
(I Coríntios 11:3/10.
As razões apresentadas por São Paulo, para que
a mulher se cubra, é que o véu significa um sinal
de autoridade do homem, o qual é a imagem e glória
de Deus sobre a mulher, que foi criada dele e para ele. São
Tertuliano, em seu famoso tratado "Sobre o véu das
virgens", escreveu "jovens mulheres, vocês se
cobrem quando nas ruas, assim, vocês devem se cobrir quando
na igreja, vocês se cobrem quando estão entre pessoas
estranhas, portanto vocês devem se cobrir quando estiverem
entre seus irmãos..." Entre as leis canônicas
da Igreja Católica de hoje, há uma lei que exige
que as mulheres cubram suas cabeças quando estiverem
na igreja (82). Algumas denominações cristãs,
tais como os Amish e os Menonitas, por exemplo, matêm
suas mulheres cobertas até hoje. A razão para
o véu, conforme explicado pelos líderes da Igreja,
é que "a cabeça coberta é um símbolo
da sujeição feminina ao homem e a Deus",
o que, no final, significa a mesma lógica apresentada
por São Paulo no Novo Testamento (83).
De todas as evidências acima, é óbvio que
o Islam não inventou a cabeça coberta. Contudo,
o Islam endossa a tese. O Alcorão obriga homens e mulheres
a baixarem seus olhos e guardarem suas modéstias e, com
relação às mulheres, determina que suas
cabeças sejam cobertas, além do pescoço
e seios:
"Diga às crentes que elas devem baixar seus olhos
e guardar sua modéstia; que elas não devem exibir
sua beleza e adornos, exceto o que comumente aparece; que elas
devem puxar seus véus sobre os seios... " (24:30/3l)
O Alcorão é bem claro no que se refere ao véu
como essencial para a modéstia. Mas, por que a modéstia
é importante? O Alcorão é ainda mais claro:
"Ó Profeta, dize às tuas esposas e filhas,
e às crentes, que elas devem se cobrir com suas mantas
(quando na rua) a fim de que elas se distingam das demais e
não sejam molestadas" (33:59). Esta é a questão
principal, a modéstia é prescrita para proteger
as mulheres de serem molestadas, isto é, a modéstia
é proteção.
Assim, a única proposta do véu no Islam é
a proteção. O véu islâmico, diferentemente
do véu na tradição cristã, não
é sinal da autoridade do homem sobre a mulher, nem é
um sinal de sua sujeição ao homem. O véu
islâmico, diferentemente da tradição judaica,
não é um sinal de luxúria ou de distinção
de algumas mulheres casadas nobres. O véu islâmico
é simplesmente um sinal de modéstia, com a proposta
de proteger as mulheres, todas as mulheres. A filosofia islâmica
é que é sempre melhor prevenir do que remediar.
Realmente, o Alcorão é tão preocupado com
a proteção dos corpos das mulheres e sua reputação,
que um homem que se atrever a acusar falsamente uma mulher de
não ser casta, será severamente punido:
"E aqueles que difamarem as mulheres castas, sem apresentarem
4 testemunhas, infligí-lhes oitenta chibatadas e nunca
mais aceiteis os seus testemunhos por que tais homens são
transgressores".
Compare-se esta posição alcorânica com a
punição extremamente branda da Bíblia para
os casos de estupro: Se um homem encontra uma virgem, que está
na condição de casar e a estupra e eles são
descobertos, ele deve pagar ao pais da moça 50 shekels
de prata. Ele deve se casar com a moça por que ele a
violou. Ele não poderá nunca se divorciar dela
enquanto viver (Deuteronômio 22:38/30). Podemos simplesmente
perguntar: Quem é punido realmente? O homem que somente
pagou uma multa pelo estupro ou a moça que se viu forçada
a se casar com o homem que a violentou e a ficar com ele até
que ele morra? Outra questão que se apresenta é:
quem proteje mais as mulheres, o Alcorão com sua postura
rigorosa, ou a Bíblia com sua posição mais
branda?
Algumas pessoas, sobretudo no ocidente, têm uma tendência
a ridicularizar a argumentação da modéstia
para proteção. Elas dizem que a melhor proteção
é divulgar a educação, o comportamento
civilizado e o auto-controle. E nós dizemos: ótimo,
mas insuficiente. Se o processo de civilização
fosse suficiente, então por que mulheres nos USA não
se atrevem a andar sozinhas em ruas escuras, ou mesmo a cruzar
um parque vazio? Se a Educação fosse a solução,
então por que é que uma respeitada universidade
como a de Queen tem um serviço de condução
principalmente para as estudantes no campus? Se o auto-controle
fosse a resposta, então por que tantos casos de molestamento
sexual acontecem em locais de trabalho, como relatados nos jornais
a cada dia? Em uma amostra sobre os molestadores, nos últimos
anos, encontramos: marinheiros, diretores, professores universitários,
senadores, juízes da Suprema Corte e até o Presidente
dos Estdos Unidos. Eu não posso acreditar em meus olhos,
quando leio sobre as seguintes estatísticas, elaboradas
pelo escritório das mulheres decanas da Universidade
de Queens:
* No Canadá, uma mulher é atacada sexualmente
a cada seis minutos;
* Uma, em cada três mulheres no Canada, será sexualmente
assaltada em alguma época de suas vidas;
* 1 em 4 mulheres corre o risco de ser estuprada alguma vez;
* 1 em 8 mulheres será atacada sexualmente enquanto estiver
no colégio ou universidade; e
* Um estudo concluiu que 60% dos estudantes universitários
canadenses cometeriam algum tipo de violência sexual se
eles estivessem seguros de não serem descobertos.
Alguma coisa está fundamentalmente errada na sociedade
em que vivemos. Uma mudança radical no modo de vida e
na cultura da sociedade se faz absolutamente necessária.
Uma cultura de modéstia é necessária, modéstia
no vestir, no falar e nos modos, tanto de homens como de mulheres.
Caso contrário, as terríveis estatísticas
continuarão a crescer e, infelizmente, as mulheres, sozinhas,
pagarão o preço. Realmente, nós todos sofremos,
mas K. Gibran disse "... porque a pessoa que recebe os
golpes não é como a que se encontra entre elas"
(84). Logo, uma sociedade como a francesa, que expulsa uma jovem
de sua escola por causa de suas roupas, acaba, no final, por,
simplesmente, se ferir a si mesma.
Uma das maiores ironias de nosso mundo atual é que, o
mesmo véu que é reverenciado como sinal de "santidade",
quando usado pelas freiras católicas como forma de exibir
a autoridade do homem, é mostrado como forma de "opressão"
quando vestido com o objetivo de protejer a mulher muçulmana.
EPÍLOGO
A questão que se apresenta àqueles
não mulçumanos, que leram uma versão inicial
do presente estudo é: As mulheres muçulmanas no
mundo de hoje recebem este nobre tratamento tal como descrito
aqui? A resposta, infelizmente, é: Não. Uma vez
que a questão é inevitável em qualquer
discussão referente à condição das
mulheres no Islam, temos que elaborar uma resposta, a fim de
fornecer aos leitores um quadro completo.
Devemos esclarecer, primeiro, que as enormes diferenças
entre as sociedades muçulmanas acabam por fazer generalizações
muito simplistas. Há um vasto espectro de posturas em
relação à mulher no mundo muçulmano
atual. Estas posturas diferem de uma sociedade para outra e
dentro de sociedade individual. Contudo, podemos discernir certos
traços gerais. Quase todas as sociedades muçulmanas,
em maior ou menor grau, desviaram-se dos ideais do Islam, com
respeito à condição das mulheres. Estes
desvios, na maior parte, se direcionaram para uma ou duas direções.
A primeira é mais conservadora, restritiva e orientada
pelas tradições, enquanto que a segunda é
mais liberal, orientada pelos costumes ocidentais.
As sociedades que se encaminharam para a primeira direção
tratam as mulheres de acordo com os costumes e tradições
herdados de seus ascendentes. Estas tradições,
comumente, privam as mulheres de muitos direitos garantidos
a elas pelo Islam. Além disso, as mulheres são
tratadas de acordo com padrões diferentes daqueles aplicados
aos homens. Esta discriminação penetra a vida
de qualquer mulher: ela é recebida com menos alegria
ao nascer do que um menino; ela é menos incentivada a
ir para a escola; ela pode ser privada de qualquer participação
na herança de sua família; ela está sob
contínua vigilância com relação a
sua modéstia, enquanto que os atos de imodéstia
de seus irmãos são tolerados; ela pode até
ser morta por cometer o que os membros masculinos de sua família
comumente se vangloriam de praticar; ela tem pouca atuação
nos assuntos familiares ou nos interesses comunitários;
ela pode não ter o completo controle sobre suas posses
e seus presentes de casamento; e, finalmente, como mãe,
ela preferiria gerar filhos homens a fim de alcançar
uma elevada posição em sua comunidade.
Por outro lado, há sociedades muçulmanas (ou certas
classes dentro de algumas sociedades) que foram varridas pela
cultura e modo de vida do ocidente. Estas sociedades, muitas
vezes, imitam, de forma inimaginável, tudo o que receberam
do ocidente e, finalmente, acabam por adotar os piores frutos
da civilização ocidental. Nestas sociedades, a
prioridade máxima na vida de uma típica mulher
"moderna" é realçar sua beleza física.
Em razão disso, seu esforço é mais para
compreender sua feminilidade do que preencher sua humanidade.
Por que as sociedades muçulmanas se desviaram dos ideais
do Islam? Não há uma resposta fácil. Uma
explicação penetrante, das razões pelas
quais muçulmanos não aderiram aos preceitos alcorânicos
com relação às mulheres, está além
do objetivo deste estudo. Contudo, deve ser esclarecido que
as sociedades muçulmanas também se desviaram,
há muito tempo, dos preceitos islâmicos concernentes
a muitos aspectos de suas vidas. Há uma grande diferença
entre o que os muçulmanos supõem acreditar e o
que eles realmente praticam. Esta diferença não
é um fenômeno recente. Tem sido assim por séculos
e continuará aumentando dia após dia. Esta diferença
sempre crescente tem tido consequências desastrosas sobre
o mundo muçulmano e se manifestam em quase todos os aspectos
da vida: tirania e fragmentação política,
economia, injustiça social, falência científica,
estagnação intelectual, etc. O status não
islâmico das mulheres no mundo muçulmano atual
é simplesmente um sintoma de doença mais profunda.
Qualquer reforma no atual status das mulheres muçulmanas
não terá sucesso se não for acompanhada
de reformas mais amplas em todo o modo de vida das sociedades
islâmicas. O mundo muçulmano está necessitando
de um renascimento que o aproxime dos ideais do Islam e não
que o afaste deles. Para resumir, a noção, hoje
em dia, de que há um pobre status das mulheres muçulmanas
se deve a uma total incompreensão. Os problemas dos muçulmanos
em geral não são devidos ao fato de eles estarem
muito presos ao Islam. Na verdade, eles se originam exatamente
por um longo e profundo afastamento do Islam.
Deve-se também enfatizar que a proposta deste estudo
comparativo não é, em qualquer hipótese,
difamar o judaismo ou o cristianismo. A posição
das mulheres nas tradições judaico-cristãs
pode parecer retrógrada, se comparada com nossos padrões
de final de século XX, contudo, deve ser encaradasdentro
de seu próprio contexto histórico. Em outras palavras,
qualquer avaliação da posição das
mulheres na tradição judaico-cristã tem
que levar em conta as circunstâncias históricas
nas quais essas tradições se desenvolveram. Não
pode haver dúvida de que as opiniões dos rabinos
e pastores da Igreja, em relação às mulheres,
foram influenciadas por posturas prevalecentes em suas respectivas
sociedades. A própria Bíblia foi escrita por diversos
autores em diversas épocas. Estes autores não
podiam ser imparciais aos valores e modo de vida das pessoas
à volta deles. As leis do adultério no Velho Testamento,
por exemplo, eram tão desfavoráveis às
mulheres que elas desafiam qualquer explicação
racional por parte de nossa mentalidade. Contudo, se nós
considerarmos o fato de que as primeiras tribos judias eram
obcecadas pela sua homogeneidade genética e extremamente
desejosas de se distinguirem das outras tribos, e que somente
a má conduta sexual das mulheres casadas podia ameaçar
essas caras aspirações, nós podemos entender,
mas não necessariamente nos simpatizarmos com elas, as
razões de tal obcessão. Também, as ranzinzices
dos padres da Igreja contra as mulheres devem ser encaradas
dentro do contexto da misoginia da cultura greco-romana, na
qual eles viviam. Não seria correto avaliar o legado
judaico-cristão, sem levar em consideração
o relevante contexto histórico.
De fato, a compreensão adequada do contexto histórico
também é crucial para o entendimento do significado
das contribuições do Islam para a história
mundial e a civilização humana. A tradição
judaico-cristão foi influenciada e moldada pelo meio
ambiente, condições e culturas existentes à
época. No século VII, esta influência distorceu
a mensagem divina revelada a Moisés e Jesus, muito além
do reconhecimento. O pobre status das mulheres no mundo judaico-cristão
no séc. VII é apenas um caso em questão.
Em razão disso, havia uma grande necessidade de uma nova
mensagem, que levasse a humanidade de volta para o camino reto.
O Alcorão descreveu a missão do novo mensageiro
como uma libertação para judeus e cristãos
do peso que havia sobre eles:
"São aqueles que seguem o Mensageiro, o Profeta
iletrado, o qual encontram mencionado em suas próprias
escrituras - Tora e Evangelho - o qual lhes recomenda todo o
bem e lhes veda o que é mal; ele lhes alivia de seus
pesados fardos e dos grilhões que estão sobre
eles" (7:157)
Portanto, o Islam não deve ser visto como uma tradição
rival para o judaismo e cristianismo. Ele deve ser encarado
como uma consumação, complementação
e aperfeiçoamento das mensagens divinas que foram reveladas
anteriormente.
Ao final desse estudo, gostaria de oferecer o seguinte conselho
para a comunidade muçulmana global. Nega-se a muitas
mulheres muçulmanas os direitos islâmicos básicos.
Os erros do passado devem ser corrigidos. Fazer isto não
é um favor, mas sim uma obrigação para
todos os muçulmanos. A comunidade muçulmana mundial
deve elaborar um quadro com as instruções do Alcorão
e os ensinamentos do Profeta do Islam. Este quadro deve garantir
a elas todos os direitos doados pelo Criador. Então,
todos os meios necessários têm de ser desenvolvidos,
a fim de assegurar a implementação adequada deste
quadro, o qual se faz necessário há muito tempo.
Mas, melhor tarde do que nunca. Se o mundo muçulmano
não garantir os direitos islâmicos plenos a suas
mães, esposas, irmãs, filhas, quem o fará?
Temos que ter a coragem de confrontar nosso passado e rejeitar
completamente as tradições e costumes de nossos
ascendentes, sempre que essas tradições e costumes
se contraponham aos preceitos do Islam. O Alcorão não
criticou severamente os árabes pagãos por seguirem
cegamente as tradições de seus ancestrais? Por
outro lado, temos que desenvolver uma atitude crítica
em relação a tudo que recebemos do ocidente ou
de qualquer outra cultura. A interação com e o
aprendizado de, são experiências válidas.
O Alcorão sucintamente considerou esta interação
como uma das propostas da criação:
``Oh! homens, em verdade Nós vos criamos de um único
casal e vos dividimos em povos e tribos, para reconhecerdes
uns aos outros`` (49.13).
Pode-se dizer, contudo, que a imitação cega dos
outros é um sinal certo de uma completa falta de auto-estima.
Estas palavras finais são dedicadas aos leitores não
muçulmanos, judeus, cristãos, ou quaisquer outros.
É desorientador o fato de uma religião, que revolucionou
a condição da mulher, estar sendo tachada e denegrida
como sendo uma religião que reprime a mulher. Esta percepção
sobre o Islam é um dos mitos mais difundidos em nosso
mundo de hoje. Este mito está sendo perpetuado por uma
enxurrada de livros sensacionalistas, artigos e imagens na mídia,
e filmes de Hollywood. O resultado inevitável dessas
incessantes imagens errôneas tem sido a incompreensão
e o medo a tudo que se refere ao Islam. Este retrato negativo
do Islam na mídia mundial tem que acabar se quisermos
viver em um mundo livre de todos os traços de discriminação,
preconceito e equívoco. Os não muçulmanos
devem perceber a existência de uma imensa diferença
entre a crença e a prática muçulmanas e
o simples fato de que as ações dos muçulmanos
não representam necessariamente o Islam. Rotular a condição
da mulher no mundo muçulmano de hoje como "islâmica"
está tão longe da verdade quanto rotular a posição
da mulher de hoje, no ocidente, como "judaico-cristã".
Com isto em mente, muçulmanos e não muçulmanos
devem começar o processo de comunicação
e diálogo, a fim de remover todos os preconceitos, suspeitas
e medos. Um futuro pacífico para a família humana
necessita de tal diálogo.
O Islam deve ser visto como uma religião que mellhorou
consideravelmente a condição da mulher e lhe garantiu
muitos direitos que o mundo moderno só veio a reconhecer
neste século. O Islam ainda tem muito a oferecer à
mulher de hoje, dignidade, respeito e proteção
em todos os aspectos e estágios de sua vida, desde o
nascimento até a morte, além do reconhecimento,
equilíbrio e meios para a satisfação de
todas as suas necessidades espirituais, intelectuais, físicas
e emocionais. Não espanta que muitos daqueles que escolhem
ser muçulmanos em países como a Inglaterra sejam
mulheres. Nos USA, as mulheres se convertem ao Islam, numa proporção
de 4 para cada homem. O Islam tem muito a oferecer ao mundo
de hoje, que está em grande necessidade de um guia e
uma liderança moral. O embaixador Herman Eilts, testemunhando
frente ao comitê de Negócios Estrangeiros do Congresso
americano, em junho de 1985, disse que "a comunidade muçulmana
de hoje está perto de um bilhão. Este é
um número expressivo. Mas, para mim, é igualmente
expressivo que o Islam hoje seja a religião monoteista
que mais cresce no mundo. Devemos ter isto em conta. Alguma
coisa está certa acerca do Islam. Ele está atraindo
uma boa quantidade de pessoas". Sim, alguma coisa está
certa acerca do Islam, e está na hora de encontrá-la.
Espero que este estudo seja um passo nesta direção.
A
VOZ DA MULHER NO ISLAM
Por Dr. Yusuf al-Qaradawi
Muitos muçulmanos adotaram a ética judaico-cristã,
que vê a mulher como fonte da tragédia humana por
causa de seu papel bíblico de sedutora, que levou Adão
a desobedecer ao seu Senhor. Ao convencer seu marido a comer
do fruto proibido, ela não só desafiou Allah como
também causou a expulsão da humanidade do Paraíso,
determinando, assim, todo o sofrimento temporal humano. Aqueles
que defendem este mito bíblico, se apoiam em arquivos
da literatura pseudo-islâmica, como, por exemplo, alguns
ahadith falsos ou fracos.
Este mito do Velho Testamento é uma crença largamente
difundida na comunidade islâmica, apesar de Allah salientar
no Alcorão que Adão foi o único responsável
por seu erro.
"Havíamos firmado o pacto com Adão, porém,
ele esqueceu-se dele; e não vimos nele firme resolução"
(Alcorã0 20:115)
"E ambos comeram (os frutos) da árvore, ... Adão
desobedeceu a seu Senhor e foi seduzido. Mas logo o seu Senhor
o elegeu, absolvendo-o e encaminhando-o." (Alcorão
20:121-122)
Portanto, não há nada na doutrina islâmica
ou no Alcorão que considere a mulher como responsável
pela expulsão de Adão do Paraíso ou pela
miséria da humanidade. Contudo, a misoginia prolifera
nos pronunciamentos de muitos "sábios" e "imams"
islâmicos.
Como resultado dessa má interpretação de
ahadith, sociedades inteiras têm maltratado seus membros
femininos não obstante o fato de o Islam ter dignificado
e fortalecido a mulher em todas as esferas da vida. A mulher
na lei islâmica é igual ao homem. Ela é
tão responsável por seus atos como o homem o é.
Seu testemunho é solicitado e valido na corte. Suas opiniões
são buscadas e seguidas. Diferentemente do pseudo hadith
que diz "Consultem as mulheres e façam o oposto",
o Profeta (sas) consultou sua esposa, Um Salama, sobre uma das
mais importantes questões para a comunidade muçulmana.
As referências às atitudes positivas do Profeta
em relação às mulheres desacreditam o hadith,
erroneamente atribuído a Ali bin Abu Talib: "A mulher
é toda um mal e o seu maior mal é que o homem
não faz nada sem ela".
A divulgação de tal negatividade contra as mulheres
levaram muitos "sábios" e "imams"
a fazer regras inconsistentes sobre a fala das mulheres. Afirmam
que a mulher deve baixar sua voz, ou mesmo silenciar, exceto
quando falar com seu marido, seu guardião ou outras mulheres.
Para alguns, o simples ato de se comunicar transformou a mulher
em fonte de tentação e fascinação
do homem.
No entanto, o Alcorão menciona, especificamente, que
aqueles que buscavam informação das esposas do
Profeta podiam fazê-lo, desde que atendidas determinadas
condições.
"... E se desejardes perguntar algo a elas (suas esposas),
fazei-o detrás de cortinas." (Alcorão 33:53)
Na medida em que perguntas exigem respostas, as Mães
dos crentes ofereciam fatwas àqueles que perguntavam
e narravam ahadith a todo aquele que desejasse transmití-los.
Além do mais, as mulheres estavam acostumadas a questionar
o Profeta (sas) mesmo na presença dos homens. Nem elas
ficavam constrangindas por se fazerem ouvir nem o Profeta as
impedia de indagar. Mesmo no caso de Omar, quando ele foi desafiado
por uma mulher durante o seu sermão no minbar, ele não
retrucou, pelo contrário, admitiu que ela estava certa
e ele errado e disse: "Todo mundo é mais instruído
do que Omar."
Um outro exemplo alcorânico de uma mulher falando em público
é o mencionado no versículo 28:23. Além
desse, o Alcorão relata a conversa entre Salomão
e a Rainha de Sabá, assim como entre ela e seus subordinados.
Todos esses exemplos demonstram que as mulheres podem expressar
suas opiniões publicamente porque o que quer que tenha
sido prescrito a elas antes de nós está prescrito
para nós, a não ser que seja unanimente rejeitado
pela doutrina islâmica.
Portanto, a única proibição é a
mulher se comportar de modo a se insinuar ou tentar o homem.
Isto está expresso no Alcorão, onde Allah diz:
"Ó esposas do Profeta, vós não sois
como as outras mulheres; se sois tementes, não sejais
insinuantes na conversasção, para evitardes a
cobiça daquele que possui morbidez no coração,
e falai o que é justo." (Alcorão 33:32)
Assim, o que é proibido é o falar insinuante que
induz aqueles que têm os corações doentes
a se comportarem de forma inadequada. Mas, isto não quer
dizer que toda conversa com as mulheres seja proibida, porque
Allah completa o versículo
"... mas falai o que é justo." (Alcorão
33:32)
Buscar desculpas para silenciar as mulheres
é apenas uma das injustiças que certos sábios
e imams tentam impor às mulheres. Eles assinalam que
tais ahadith foram narrados por Bukhari sobre o Profeta, que
diz: "As mulheres são o perigo maior que deixei
para os homens." Eles afirmam que esse perigo quer dizer
que as mulheres são uma maldição a ser
tolerada da mesma forma que a pobreza, a fome, a doença,
a morte e o medo. Esses "sábios" ignoram o
fato de que o homem é testado mais por suas bênçãos
do que por suas tragédias.
E Allah diz:
"... e vos provaremos com o mal e com o bem." (Alcorão
21:35)
Em apoio a este argumento Allah diz no Alcorão que as
duas maiores bênçãos da vida, riqueza e
filhos, são provas.
"E sabei que tanto vossos bens como vossos filhos são
para vos pôr à prova" (Alcorão 8:28)
Uma mulhere, não obstante as bênçãos
que ela espalha em seu ambiente, também pode ser uma
prova, posto que ela pode desviar um homem de sua obrigação
para com Allah. Assim, Allah cria a consciência de como
as bênçãos podem ser extraviadas a ponto
de se tornarem maldições. Os homens podem usar
suas esposas como uma desculpa para não cumprir a jihad
ou para fugir do sacrifício de produzir riqueza. No Alcorão
Allah avisa:
"Ó fiéis, em verdade, tendes adversários
entre as vossas mulheres e os vossos filhos" (Alcorão
64:14)
A advertência é a mesma para aqueles abençoados
com riqueza e descendência abundantes (63:9). Além
disso, o hadith diz: "Por Deus não receio a pobreza
para vós, mas sim que o mundo vos seja abundante como
o foi para aqueles antes de vós e assim que luteis pela
abundância da mesma forma que aqueles antes de vós
lutaram e assim que sejais destruídos assim como eles
foram destruidos." Este hadith não quer dizer que
o Profeta encorajasse a pobreza.
A pobreza é uma maldição contra a qual
o Profeta buscava refúgio em Allah. Ele não pretendia
que sua Ummah se privasse da riqueza e da abundância-
"O melhor da boa riqueza é para o justo." As
mulheres também são um presente para o justo,
porque o Alcorão diz que o muçulmano e a muçulmana,
o crente e a crente, são ajuda e conforto um para o outro,
aqui e no além. O Profeta não condenou as bênçãos
que Allah propiciou para a sua Ummah. Antes pelo contrário,
ele desejava afastar os muçulmanos e a sua Ummah dos
caminhos escorragadios, cujo fosso insondável é
uma lama de crueldade e desejo.
MULHERES
QUE FIZERAM HISTÓRIA NO ISLAM
Khadija bint Khuwaili
Fatimah Bint Muhammad
Aishah Bint Abu Bakr
Umm Salamah
Zaynab al-Ghazali
O Islam, hoje, é uma grande força
no mundo. Mas, houve um tempo em que, quando ele ainda engatinhava,
precisou de proteção contra os ventos da idolatria
e do politeísmo. Os muçulmanos não podem
se esquecer de uma figura importante na construção
dos alicerces do Islam:
Khadija bint
Khuwaili.
Khadija foi testemunha ocular do nascimento do Islam. Foi em
sua casa que o Islam foi sendo esculpido e moldado. Foi a partir
de sua casa que o Islam "alçou vôo".
Sua casa foi o lar do Alcorão, o Livro de Deus e código
religioso e político do Islam. Durante 10 anos as mensagens
foram sendo trazidas pelo anjo Gabriel e Khadija foi quem mais
colecionou essas primeiras revelações vindas de
Deus. Ela foi a primeira esposa do último dos profetas
de Deus. Ela foi a primeira crente. Foi ela o primeiro ser humano
a declarar que o Criador era Um e que Mohammad era Seu profeta.
Ela foi a companheira constante de Mohammad. Até a sua
morte, Mohammad dedicou exclusivamente a Khadija todo o seu
amor, afeto e amizade. Ela foi a primeira pessoa a oferecer
preces a Deus juntamente com seu marido.
'Afif Al-Kanadi relatou: "Cheguei a Macca durante os dias
de ignorância e queria vender algumas roupas e perfumes
em nome de minha família. Fui até Al-Abbas b.
'Abdul-Mutalib." Ele conta: "Enquanto estava em sua
casa, olhei para a Caaba. O sol saiu quando um homem chegou,
até aproximar da Caaba. Então ele levantou sua
cabeça para o céu e olhou para a Caaba. Então,
um jovem chegou e ficou à sua direita. Não levou
muito tempo e uma mulher chegou e ficou atrás deles.
Então o homem se curvou e o jovem e a mulher se curvaram.
Então o homem levantou sua cabeça e o jovem e
a mulher fizeram o mesmo. Então o homem se prostrou e
o jovem e a mulher se prostraram também."
Ele continuou: "Então, eu disse: 'Ó Abbas!
Na verdade, vejo um grande homem.' E Abbas disse: 'Sabe quem
é aquele homem?' Eu respondi: 'Não, não
sei.' Ele disse: 'É Mohammad b.'Abdullah b.'Abdul-Mutalib,
meu sobrinho. Sabe quem é aquela mulher?' Eu disse: 'Não
sei.' Ele disse: 'Aquela é Khadija bint Khuwaylid, a
esposa do meu sobrinho. Este meu sobrinho que você vê
nos contou que seu Senhor é o Senhor dos céus
e da terra e que Ele lhe ordenou esta religião que ele
está seguindo. Juro por Allah que não conheço
ninguém mais sobre a face da terra que esteja seguindo
esta religião além daqueles três.' E Afif
disse: 'Gostaria de ser o quarto.' "
Quando Mohammad proclamou sua missão como o mensageiro
de Deus e disse aos árabes para não adorarem ídolos
e os convocou para se unirem em torno da bandeira do Tauheed,
uma onda de infortúnios se abateu sobre ele. Os politeístas
quiseram beber seu sangue. Inventaram novas e engenhosas formas
de atormentá-lo e fizeram inúmeras tentativas
para sufocar sua voz para sempre. Naqueles tempos de tristeza
e tensão, Khadija nunca lhe faltou. Foi somente por causa
dela e de Abu Talib que os politeístas não conseguiram
destruir o trabalho de pregação e divulgação
do Islam. Desta forma, é dela a mais importante contribuição
para a sobrevivência do Islam.
Khadija criou os padrões básicos que traduzem
a paz, harmonia, felicidade e satisfação domésticas
e os aplicou em sua própria vida. Ela demonstrou que
a chave para a felicidade familiar é a proximidade entre
seus membros. Ela mostrou os direitos e deveres de maridos e
esposas. O modelo criado por ela tornou-se um "esquema"
de vida familiar para o Islam.
Mohammad e Khadija ficaram juntos por 25 anos e durante esses
anos formularam as "leis" que tornam um casamento
bem sucedido e a vida mais feliz. Desde então, mesmo
que em termos temporais, o resto do mundo jamais foi capaz de
encontrar regras de convivência melhores. Khadija transformou
em realidade as abstrações do idealismo. Sua vida
com Mohammad é uma prova concreta deste fato. O que ela
deu ao mundo não foi apenas um conjunto de princípios
ou idéias teóricas, mas toda uma experiência,
rica em momentos de puro encantamento com o Islam e de um amor
penetrante por Deus e Seu Mensageiro.
Os árabes pagãos tinham um sentido de honra distorcido.
Era esse "sentimento de honra" que os levava a matar
suas filhas. O Islam, é claro, pôs um fim a essa
prática bárbara, transformando-a em pecado contra
Deus e em crime contra a humanidade. Além de acabar com
o infanticídio feminino, o Islam também concedeu
dignidade, honra e direitos a todas as mulheres, garantindo
esses direitos. Deus quis demonstrar que as leis do Islam eram
todas praticáveis. Para demonstrar a praticabilidade
dessas leis e mostrar esse "Projeto de Vida" islâmico,
Ele escolheu a casa de seus servos Mohammad e Khadija. Sem Khadija,
as leis do Islam teriam permanecido sem sentido. Na verdade,
é até possível que Mohammad não
pudesse promulgar aquelas leis sem ela. Uma das grandes bênçãos
que Mohammad e Khadija receberam de Deus foi sua filha, Fatima
Zahra. Ela nasceu após a morte de seus irmãos,
Qasim e Abdullah. Ela tinha apenas 11 anos quando sua mãe
morreu e Mohammad se transformou em pai e mãe para ela.
Foi educando sua filha que o Mensageiro de Deus demonstrou a
aplicabilidade das leis do Islam. Uma vez que ele é o
modelo para todos os muçulmanos, eles devem imitá-lo
em todos os seus atos. Ele dedicou um amor extremado e mostrou
o maior respeito por sua filha.
Tanto em Macca como em Medina, muitas pessoas importantes, líderes
de tribos poderosas, vinham ver o Mennsageiro de Deus. Ele jamais
se levantava do chão para cumprimentá-los. Mas
se ele sabia que sua filha Fatima estava chegando para vê-lo,
ele corria para cumprimentá-la, acompanhava-a e lhe dava
o lugar de honra para se sentar. Jamais ele mostrou tanta estima
e respeito por qualquer um em toda a sua vida - homem ou mulher.
É inegável que o Islam significa a prática
da casa de Khadija e sem dúvida o Alcorão foi
o "dialeto" de sua família. Sua filha Fatima,
e seus netos Hasan e Husain, cresceram falando o Alcorão.
Não existem palavras adequadas que possam expressar os
méritos de Khadija. Mas Deus prometeu Sua recompensa
aos Seus servos amados, como Khadija, nos seguintes versículos
de Seu livro:
"Por outra, os fiéis, que praticam o bem, são
as melhores criaturas, cuja recompensa está em seu Senhor:
Jardins do Éden, abaixo dos quais correm os rios, onde
morarão eternamente. Deus se comprazerá com eles
e eles se comprazerão n'Ele. Isto acontecerá com
quem teme o seu Senhor." (Alcorão 98:7-8)
O Mensageiro de Deus honrava e estimava Khadija. Jamais discordou
dela antes de receber a revelação. Mesmo após
a sua morte, ele sempre se lembrar dela e não se cansava
de exaltá-la. Certa vez, Aisha enciumada, disse ao Profeta:
"Na verdade, Deus não lhe deu nada melhor do que
uma velha." O Profeta se irritou e disse: "Não,
por Deus, juro que Allah jamais me concedeu nada melhor do que
ela. Ela foi a esposa que acreditou em mim quando ninguém
acreditava. Ela confirmou minha honestidade quando todos me
acusavam de mentiroso. Ela me sustentou quando todos me despojaram.
Através dela, Allah me concedeu os filhos que nenhuma
outra mulher me deu." O Profeta estava tão irritado
que sua testa tremia e então eu disse para mim mesma:
"O Deus, se a raiva do Profeta se aplacar nunca mais repetirei
o que disse."
E Aisha também disse: "Nunca tive ciúmes
das outras esposas do Profeta como tive de Khadija. Eu não
a conheci mas o Profeta costumava se lembrar sempre dela. Quando
ele sacrificava um carneiro, era comum ele cortar algumas partes
e mandar para os amigos de Khadija. Algumas vezes eu dizia a
ele: 'É como se não houvesse outra mulher no mundo
além de Khadija.' E ele respondia: 'Como posso esquecê-la?
Ela me deu os filhos mais amados.' "
Aisha também disse: "O Mensageiro de Deus quase
sempre antes de deixar a casa citava Khadija e a louvava."
Khadija, a Mãe dos Crentes, morreu ajudando o Mensageiro
de Deus a transmitir o chamado do Islam. Tinha, então,
65 anos e sua morte se deu três anos antes da migração
para Medina. O próprio Profeta a enterrou com suas mãos.
Sua morte representou uma grande perda para ele.
Fatimah Bint
Muhammad
Fátima foi o quinto filho de Mohammad e Khadija. Ela
nasceu na época em que seu pai começou a passar
longos períodos em solidão nas montanhas perto
de Macca, meditando e refletindo sobre os grandes mistérios
da criação.
Sua irmã mais velha tinha se casado com seu primo, al-Aas
ibn ar-Rabiah. Em seguida veio o casamento de suas duas outras
irmãs, Ruqayah e Umm Kulthun, com os filhos de Abu Lahab,
um tio paterno do Profeta. Tanto Abu Lahab quanto sua esposa,
Umm Jamil, tornaram-se inimigos ferozes do Profeta quando este
iniciou sua missão.
Assim, a pequena Fátima viu suas irmãs deixaram
a casa paterna, uma após a outra, para irem viver com
seus maridos. Ela era muito nova para compreender o significado
do casamento e as razões pelas quais suas irmãs
estavam indo embora. Fátima devotava grande amor às
irmãs e se sentiu muito só. Conta-se que uma certa
tristeza se abateu sobre ela.
É claro que naquele tempo, mesmo depois do casamento
de suas irmãs, ela não ficou sozinha em casa de
seus pais. Barakah, a serva de Aminah, mãe do Profeta,
que tinha cuidado dele desde o seu nascimento, Zayd ibn Harithah
e Ali, o filho de Abu Talib, faziam parte da casa de Mohammad.
E claro que tinha sua amada mãe, Khadija.
Fátima encontrou em Barakah e em sua mãe grande
consolo. Em Ali, que era dois anos mais velho do que ela, encontrou
um "irmão" e amigo que, de alguma forma, havia
ocupado o lugar de seu irmão al-Qasim, que havia morrido
cedo. Abdullah, seu outro irmão, conhecido como o Bom
e Puro, que nasceu depois dela, também havia morrido
ainda criança. No entanto, ninguém da casa de
seu pai lhe dera tanta alegria e felicidade como suas irmãs.
Ela era uma criança muito sensível para a sua
idade.
Quando estava com 5 anos, soube que seu pai tinha-se tornado
Rasul Allah, o Mensageiro de Deus. Os primeiros a receberem
as boas novas do Islam foram sua família e os amigos
mais chegados. Eles deviam adorar a Deus Todo Poderoso somente.
Sua mãe, que era um baluarte de força e amparo,
explicou a Fátima o que seu tinha que fazer. A partir
daquele momento ela ficou mais intimamente ligada a ele, devotando-lhe
um profundo e respeitoso amor. Muitas vezes ela sairia pelas
ruas estreitas de Macca, visitando a Caaba ou assistindo aos
encontros secretos dos primeiros muçulmanos que haviam
abraçado o Islam e prometido fidelidade ao Profeta
Um dia, quando ainda não tinha dez anos, ela acompanhou
seu pai à mesquita de al-Haram. Ele ficou no lugar conhecido
como al-Hijr, de frente para a Caaba e começou a rezar.
Fátima ficou de pé a seu lado. Um grupo de coraixitas
mal intencionados começou a confabular sobre ele. Entre
aquelas pessoas estavam Abu Jahl ibn Hisham, tio do Profeta,
Uqbah ibn Abi Muayt, Umayyah ibn Khalaf, e Shaybah e Utbah,
filhos de Rabi'ah. Ameaçadoramente, o grupo se dirigiu
ao Profeta e Abu Jahl, líder do grupo, perguntou:
"Quem de vocês pode trazer as tripas de um animal
morto e atirá-las sobre Mohammad?"
Uqbah ibn Abi Muayt, um dos mais infames
do grupo, se apresentou como voluntário e saiu correndo
para providenciar. Voltou trazendo a porcaria e a atirou sobre
os ombros do Profeta que jazia prostrado em adoração.
Abdullah ibn Masud, um companheiro do Profeta a tudo assistiu,
impotente para fazer ou dizer qualquer coisa.
Imagine-se os sentimentos de Fátima, vendo seu pai ser
tratado desta maneira! O que podia uma menina de 10 anos fazer?
Aproximou-se do pai, retirou aquela sujeira e, então,
firme e furiosamente ficou diante do grupo de fascínoras
e começou a gritar com eles. Não disseram uma
palavra. O Profeta levantou sua cabeça completando a
prostração e seguiu com a oração.
Então disse: "Ó Senhor, que os coraixitas
sejam punidos!" e repetiu esta imprecação
por três vezes. Depois continuou: "Que Utbah, Abu
Jahl e Shaybah seja punidos." (Esses três morreram
mais tarde na Batalha de Badr).
Em outra ocasião, Fátima estava com o profeta
enquanto ele fazia tawaf em volta da Caaba. Uma turba de coraixitas
se juntou em volta dele. Eles o agarraram e tentaram estrangulá-lo
com suas próprias roupas. Fátima gritou por socorro.
Abu Bakr correu até eles tentando libertar o Profeta,
enquanto implorava:
"Vocês querem matar um homem que diz 'Meu Senhor
é Deus?' " Longe de desistir, o grupo se voltou
para Abu Bakr e começou a bater nele até que o
sangue começou a escorrer de sua cabeça e rosto.
Tais cenas de oposição feroz e perseguição
contra seu pai e os primeiros muçulmanos foram testemunhadas
pela jovem Fátima. Jamais ficou impassível a tudo
isso, pelo contrário, partiu para a luta na defesa de
seu pai e de sua nobre missão. Ela era ainda uma menina
e ao invés das brincadeiras alegres, próprias
das crianças de sua idade, Fátima presenciou e
participou de tais provações.
É claro que ela não estava sozinha. Toda a família
do Profeta sofreu com essa insana violência dos coraixitas.
Suas irmãs, Ruqayyah e Umm Kulthum, também sofreram.
Nessa época elas estavam morando no ninho de ódio
e intriga contra o Profeta. Afinal, os maridos eram Utbah e
Utaybah, filhos de Abu Lahab e Umm Jamil. Umm Jamil era conhecida
por ser uma mulher mesquinha e inflexível, que tinha
uma língua ferina. Tinha sido exatamente por causa dela
que Khadija não tinha ficado satisfeita com o casamento
das filhas. Deve ter sido doloroso para Ruqayyah e Umm Kulthum
viver na casa desses inimigos que, ao invés de se juntarem
ao seu pai, empreenderam uma terrível campanha para destruí-lo.
Como sinal da desgraça sobre Mohammad e sua família,
Utbah e Utaybah foram obrigados por seus pais a se divorciarem
das esposas. Isto fazia parte do processo de lançar Mohammad
ao total ostracismo. O Profeta, na verdade, recebeu suas filhas
de volta com alegria, felicidade e alívio.
Fátima, com certeza, mais feliz ainda, por estar de novo
com suas irmãs. Agora todos na família queriam
que a irmã mais velha, Zaynab, também se divorciasse
do marido. De fato os coraixitas fizeram pressão para
que Abul Aas se divorciasse da filha do Profeta, mas ele se
recusou. Quando os líderes dos coraixitas vieram ter
com ele e lhe prometeram a mais bela e mais rica mulher como
esposa se ele se divorciasse de Zaynab, ele respondeu:
"Amo minha esposa profunda e apaixonadamente e tenho grande
respeito por seu pai, muito embora eu não tenha entrado
para a religião do Islam."
Tanto Ruqayyah quanto Umm Kulthum estavam felizes com o retorno
para a casa dos pais e por estarem livres da insuportável
tortura mental a qual foram submetidas na casa de Umm Jamil.
Um pouco depois, Ruqayyah se casou de novo com o jovem Uthman
ibn Allan, que estava entre os primeiros a aceitar o Islam.
Eles seguiram para Abissínia juntamente com os primeiros
muhajirin que buscaram refúgio naquelas terras e ficaram
por lá muitos anos. A perseguição ao Profeta,
sua família e seguidores continuou, piorando depois da
migração dos primeiros muçulmanos para
a Abissínia. No sétimo ano de sua missão,
o Profeta e sua família foram forçados a deixar
a casa e buscar refúgio num pequeno e escarpado vale
circundado por montanhas por todos os lados e um desfiladeiro,
que só podia ser alcançado através de uma
passagem estreita.
Neste vale árido, Mohammad e os clãs de Banu Hashim
e al-Muttalib foram forçados a viver com alimentação
racionada. Fátima era um dos membros mais jovens dos
clãs - cerca de 12 anos - e teve que suportar meses de
sofrimento e privação. O choro das mulheres e
crianças famintas podia ser ouvido em Macca. Os coraixitas
não permitiam qualquer contato com os muçulmanos,
cujo sofrimento diminuía um pouco durante o período
da peregrinação. Esse boicote durou três
anos. Quando foi suspenso, o Profeta teve que enfrentar mais
provas e dificuldades. Khadija, a amada e fiel esposa, morreu
um pouco depois. Com sua morte, o Profeta e sua família
perdeu uma das suas maiores fontes de conforto e força,
que os sustentou durante os dias de grandes dificuldades. O
ano em que Khadija, e logo depois Abu Talib, morreram é
conhecido como o "Ano da Tristeza". Fátima,
agora uma adolescente, sofreu com a morte de sua mãe.
Ela chorou muito e durante algum tempo ficou tão abalada
que isso teve repercursões sobre sua saúde. Temia-se
até que ela pudesse morrer de tristeza.
Embora sua irmã mais velha, Umm Kulthum, estivesse em
casa, Fátima percebeu que agora ela tinha uma responsabilidade
maior com a morte da mãe. Ela sentia que tinha que dar
um apoio maior a seu pai. Com ternura e carinho ela se dedicou
a cuidar de suas necessidades. Ela era tão preocupada
com o seu bem estar que chegou a ser chamada de "Umm Abi-ha"
(a mãe de seu pai). Ela também o amparou nos difíceis
tempos de provas e crises.
Muitas vezes as provações eram demais para ela.
Certa vez, uma turba de insolentes atirou poeira e terra sobre
a cabeça do Profeta. Quando ele entrou em casa, Fátima
chorou muito, enquanto tiram a poeira da cabeça de seu
pai.
"Não chore, minha filha, porque Deus protegerá
seu pai."
O Profeta tinha um carinho especial por Fátima. Uma vez
ele disse: "Quem quer que agrade Fátima, na verdade
agrada a Deus e quem quer que lhe cause tristeza na verdade
desagra a Deus. Fátima é uma parte de mim. O que
quer que lhe agrade me agrada e o que quer que lhe desagrade
me desagrada."
Também disse: "As melhores mulheres do mundo são
quatro: a Virgem Maria, Aasiyaa, esposa do Faraó, Khadija,
Mãe dos Crentes, e Fátima, a filha de Mohammad."
Assim, Fátima conquistou um lugar especial no coração
do Profeta, antes ocupado apenas por sua esposa Khadija.
Por causa de seu rosto brilhante, que parecia uma luz radiante,
Fátima recebeu o título de "az-Zahraa",
que significa "a resplandescente". Conta-se que quando
ela ia rezar, o mihrab refletia a luz de seu semblante. Também
era conhecida por "al Batul" por causa de seu asceticismo.
Ao invés de ficar na companhia das mulheres, passava
a maior parte do seu tempo em oração, lendo o
Alcorão e assistindo os pobres.
Fátima tinha uma forte semelhança com seu pai.
Aisha, a esposa do Profeta, disse sobre ela: "Jamais vi
nada na criação de Deus que lembrasse mais o Mensageiro
de Deus na palavra, nas conversas e no modo de sentar, do que
Fátima. Quando o Profeta a via chegar, ele a cumprimentava,
se levantava e a beijava, tomava-a pela mão e a fazia
sentar-se no lugar onde ele estava sentado." Ela fazia
a mesma coisa quando ele ia visitá-la. Ela se levantava,
cumprimentava-o com alegria e o beijava.
O modo fino e gentil de falar era parte de sua personalidade
afetuosa e amorosa. Ela era especialmente amável com
os pobres e indigentes e algumas vezes distribuia toda a comida
que tinha para aqueles necessitados, ainda que ela mesma ficasse
com fome. Não tinha desejos pelas coisas deste mundo
nem almejava uma via luxuosa e confortável. Vivia de
maneira simples, embora em certas ocasiões, que veremos
adiante, as circunstâncias pareciam ser muito difíceis
para ela.
Ela herdou de seu pai uma eloquência persuasiva, cheia
de sabedoria. Quando falava, as pessoas muitas vezes chegavam
às lágrimas. Tinha a habilidade e a sinceridade
de despertar as emoções, levar as pessoas às
lágrimas e encher seus corações com louvor
e gratidão a Deus por Suas graças e inestimáveis
bênçãos.
Fátima migrou para Medina poucas semanas após
o Profeta. Ela foi com Zayd ibn Harithah, que havia sido mandado
pelo Profeta para trazer o resto de sua família. O grupo
incluía Fátima e Umm Kulthum, Sawdah, a esposa
do Profeta, Barakah, a esposa de Zayd e seu filho Usamah. Viajando
com eles, também estava Abdullah, o filho de Abu Bakr,
que acompanhava sua mãe e tia, Aisha e Asma.
Em Medina, Fátima viveu com seu pai numa casa simples
que tinha sido construída perto da mesquita. No segundo
ano depois da Hégira, ela recebeu várias propostas
de casamento. Ali, o filho de Abu Talib, armou-se coragem e
foi pedir ao Profeta a mão de sua filha em casamento.
No entanto, quando na presença do Profeta, Ali ficou
paralisado. Olhava para o chão e não conseguia
dizer nada. O Profeta, então, lhe perguntou: "Por
que você veio? Está precisando de alguma coisa?"
Mas Ali não conseguia dizer uma palavra e então
o Profeta sugeriu: "Talvez você tenha vindo para
propor casamento a Fátima." "Sim", ele
respondeu. Em seguida, de acordo com relatos, o Profeta disse
simplesmente "Marhaban wa ahlan" (seja benvindo).
Um outro relato conta que o Profeta aprovou e perguntou a Ali
se ele tinha alguma coisa para dar como dote. Ele respondeu
que não tinha. O Profeta o fez lembrar-se de que tinha
um escudo que podia ser vendido. Ali vendeu-o a Uthman por 400
dirhams e voltou correndo ao Profeta dando a ele a quantia apurada
como dote. Uthman interrompeu-o e disse: "Devolvo-lhe seu
escudo como meu presente de casamento."
Fátima e Ali se casaram provavelmente no início
do segundo ano após a Hégira. Ela devia ter perto
de 19 anos e Ali 21. O próprio Profeta celebrou a cerimônia
de casamento. Os convidados foram servidos com tâmaras,
figos e "hais" (uma mistura de tâmaras e manteiga).
Um membro dos ansar deu de presente um carneiro e os outros
ofertaram grãos. Toda Medina se rejubilou.
Diz-se que o Profeta presenteou o casal com uma cama de madeira,
entrelaçada com folhas de palmeira, uma manta de veludo,
uma almofada de couro, uma pele de carneiro, um vaso e um moedor
de grãos.
Pela primeira vez Fátima deixou a casa de seu amado pai
para começar uma nova vida com o marido. O Profeta estava
nitidamente preocupado com ela e mandou Barakah para ajudá-la
em caso de necessidade. Sem dúvida, Barakah foi uma inestimável
fonte de conforto e consolo para Fátima. E o Profeta
rezou por eles:
"Ó Senhor, abençoe a ambos, a sua casa e
a sua descendência." Na casa humilde de Ali, só
havia uma pele de carneiro para a cama. Na manhã seguinte
ao casamento, o Profeta foi até lá e bateu na
porta. Barakah veio atender e o Profeta lhe disse: "Ó
Umm Ayman, chame meu irmão para mim." "Seu
irmão? Aquele que se casou com sua filha?" perguntou
Barakah algo incrédula, como se quisesse dizer: Por que
o Profeta chama Ali de seu irmão? (Ele se referia a Ali
como seu irmão porque depois da Héjira os muçulmanos
estavam ligados numa fraternidade, assim o Profeta e Ali estavam
ligados como "irmãos").
O Profeta repetiu o que tinha dito numa voz mais alta. Ali chegou
e o Profeta invocou as bênçãos de Deus sobre
ele. A seguir, ele perguntou por Fátima. Ela apareceu
quase que se encolhendo, entre espantada e tímida, e
o Profeta lhe disse:
"Eu casei você com o mais querido de minha família."
Desta forma, ele procurou tranquilizá-la. Ela não
estava começando uma vida nova com alguém estranho,
mas sim com um que havia sido criado na mesma casa, que estava
entre os primeiros a abraçarem o Islam ainda muito novo,
que era conhecido por sua coragem, bravura e virtude, e a quem
o Profeta descrevia com seu "irmão neste mundo e
no outro."
A vida de Fátima com Ali foi tão simples e frugal
como havia sido em casa de seu pai. Na verdade, ao invés
de conforto material foi uma vida de dificuldades e privações.
Durante toda a vida em comum, Ali permaneceu pobre e não
conseguiu fazer uma fortuna material. Fátima era a única
de suas irmãs que não tinha se casado com um homem
rico. Pode-se dizer que a vida de Fátima com Ali foi
até mais severa do que a que levava em casa de seu pai.
Pelo menos, antes do casamento, enquanto vivia na casa do Profeta,
não lhe faltavam inúmeras mãos sempre prontas
para ajudar. Mas agora, ela tinha que administrar tudo por conta
própria. Para diminuir a extrema pobreza, Ali trabalhava
como carregador de água enquanto ela moía o milho.
Um dia ela disse a Ali: "Tenho trabalhado a terra até
fazer bolhas em minhas mãos."
"Eu tenho tirado água até meu peito doer."
respondeu. Ali, então, sugeriu a Fátima: "Deus
deu a seu pai alguns prisioneiros de guerra, portanto, vá
e peça a ele para lhe ceder um servo."
Relutante, ela foi ter com o Profeta, que disse: "O que
a traz aqui, minha filhinha?" "Vim lhe apresentar
minhas saudações de paz," ela respondeu,
porque, com vergonha dele, não conseguiu dizer o que
estava pretendendo.
"O que você fez?", perguntou Ali quando ela
voltou sozinha.
"Eu fiquei envergonhada de pedir a ele", ela disse.
Então, os dois foram juntos, mas o Profeta sentiu que
eles tinham menos necessidade do que os outros.
"Não lhes darei", ele disse, "os Ahlas
Suffah (muçulmanos pobres que ficavam na mesquita) estão
atormentados pela fome. Não tenho o bastante para ..."
Ali e Fátima retornaram para casa, sentindo-se um pouco
rejeitados, mas naquela noite, após terem ido para cama,
eles ouviram a voz do Profeta pedindo permissão para
entrar. Puseram-se de pé e ele lhes disse:
"Fiquem onde estão" e sentou-se ao lado deles.
"Posso dizer-lhes alguma coisa melhor do que aquela que
vocês me pediram?" Eles responderam "Sim"
e ele disse: "As palavras que Gabriel me ensinou, que vocês
devem dizer "Subhana Allah" (Glorificado seja Deus)
dez vezes depois de cada oração, e dez vezes "Alhamdul
lillah "Louvado seja Deus) e dez vezes "Allahu Akbar"
(Deus é o maior). E que quando vocês forem para
a cama devem dizer trinta e três vezes cada uma."
Alguns anos mais tarde, Ali costumava dizer: "Desde que
o Mensageiro de Deus nos ensinou aquelas palavras, nunca deixei
de dizê-las uma única vez."
Existem muitos relatos sobre os tempos difíceis que Fátima
enfrentou. Muitas vezes não havia comida em sua casa.
Certa vez o Profeta estava com fome. Ele foi a casa de cada
uma de suas esposas, mas não havia comida. Então,
foi até a casa de Fátima, e, também lá
não havia comida. Quando finalmente ele conseguiu alguma
coisa, ele mandou dois pães e um pedaço de carne
para Fátima. Uma outra vez, ele foi a casa de Abu Ayyub
al-Ansari e, da comida que lhe deram, ele separou um pouco para
ela. Fátima tanbém sabia que o Profeta ficava
sem alimento por longos períodos e, em troca, lhe mandava
comida quando conseguia alguma. Uma vez ela lhe levou um pedaço
de pão de cevada e ele lhe disse: "Este é
o primeiro alimento que seu come em três dias."
Através desses gestos de delicadeza, ela mostrava como
amava o pai e ele a amava também.
Uma vez, ele voltava a Medina de uma de suas viagens, e se dirigiu
primeiro para a mesquita, rezou duas "rakat", como
era de seu costume. Em seguida, como sempre fazia, foi à
casa de Fátima antes de ir ver suas esposas. Ela o recebeu,
beijou seu rosto e sua face e chorou.
"Por que você está chorando?" perguntou
o Profeta.
"Estou olhando para você, ó Rasul Allah, amarelo,
pálido, suas roupas estão gastas e esfarrapadas."
"Ó Fátima" o Profeta respondeu ternamente,
"não chore, porque Deus enviou seu pai com uma missão
que influenciará cada casa sobre a face da terra, seja
nas cidades, vilas ou tendas (no deserto), trazendo glória
ou humilhação até que esta missão
esteja completa, como a noite, que sempre chega (inevitavelmente)."
Com tais comentários, Fátima muitas vezes se esquecia
da realidade dura da vida diária e conseguia vislumbrar
a grandeza da missão confiada a seu nobre pai.
Finalmente, Fátima voltou a morar
numa casa próxima à do Profeta. O lugar foi doado
por um ansar que sabia que o Profeta ficaria contente em ter
sua filha perto dele. Juntos, eles dividiram as alegrias e triunfos,
as tristezas e dificulddes daqueles anos graves e turbulentos
em Medina.
Em meados do segundo ano após a Hégira, um pouco
antes da campanha de Badr, sua irmã Ruqayyah ficou doente,
com febre e sarampo. Uthman, seu marido, ficou com ela e acabou
não indo para os campos de batalha. Ruqayyah acabou morrendo
um pouco antes do retorno de seu pai. Quando ele chegou a Medina,
um de seus primeiros atos foi o de visitar túmulo da
filha, na companhia de Fátima. Esta foi a primeira perda
de um parente próximo, desde a morte de Khadija. Fátima
ficou profundamente triste com a morte da irmã. Ao chegarem
ao túmulo de Ruqayyah, as lágrimas corriam de
seus olhos e o Profeta a confortou e procurou enxugar suas lágrimas
com a ponta de seu manto.
O Profeta havia se manifestado anteriormente contra as lamentações
pelos mortos, mas isto levou a uma interpretação
errada e, quando eles retornavam do cemitério, a voz
de Umar se fazia ouvir, imprecando contras as mulheres que choravam
pelos mártires de Badr e por Ruqayyah.
"Umar, deixe-as chorar", ele disse e, em seguida,
acrescentou: "O que vem do coração e do olho,
é de Deus e de Sua Misericórdia, mas o que vem
da mão e da língua, é de Satanás."
Por mão, ele queria se referir àquelas pessoas
que batem no peito e arranham o rosto, e por língua queria
se referir aos lamentos das carpideiras.
Uthman mais tarde se casou com a outra filha do Profeta, Umm
Kulthum, e por causa disso, ficou conhecido como Dhu-n Nurayn,
o possuidor de Duas Luzes.
O luto sofrido pela família com a morte de Ruqayyah foi
seguido de grande felicidade, quando Fátima deu à
luz um menino, no mês de Ramadã do terceiro ano
após a Hégira. O Profeta disse as palavras de
Adhan no ouvido do recém-nascido e deu-lhe o nome de
Al-Hasan, que significa o Belo.
Um ano mais tarde, nasceu outro menino que se chamou Al-Husayn,
que significa "o pequeno Hasan". Seguidamente Fátima
trazia seus dois filhos para visitarem o avô, que era
extremamente carinhoso com eles. Mais tarde, ele os levava à
Mesquita e eles subiam em suas costas enquanto estava prostrado.
Ele também fazia o mesmo com a neta Umamah, filha de
Zaynab.
No oitavo ano após a Hégira, Fátima deu
à luz uma menina, a quem ela deu o nome de sua irmã
mais velha, Zaynab, que havia morrido um pouco antes de seu
nascimento. Esta filha de Fátima ficou famosa como a
"Heroína de Karbala". O quarto filho de Fátima
foi uma menina a quem ela deu o nome de Umm Kulthum, em homenagem
à irmã que havia morrido depois de uma doença.
Foi apenas através de Fátima que a descendência
do Profeta se perpetuou. Todos os filhos de Mohammad morreram
ainda na infância e os dois filhos de Zaynab, de nome
Ali e Umamah, morreram jovens. O filho de Ruqayyah também
morreu quando ainda não tinha dois anos de idade. Esta
é mais uma razão de reverência que é
concedida à Fátima.
Embora Fátima fosse muito ocupada cuidando das crianças,
ela tomou parte, na medida do possível, nos assuntos
afetos ao crescimento da comunidade muçulmana de Medina.
Antes de seu casamento, ela era uma espécie de protetora
dos pobres e desvalidos. Assim que a Batalha de Uhud terminou,
ela foi com outras mulheres ao campo de batalha e chorou pelos
mártires mortos e ainda arrumou tempo para cuidar das
feridas de seu pai. Na Batalha de Ditch, ela desempenhou um
papel muito importante, juntamente com outras mulheres, preparando
comida durante o longo e difícil cerco. Ela orientou
as mulheres nas orações e naquele lugar existe
uma mesquita com o nome de Masjid Fatimah, uma das setes em
que os muçulmanos guardavam e praticavam suas devoções.
Fátima também acompanhou o Profeta quando ele
fez a Umrah, no sexto ano após a Hégira, depois
do Tratado de Hudaybiyyah. No ano seguinte, ela e sua irmã
Umm Kulthun estavam entre os muçulmanos que participaram,
junto com o Profeta, da libertação de Macca. Diz-se
que naquela ocasião, tanto Fátima como Umm Kulthun,
visitaram a casa de sua mãe, Khadija, e rememoram os
tempos da infância e da jihad, das longas lutas nos primeiros
anos da missão do Profeta.
No Ramadã do décimo ano, um pouco antes de ela
fazer a Peregrinação do Adeus, o Profeta confidenciou
à Fátima, como segredo que ainda não podia
ser revelado aos outros:
"Gabriel recitava o Alcorão para mim e eu para ele,
uma vez a cada ano, mas este ano ele recitou duas vezes. Acho
que minha hora chegou."
Na sua volta da Peregrinação do Adeus, o Profeta
ficou seriamente doente. Seus últimos dias foram passados
na casa de sua esposa Aisha. Quando Fátima vinha visitá-lo,
Aisha deixava os dois sozinhos.
Um dia ele chamou Fátima. Quando ela chegou, ele a beijou
e sussurrou algumas palavras em seu ouvido. Ela chorou. De novo
ele sussurou em seu ouvido e ela sorriu. Aisha viu e perguntou:
"Você chorou e sorriu ao mesmo tempo, Fátima.
O que o Mensageiro de Deus lhe disse?" Ela respondeu:
"Primeiro ele me disse que irá se encontrar com
o seu Senhor daqui a pouco, e eu chorei. Depois ele me disse:
'Não chore porque você será a primeira de
minha casa a se juntar a mim', e eu sorri."
´Não demorou muito e o nobre Profeta morreu. Fátima
ficou muito abalada e muitas vezes ela foi vista chorando profusamente.
Um dos companheiros percebeu que nunca mais viu Fátima
sorrir depois da morte de seu pai.
Uma manhã, no início do mês de Ramadã,
um pouco menos de 5 meses depois da morte do pai, Fátima
acordou parecendo muito feliz e cheia de alegria. Na tarde desse
dia, conta-se que ela chamou Salma bint Umays, que cuidava dela,
e pediu para se banhar. Depois vestiu roupas novas e se perfumou.
Em seguida pediu a Salma que levasse sua cama para o quintal
da Casa. Com o rosto voltado para o céu, ela pediu que
chamasse o marido Ali.
Ele se surpreendeu quando viu a cama no meio do quintal e perguntou
a ela o que havia de errado. Ela sorriu e disse: "Tenho
um encontro hoje com o Mensageiro de Deus."
Ali chorou e ela tentou consolá-lo.
Ela lhe disse para cuidar dos filhos al-Hasan e al-Husayn e
pediu para ser enterrada sem cerimônias. Olhou para cima
mais uma vez e então fechou os olhos e entregou sua alma
ao Criador Todo Poderosos.
Fátima, a Resplandescente, tinha apenas 29 anos de idade.
Aishah Bint
Abu Bakr
A vida de Aisha é a prova de que uma mulher pode ser
bem mais instruída do que os homens e que ela pode ser
a mestra de pensadores e sábios. Sua vida também
é a prova de que uma mulher pode exercer influência
sobre homens e mulheres e proporcionar-lhes inspiração
e liderança. Além disso, sua vida também
é uma prova de que uma mesma mulher pode ser totalmente
feminina e fonte de prazer, alegria e conforto para seu marido.
Ela não se formou por qualquer universidade. Na sua época
não elas não existiam pelo menos da forma como
conhecemos hoje. Mas suas expressões são estudadas
nas faculdades de literatura, seus pronunciamentos legais são
estudados nas faculdades de direito e sua vida e trabalhos são
estudados e pesquisados por professores e alunos de história
muçulmana da forma como aconteceram há mais de
1000 anos.
Esse vasto tesouro de conhecimentos foi obtido quando ela era
ainda muito jovem. Ela foi criada por seu pai, que era muito
querido e respeitado por ser um homem de grande conhecimento,
maneiras gentis e presença agradável. Além
do mais, ele foi o amigo mais próximo do nobre Profeta,
que era um frequentador assíduo de sua casa desde os
primeiros dias de sua missão.
Na juventude, já conhecida por sua beleza impressionante
e sua formidável memória, ela chamou a atenção
do Profeta. Como sua esposa e companheira chegada, ela adquiriu
dele conhecimento e compreensão tais como nenhuma outra
mulher jamais teve.
Aisha se tornou a esposa do Profeta em Macca, quando provavelmente
tinha 10 anos mas seu casamento só aconteceu no segundo
ano depois da hijrah, quando devia ter uns 14 ou 15 anos. Antes
e depois de seu casamento, ela manteve uma jovialidade e inocência
naturais e não parecia nada intimidada com o fato de
estar casada com Mohammad, o Mensageiro de Deus, a quem todos
os companheiros, incluindo seus prórpios pais, tratavam
com o máximo de amor e reverência.
A respeito de seu casamento, ela contou que um pouco antes de
ela deixar a casa de seus pais, ela saiu para o quintal para
brincar com uma amiga que passava.
"Eu estava brincando de balanço e meus longos cabelos
ondeados estavam despenteados", ela disse. "Eles vieram
e me tiraram da minha brincadeira e me aprontaram."
Eles a vestiram com um vestido de casamento
feito de um tecido listrado de vermelho do Bahrein e então
sua mãe a levou para a casa recentemente construída,
onde algumas mulheres dos Ansar estavam esperando do lado de
fora da porta. Todas a cumprimentaram com as palavras "Que
tudo corra bem para a felicidade!" A seguir, na presença
do Profeta sorridente, uma tigela com leite foi t razida. O
Profeta bebeu e ofereceu a Aisha. Ela timidamente recusou mas
quando ele insitiu ela bebeu e ofereceu a sua irmã que
estava sentada a seu lado. As outras pessoas também beberam
o leite este foi o momento solene e simples de seu casamento.
Não houve festa de bodas.
O casamento com o Profeta não mudou seus modos alegres.
Suas amigas jovens vinha frequentemente visitá-la em
sua própria casa.
"Eu estava brincando com minhas bonecas" ela disse,
"com as meninas que eram minhas amigas e o Profeta chegou.
Elas se retiraram da casa e ele foi atrás delas e as
trouxe de volta, porque ele ficava contente por minha causa
de tê-las ali." Algumas vezes ele dizia "Fiquem
onde estão" antes que elas tivessem tempo de se
retirar e também se juntava à brincadeira. Aisha
disse: "Um dia, o Profeta chegou quando eu estava brincando
com as bonecas e ele disse: 'Ó Aisha, que brincadeira
é essa?' 'Cavalos de Salomão' eu disse e ele riu."
Algumas vezes ele chegava e se escondia em seu manto para não
perturbar Aisha e suas amigas.
O início de vida de Aisha em Medina também teve
seus momentos críticos e de apreensão. Certa vez
seu pai e dois companheiros que estavam com ele ficaram doentes
com uma febre perigosa, o que era comum em Medina em certas
estações do ano. Certa manhã, Aisha foi
visitá-lo e ficou consternada ao encontrar os três
homens deitados, completamente fracos e exausto. Ela perguntou
a seu como estava passando e ele lhe respondeu com um versículo
mas ela não entendeu o que ele estava dizendo. Os outros
dois também lhe responderam com algumas estrofes de um
poema que lhe pareceu mais um murmúrio sem sentido do
que qualquer outra coisa. Ele ficou tão profundamente
preocupada que foi procurar o Profeta, dizendo:
"Eles estão delirando, fora de si, por causa da
febre alta." O Profeta lhe perguntou o que eles haviam
dito e ficou de alguma forma tranquilo quando ela repetiu quase
que palavra por palavra das estrofes que eles haviam proferido
e que faziam sentido, muito embora ela não os compreendesse
muito bem. Esta foi uma demonstração da grande
capacidade de retenção de sua memória,
que com o passar dos anos foi de inestimável valor para
preservar os inúmeros ditos do Profeta.
Das esposas do Profeta em Medina, está claro que Aisha
foi a que ele mais amou. De tempos em tempos, um ou outro de
seus companheiros lhe perguntava:
"Ó Mensageiro de Deus, a quem você mais ama
neste mundo?" Nem sempre ele dava a mesma resposta para
esta pergunta porque ele sentia grande amor por muitas de suas
filhas e netos, por Abu Bakr, por Ali, Zayd e seu filho Usamah.
Mas, de suas esposas, a única que ele citava era Aisha.
Ela também o amou demais e muitas vezes buscou nele a
certeza de seu amor por ela. Certa vez ela lhe perguntou: "Como
é seu amor por mim?"
"Como o nó da corda", ele respondia, querendo
com isso dizer que era forte e seguro. De tempos em tempos,
Aisha perguntava-lhe: "Como vai o nó?" e ele
respondia "do mesmo jeito."
Como ela amasse muito o Profeta, ela sentia ciúmes e
não suportava que as atenções dele se voltassem
para as outras mais do que lhe parecia suficiente. Ela lhe perguntou:
"Ò Mensageiro de Deus, diga-me, se você estivesse
entre duas vertentes de um vale, e uma delas não tivesse
sido roçada e outra sim, para qual delas você levaria
seus rebanhos"?
"Para aquele que não tivesse sido roçado",
ele respondeu. "Mesmo assim", ela disse, "eu
não sou como as suas outras esposas. Todas tiveram um
marido antes de você, menos eu. O Profeta sorriu e não
disse nada. De seu ciúme, Aisha diria anos mais tarde:
"Jamais tive ciúmes de qualquer das esposas do Profeta
como eu tive de Khadija, porque constantemente ele falava nela
e porque Deus lhe havia ordenado comunicar a ela a boa nova
de uma mansão de pedras preciosas no Paraíso.
E sempre que ele sacrificava um carneiro ele mandava uma boa
parte para aqueles que haviam sido seus amigos íntimos.
Muitas vezes eu disse a ele: "É como se nunca tivesse
havido outra mulher no mundo além de Khadija."
Uma vez, quando Aisha se queixou e perguntou
por que ele falava tanto de "uma velha coraixita",
o Profeta se ofendeu e disse: "Ela foi a esposa que acreditou
em mim quando os outros me rejeitaram. Quando as pessoas me
chamaram de mentiroso e confirmou minha sinceridade. Quando
fui abandonado ele gastou de sua fortuna para aliviar o peso
de minha tristeza ..."
Apesar de seus sentimentos de ciúme, que não eram
de forma alguma destrutivos, Aisha era realmente uma alma generosa
e paciente. Ela suportou, juntamente com a família do
Profeta, pobreza e fome que, muitas vezes, duravam longos períodos.
Vários dias se passavam sem que o fogo fosse aceso para
cozinhar ou assar o pão e eles viviam apenas de tâmaras
e água. A pobreza não lhe provocou tristeza ou
humilhação e não corrompeu seu estilo de
vida.
Uma vez o Profeta ficou afastado de suas esposas por um mês,
porque elas o haviam aborrecido, exigindo dele o que não
tinha. Este fato aconteceu após a expedição
de Khaybar, quando um aumento das riquezas despertou a cobiça
dos muçulmanos. Retornando de retiro auto-imposto, ele
foi primeiro à casa de Aisha. Ela ficou muito contente
em vê-lo mas ele lhe disse que havia recebido uma revelação,
na qual lhe era pedido que colocasse para ela duas opções.
E ele recitou os versículos:
"Ó Profeta! Diga a suas esposas: Se você desejar
a vida deste mundo com todos os seus adornos, então venha
e Eu concederei esses bens sobre você e a libertarei.
Mas, se você preferir Deus e Seu Mensageiro e a morada
no Paraíso, então Deus guardou uma imensa recompensa
por isso, porque você escolheu o melhor."
A resposta de Aisha foi:
"Na verdade, eu escolho Deus e Seu Mensageiro e a morada
no céu", e sua resposta foi seguida por todas as
outras esposas.
Ela manteve sua escolha tanto durante a vida do Profeta como
depois. Certa vez os muçulmanos foram favorecidos com
enormes riquezas e lhe deram de presente 100.000 dihams. Ela
estava jejuando quando recebeu o dinheiro e distribuiu toda
a quantia entre os pobres e necessitados, meuito embora em sua
casa não houvesse qualquer provisão. Um pouco
depois, uma serva lhe disse: "Você não poderia
ter comprado carne com 1 dirham e assim quebrado o jejum?"
E ela respondeu: "Eu poderia ter feito isso, mas não
me lembrei."
A afeição do Profeta por Aisha permaneceu até
o fim. Durante sua doença, foi na casa de Aisha que ele
ia por sugestão das outras esposas. Lá, ele ficava
muito tempo, deitado num sofá, com a cabeça descançando
em seu colo. Foi ela quem pegou uma escova de dentes de seu
irmão, mordeu cuidadosamente e a deu para o Profeta.
Apesar de sua fraqueza, ele escovou os dentes com bastante vigor.
Um pouco mais tarde, ele perdeu a consciência e Aisha
achou que ele estava morrendo, mas, após uma hora, ele
abriu os olhos.
Foi Aisha quem preservou para nós estes últimos
momentos de nosso amado Mensageiro. Quando ele abriu seus olhos
de novo, Aisha lembrou-se de Iris ter dito a ela: "Nenhum
Profeta é levado pela morte até que lhe tenha
sido mostrado seu lugar no Paraíso e então ele
escolha entre viver ou morrer."
"Ele não nos escolherá", ela disse para
si mesma. Então, ela o ouviu murmurar: "Com a comunhão
suprema no Paraíso, com aqueles a quem Deus derramou
seus favores, os profetas, os mártires e os justos ..."
De novo ela o ouviu murmurar: "Ó Senhor, em comunhão
suprema" e estas foram as últimas palavras que ela
ouviu ele dizer. Aos poucos, sua cabeçar foi ficando
mais pesada sobre seu peito até que os outros na sala
começaram a lamentar e Aisha deitou sua cabeça
sobre um travesseiro e se juntou aos lamentos.
No chão do cômodo de Aisha, próximo ao sofá
onde ele estava deitado, foi aberta uma cova na qual o último
dos profetas foi enterrado em meio a muita tristeza e grande
dor.
Aisha ainda viveu quase 50 anos depois da morte do Profeta.
Ela foi sua esposa por cerca dez anos. Muito desse tempo ela
passou estudando e adquirindo conhecimento das duas mais importantes
fontes da orientação de Deus, o Alcorão
e a Suna de Seu Profeta. Aisha foi uma das três esposas
do Profeta (as outras fuas foram Hafsah e Umm Salamah) a memorizar
a Revelação. Assim como Hafsah, ele tinha seu
próprio exemplar do Alcorão, escrito depois que
o Profeta morreu.
Segundo os ahadith e ou ditos do Profeta, Aisha foi uma das
quatro pessoas (as outras foram Abu Hurayrah, Abdullah ibn Umar
e Anas ibn Malik) a transmitir mais de 2000 ditos. Muitos deles
se referem a aspectos íntimos do comportamento pessoal
do Profeta, que somente uma pessoa que ocupasse a posição
que ela ocupou poderia ter legado. O que é mais importante
é o fato de que seu conhecimento foi passado sob a forma
escrita por pelo menos três pessoas, inclusive seu sobrinho
Urwah, que se tornou um dos maiores pensadores da geração
seguinte à dos companheiros.
Muitos dos companheiros do Profeta e seus seguidores se beneficiaram
do conhecimento de Aisha. Abu Musa al-Ashari certa vez disse:
"Se nós, os companheiros do Mensageiros de Deus
tínhamos alguma dificuldade sobre qualquer assunto, nós
perguntávamos à Aisha."
Seu sobrinho Urwah assegura que ela foi competente não
só em fiqh como também na medicina e na poesia.
Muitos dos companheiros mais velhos do Profeta costumavam procurá-la
para pedir orientação a respeito de questões
de herança, matéria que exigia grande habilidade
matemática. Os pensadores islâmicos a respeitam
como uma das primeiras fuqaha, juntamente com pessoas como Umar
ibn al-Khatab, Ali e Abdullah ibn Abbas. Connta-se que o Profeta,
referido ao seu grande conhecimento sobre Islam teria dito:
"Aprendam uma parte de sua religião (din) com esta
humayra."
Aisha não só possuía um grande conhecimento
como teve participação ativa na educação
e na reforma social. Como professora ela tinha um modo claro
e persuasivo de falar e seu poder de oratória foi descrito
em termos superlativos por al-Ahnaf, que disse: "Já
ouvi discursos de Abu Bakr e Umar, Uthman e Ali, mas jamais
ouvi algo mais persuasivo e mais bonito da boca de qualquer
pessoa do que da boca de Aisha."
Homens e mulheres vinham de longe para se beneficiarem de seu
conhecimento. Diz-se que o número de mulheres era maior
do que os homens. Tomou para si o cuidado e a orientação
de meninos e meninas, alguns órfãos, a quem ministrava
ensinamentos. Sua casa se transformou numa escola e numa academia.
Alguns de seus estudantes foram notáveis. Seu sobrinho
Urwah se destacou como um grande narrador de hadith. Entre as
mulheres que foram suas alunas, está o nome de Umrah
bint Abdur Rahman. Ela é respeitada pelos pensadores
islâmicos como uma das mais fiéis narradoras de
hadith e diz-se que ajudava Aisha recebendo e respondendo às
cartas que endereçadas a ela. O exemplo de Aisha na promoção
da educação, principalmente na educação
da mulher muçulmana, deve ser seguido.
Depois de Khadija (a Grande), e de Fátima (a Resplendescente),
Aisha (aquela que afirma a Verdade) é respeitada como
a melhor mulher do Islam. Por causa da força de sua personalidade,
ela foi uma líder em diversos campos do conhecimento,
na sociedade, na política e na guerra. Muitas vezes se
arrependeu de seu envolvimento na guerra, mas viveu o bastante
para reconquistar a posição de a mulher mais respeitada
de seu tempo. Ela morreu no ano de 58, depois da Hégira,
no mês de Ramadã, e quis ser enterrada em Medina,
ao lado de outros companheiros do Profeta.
Umm Salamah
Umm Salamah! Que vida notável ela teve! Seu nome verdadeiro
era Hind. Ela era a filha de um dos notáveis da tribo
Makhzun, apelidada de "Zad ar-Rakib", porque ela era
conhecida por sua generosidade, principalmente com os viajantes.
O marido de Umm Salaman era Abdullah ibn Abdulasad e ambos estavam
entre os primeiros a aceitar o Islam. Apenas Abu Bakr e uns
poucos, que podiam ser contados nos dedos da mão, se
tornaram muçulmanos antes deles.
Assim que a notícia da conversão deles ao Islam
se espalhou, os coraixitas reagiram com uma raiva incontida.
Começaram a perseguir ferozmente Umm Salamah e o marido,
mas o casal não vacilou nem se desesperou, permanecendo
firme em sua nova fé.
A perseguição ficou mais e mais intensa e a vida
em Macca tornou-se insuportável para muitos dos novos
muçulmanos. O Profeta, então, deu-lhes permissão
para emigrarem para a Abissínia. Umm Salamah e seu marido
estavam na dianteira daqueles muhajirun que buscaram refúgio
em terra estrangeira. Para Umm Salamah, isto significava deixar
sua casa espaçosa e abandonar os laços tradicionais
de família e honra por uma nova esperança e uma
recompensa de Allah.
Apesar da proteção que Umm Salamah e seus companheiros
receberam do monarca da Abissínia, o desejo de voltar
para Macca persistia, para estar perto do profeta e fonte de
revelação e orientação.
Finalmente, notícias chegadas de Macca davam conta de
que o número de muçulmanos estava aumentando.
Entre os novos convertidos estavam Hamzah ibn Abdulmuttalib
e Umar ibn al-Khattab. A fé tinha fortalecido a comunidade
e diziam que os coraixitas, de alguma forma, estavam relaxando
a perseguição aos muçulmanos. Assim, um
grupo de muhajirun, animados por ardente desejo em seus corações,
decidiram voltar a Macca.
No entanto, o relaxamento da perseguição foi breve,
conforme o grupo logo logo descobriu. O aumento dramático
do número de novos muçulmanos, seguido da aceitação
do Islam por Hamzah e Umar só serviu para enfurecer os
coraixitas ainda mais. Intensificaram a perseguição
e a tortura de uma forma nunca vista antes. Em razão
disso, o Profeta deu permissão a seus companheiros para
emigrarem para Medina. Umm Salamah e seu marido estavam entre
os primeiros a deixarem Macca.
No entanto, a hijrah de Umm Salamah e de seu marido não
foi tão fácil como eles haviam imaginado. Na verdade,
foi a mais amarga e dolorosa experiência, e, principalmente,
a mais dilacerante para ela. Que Umm Salamah conte a sua estória:
Quando Abu Salamah (meu marido) decidiu ir para Medina, ele
preparou um camelo para mim, me colocou em cima dele e o nosso
filho Salamah em meu colo. Ele foi na frente, sem parar ou esperar
por qualquer coisa. Ainda não tínhamos deixado
Macca quando alguns homens de minha tribo nos pararam e disseram
para meu marido:
"Embora você seja livre para fazer o que quiser com
sua vida, você não tem poder sobre sua esposa.
Ela é nossa filha e você não pode esperar
que lhe demos nossa permissão para que ela nos deixe."
Então, lançaram-se sobre ele
e me arrebataram dele. A tribo de meu marido, Banu Abdulasad,
presenciou tudo, vermelhos de raiva.
"Não, por Deus", gritaram, "não
vamos abandonar o menino. Ele é nosso e temos direitos
sobre ele."
Pegaram a criança pela mão e a arrancaram de mim.
De repente, em fração de segundos, me encontrei
sozinha e abandonada. Meu marido tinha ido para Medina e sua
tribo tinha arrebatado meu filho. Minha própria tribo,
Banu Makhzum, tinha me subjugado e forçado a ficar com
eles. Desde aquele dia em que meu marido e meu filho se separaram
de mim, passei a ir todo dia, à tarde, até aquele
vale e me sentava no lugar onde essa tragédia tinha ocorrido.
Eu me lembrava daqueles terríveis momentos e chorava
até a noite cair sobre mim.
Continuei assim por um ano ou mais, até que um dia um
homem da tribo Omíada passou e viu minha condição.
Ele foi, então, até minha tribo e disse:
"Por que vocês não libertam essa pobre mulher?
Vocês são os responsáveis pelo aconteceu
ao marido e ao filho dela."
Aquele homem continuou tentando abrandar seus corações
e sensibilizá-los. Por fim eles me disseram "Vá
e junte-se a seu marido se esse é o seu desejo."
Mas, como podia me juntar a meu marido em Medina e abandonar
meu filho em Macca com a tribo de Abdulasad, uma parte de meu
próprio corpo, carne da minha carne, sangue do meu sangue?
Como podia me libertar da angústia e os meus olhos das
lágrimas e alcançar o lugar da hégira sem
saber nada sobre meu filho, deixado para trás em Macca?
Alguns deles perceberam o que eu estava sofrendo e seus corações
se condoeram. Pediram, então, aos membros da tribo Abdulasad
que me devolvessem meu filho.
Agora eu já nem queria permanecer
em Macca até encontrar alguém para viajar comigo,
pois eu receiava que alguma coisa pudesse acontecer que atrasasse
ou me impedisse de encontrar meu marido. Assim, imediatamente
arrumei meu camelo, coloquei meu filho no colo e parti em direção
a Medina.
Eu tinha acabado de alcançar Tan'im (cerca de 3 milhas
de Macca) quando encontrei Uthman ibn Tallah. Ele era um dos
guardiães da Caaba nos tempos pré-islâmicos
e ainda não tinha abraçado o Islam.
"Para onde você está indo, Bint Zad ar-Rakib?",
ele perguntou.
"Estou indo encontrar-me com meu marido em Medina."
"E ninguém a acompanha?"
"Não, exceto Deus e meu filho aqui."
"Por Deus, não a abandonarei até que vocês
cheguem a Medina." ele prometeu.
Então ele pegou as rédeas de meu camelo e nos
conduziu. Por Deus que jamais encontrei um árabe mais
nobre e generoso do que ele. Quando fizemos uma parada para
repouso, ele fez meu camelo se ajoelhar, esperou que eu desmontasse,
levou-o até uma árvore e o prendeu ali. Então
ele procurou a sombra de uma outra árvore e quando estávamos
descansados ele aprontou o camelo e seguimos viagem. E assim
ele fez todos os dias até chegarmos a Medina. Quando
alcançamos um vilarejo próximo a Quba (cerca de
2 milhas de Medina), que pertencia à tribo Amr ibn Awf,
ele me disse "Seu marido está nesta vila. Vá
com as bênçãos de Deus."
Deu meia volta e retornou a Macca.
Seus caminhos finalmente haviam se encontrado após a
longa separação. Umm Salamah ficou feliz em ver
seu marido e ele maravilhado em abraçar sua esposa e
o filho.
Grandes e importantes eventos se seguiram um após o outro.
Houve a batalha de Badr, onde Abu Salamah lutou. Os muçulmanos
retornaram a Medina vitoriosos e fortalecidos. Então,
veio a batalha de Uhud, na qual os muçulmanos foram duramente
testados. Abu Salamah voltou dessa batalha seriamente ferido.
De início parecia responder bem ao tratamento mas suas
feridas nunca cicatrizaram completamente e ele ficou entrevado.
Certa vez, quando Umm Salamah estava cuidando dele, ele lhe
disse:
"Ouvi o Mensageiro de Deus dizer. Sempre que uma calamidade
nos afligir devemos dizer, 'Certamente viemos de Deus e para
Ele com certeza retornaremos.' E ele orou. 'Ó Senhor,
dai-nos em troca alguma coisa boa que somente Vós, o
Exaltado, o Poderoso, podeis dar."
Abu Salamah ficou de cama por muitos dias. Certa manhã,
o Profeta veio vê-lo. A visita foi mais longa do que o
habitual. E Abu Salamah morreu enquanto o Profeta estava a seu
lado. Com suas mãos abençoadas, o Profeta fechou
os olhos de seu companheiro morto, e em seguida levantou suas
mãos aos céus e orou:
"Ó Senhor, concedei o perdão a Abu Salamah.
Levai-o para junto daqueles que estão próximos
a Vós. Cuidai sempre de sua família. Perdoai-nos
e a ele, Ó Senhor dos Mundos. Ampliai seu túmulo
e tornai-o leve para ele."
Umm Salamah se lembrava da oração que seu marido
havia mencionado em seu leito de morte e começou a repeti-la:
"Ó Senhor, deixo convosco esta minha aflição
para Vossa consideração ..." Mas, ela não
conseguia continuar... "Ó Senhor, conceda-me algo
de bom", porque ela continuava se perguntando "Quem
pode ser melhor do que Abu Salamah?" Mas, não ficou
muito tempo sem completar sua súplica.
Os muçulmanos estavam muito condoídos da situação
de Umm Salamah. Ela ficou conhecida como "Ayyin al-Arab",
aquela que perdeu o marido. Ela não tinha ninguém
em Medina exceto seu filho, era como uma galinha sem penas.
Tanto os muhajirun quanto os ansar sentiam que tinham uma obrigação
para com Umm Salamah. Quando ela completou o Iddah (três
meses e dez dias), Abu Bakr pediu-a em casamento, mas ela recusou.
Umar, então, pediu para se casar com ela mas também
foi recusado. Então, o Profeta se aproximou e ela respondeu:
"Ò Mensageiro de Deus, eu tenho três características.
Sou uma mulher extremamente ciumenta e tenho medo de que veja
em mim algo que o irrite e que provoque a punição
de Deus sobre mim. Sou uma mulher de idade já avançada
e tenho uma família jovem."
O Profeta respondeu:
"Com relação ao ciúme de que você
fala, pedirei a Deus, o Todo Poderoso, para que o afaste de
você. No tocante à idade, também eu sofro
do mesmo problema que você. No que se refere à
uma família dependente, sua família é a
minha família."
E eles se casaram e assim Deus respondeu às preces de
Umm Salamah e lhe deu uma pessoa melhor do que Abu Salamah.
Daquele dia em diante, Hind al-Makhumiyah não foi apenas
a mãe de Salamah, mas a mãe de todos os crentes,
Umm al-Mu'mineen.
Zaynab al-Ghazali
Zainab al-Ghazali é uma mulher especial. Assim como Aisha
Abd al-Rahman, ela é uma egípcia que defende os
direitos das mulheres muçulmanas, em consonância
com o que ela percebe ser a doutrina islâmica correta.
Foi uma ativista islâmica. Nasceu no Egito em 1917 e ainda
na sua juventude, foi um membro ativo da União Feminista
Egípcia, fundada por Huda al-Sha'rawi, em 1923. Renunciou
ao cargo por discordar das opiniões e ideais do movimento
de libertação das mulheres e, aos 18 anos, em
1936, ela fundou a Associação das Mulheres Muçulmanas,
a fim de organizar as atividades femininas, de acordo com as
normas e propostas islâmicas. Esta organizaçáo
prestou serviços inestimáveis aos pobres, órfãos
e desvalidos. Embora ela conhecesse Hasan al-Banna, o fundador
da Fraternidade Muçulmana, desde os anos 30, e tivesse
participado ativamente de muitos programas islâmicos,
somente em 1948 ela vai se juntar à Fraternidade.
Quando a Sociedade dos Irmãos Muçulmanos (Fraternidade)
foi dissolvida, em 1948, ela se empenhou pessoalmente no compromisso
de fidelidade a Hasan al-Banna, apoiando-o nos esforços
de estabelecer um estado islâmico. Embora ele tenha sido
assassinado logo em seguida, ela permaneceu fiel aos sucessores
de Hasan al-Banna e ajudou seus membros, principalmente depois
que foram jogados na clandestinidade, durante o regime de Gamal
Abdel Nasser (1950/1960).
Em 1965, ela foi presa sob alegação de conspirar
contra Gamal Abdel Nasser e seu governo. Ela foi libertada durante
o governo de Anwar Sadat em 1971. Além de ser muito ativa
no trabalho de Da'wah, Zainab al-Ghazali foi uma escritora fecunda,
contribuindo regularmente para a maioria dos jornais e periódicos
islâmicos. Em seu último livro, "Return of
the Pharoah", ela relata como, falsamente acusada de conspiração
contra Nasser, foi detida e levada a prisão. Enquanto
aguardava o julgamento na prisão, foi submetida às
mais terríveis e desumanas torturas. Ao invés
de diminuir seu entusiasmo pelo Islam e pelo movimento islâmico,
a selvageria e abuso que lhe dispensaram só serviu para
aumentar o seu compromisso e dedicação pela causa
do Islam.
Numa entrevista concedida em sua casa em Heliópolis,
Egito, em 1981, Zainab disse:
"O Islam concedeu tudo tanto a homens como a mulheres.
Deu tudo às mulheres - liberdade, direitos econômicos,
políticos, sociais, direitos públicos e privados.
O Islam concedeu às mulheres direitos na família
jamais assegurados por nenhuma outra sociedade. As mulheres
podem falar de liberação nas sociedades cristã,
judaica ou pagã, mas na sociedade islâmica é
um grave erro falar da liberação das mulheres.
A mulher muçulmana precisa estudar o Islam e assim ela
saberá que foi o Islam quem lhe concedeu todos os direitos."
Este é o cerne do pensamento de Zaynab al-Ghazali, com
relação à condição das mulheres,
conforme expressado em suas palestras públicas e em seus
artigos para a revista al-Da'wa, na qual ela foi editora de
uma seção voltada para os ideais de um lar muçulmano.
O objetivo de seu ativismo e o de sua associação
é educacional: incutir nas mentes femininas a doutrina
do Islam, ensinar seus direitos e deveres e conclamá-las
para mudanças na sociedade que levem ao estabelecimento
de um estado islâmico, governado pelo Alcorão e
pela Sunna do Profeta.
Zainab al-Ghazali acredita que o Islam permite às mulheres
uma participacão ativa na vida pública, trabalhar,
entrar na política e expressar suas opiniões.
Ela crê que o Islam permite que elas tenham seus próprios
bens, façam transações comerciais e que
podem ser o que queiram a serviço da sociedade islâmica.
Acredita, ainda, que a primeira obrigação da mulher
muçulmana é ser mãe e esposa e que nenhuma
outra atividade deve interferir no desempenho desse papel, porque
esta deve ser a sua prioridade acima qualquer outra. Se ela
dispuser de tempo para participar da vida pública, tendo
sempre em vista a obrigação primeira, ela pode
porque o Islam não a proíbe.
Zainab al-Ghazali acredita firmemente no dever social e religioso
do casamento. Em seu primeiro casamento, seu marido discordava
de seu ativismo religioso e por causa disso ela se divorciou.
Seu segundo marido era mais compreensivo, auxiliou-a em sua
missão e jamais a impediu de lutar pela causa islâmica.
Em seu livro autobiográfico, ela conta como, embora preocupado
com ela, seu marido continuou a apoiá-la em suas atividades.
No entanto, ela enfatiza que jamais deixou de lado suas obrigações
para com a família, ainda que continuasse a exercer a
presidência da Associação das Mulheres Muçulmanas,
a trabalhar longas horas em seu escritório e a estar
pessoalmente envolvida nas atividades clandestinas da Sociedade
dos Irmãos Muçulmanos. Após a morte de
seu segundo marido, ela sentiu que havia cumprido com os seus
deveres no casamento e que, por isso, estava livre para se devotar
integralmente à causa do Islam.
Desencantada com os rumos da revolução egípcia
de 1952, que havia contado com o apoio de muitos muçulmanos
no seu início, Zainab al-Ghazali passou a considerar
Gamal Abdel Nasser e seu regime como inimigos do Islam. Depois
que alguns membros da Sociedade dos Irmãos Muçulmanos
foram sentenciados à morte e muitos outros condenados
à prisão, ela criou programas para amparar os
órfãos e viúvas daqueles ativistas, para
alimentar os necessitados e desempregados entre os libertados,para
ajudar suas famílias e, fortalecer sua posição
como presidente da Associação das Mulheres muçulmanas
no sentido de fazer o trabalho social tão necessitado.
Ela também intensificou suas atividades educacionais
e participou de grupos secretos de estudos islâmicos,
orientados pelos irmãos muçulmanos que se encontravam
na prisão. Em 1962, ela entrou em contado com Sayyid
Qutb na prisão através de duas irmãs e
obteve a sua concordância para a realização
de um curso de leitura de comentários sobre o Alcorão
e os Hadith, assim como sobre jurisprudência islâmica.
Ele também lhe deu partes de um livro que ele estava
escrevendo na prisão para ser publicado mais tarde sob
o título Ma'alim fil Tariq.
Páginas deste livro e instruções de Sayyid
Qutb, ainda na prisão, além de um conjunto de
versículos do Alcorão, seriam estudados por grupos
de 5 a 10 jovens em encontros durante à noite na casa
de Zainab al-Ghazali. As discussões se seguiram e pontos
de vista foram estabelecidos e opiniões formadas. Com
a concordância de Sayyd Qutb e das lideranças da
Fraternidade, decidiu-se que este programa de treinamento islâmico
deveria continuar por 30 anos, que foi o tempo de duração
do chamado do Profeta Mohammad em Macca, antes de ele se mudar
para Medina e instituir o estado islâmico. Decidiu-se
também que, ao fim deste período, uma pesquisa
deveria ser realizada no Egito para saber se pelo menos 75%
dos egípcios estavam convencidos da necessidade de se
estabelecer um estado islâmico. Em caso positivo, eles
deveriam providenciar a realização dessa pesquisa,e
em caso negativo, deveriam continuar com os estudos e aprendizado
por mais 30 anos, que deveria ser repetido até que a
nação estivesse pronta para aceitar um governo
islâmico, implementando a lei islâmica, de acordo
com o Alcorão e a Sunna do Profeta.
Quando o governo egípcio começou a suspeitar desses
grupos e a tratá-los como células políticas
revoltosas, aconteceu um racha na Fraternidade em 1965. As Irmãs
Muçulmanas não foram poupadas, a Associação
das Mulheres Muçulmanas foi dissolvida e Zaynab al-Ghazali,
entre outros, foi presa. Em 1966, ela foi levada a julgamento
com muitos outros e sentenciada a trabalhos forçados
por toda a vida. Mas, em 1971, ela foi libertada. No ressurgimento
islâmico no Egito, que se tornou mais forte após
a morte de Nasser, em 1970, e depois que Sadat assumiu a presidência,
ela continuou a ser uma oradora ativa e professora de Islam,
conclamando o estabelecimento de um estado islâmico com
o ideal de que todos os muçulmanos deviam se empenhar,
a fim instituir uma sociedade que fosse guiada pelo Alcorão
e pela Sunna do Profeta.
As idéias de Zaynab al-Ghazali em relação
a um estado islâmico são muito gerais e carecem
de especificidade em muitos pontos. Sua crença nesse
ideal, no entanto, não é menos fraca por causa
disso. Ela acha que não existe um estado verdadeiramente
islâmico sob a face da terra no momento, isto é,
onde a shari'ah esteja completamente implementada, nem mesmo
o Paquistão ou a Arábia Saudita podem se dizer
islâmicos em seu modo de ver.
Ela apoia a revolução iraniana e espera que seu
regime logo esteja implantado, a fim de que os iranianos possam
canalizar seus esforços na solução de seus
problemas externos e internos. O código penal da shari'ah
islâmica não deve ser aplicado agora, mas sim quando
o estado estiver completamente estabelecido e a shari'ah puder
ser aplicada. A fidelidade ao governante islâmico deve
ser obtida através de eleições gerais ou
por um grupo composto de pessoas sábias, experientes
e justas. Ela acha que o Islam proíbe que a chefia do
estado islâmico seja uma herança que passa de pai
para filho. O chefe de estado pode ser chamado de califa ou
presidente e é possível a existência de
dois califas de uma só vez por causa da expansão
do mundo islâmico, mas os dois devem estar unidos e seus
exércitos devem lutar pela mesma causa. Um califa deve
ter um conselho cujos membros devem ser peritos em vários
campos, a fim de que ele possa permancer leal e querido pelas
pessoas que o elegeram. De acordo com ela, o Islam não
aceita um sistema pluripartidário porque o sistema em
si já é completo, com os muçulmanos tendo
o direito de escolher seu governante e o dever de obedecê-lo
enquanto ele permancer fiel ao Islam. Outros sistemas ou regimes
foram feitos pelo homem e são inferiores ao Islam, que
foi feito por Deus. Não muçulmanos de outras religiões
ou ateus serão tratados pelo estado islâmico de
acordo com as prescrições do Alcorão e
da Sunna. Zaynab al-Ghazali pensa que o sistema islâmico
trará justiça a todos, mas os muçulmanos
precisam primeiro permanecer unidos. Pode haver diferenças
de opiniões entre os muçulmanos a respeito de
questões desde que não haja divisões em
suas fileiras: eles podem divergir nos meios mas não
nos fins, onde a meta deverá sempre ser a unidade.
A
poligamia e suas vantagens
A poligamia é uma prática
muito antiga, encontrada em muitas sociedades humanas. A Bíblia
não condenou a poligamia. Pelo contrário, o Velho
Testamento e os escritos rabínicos freqüentemente
atestam a legalidade da poligamia. Dizem que o Rei Salomão
teve 700 esposas e 300 concubinas (Reis 11:3). Também
o Rei Davi teve muitas esposas e concubinas (2 Samuel 5:13).
O Velho Testamento tem algumas injunções em como
distribuir a propriedade de um homem entre seus filhos de diferentes
mulheres (Deuteronômio 22:7). A única restrição
com relação à poligamia é a proibição
de tomar uma irmã da esposa como uma esposa rival (Levítico
18:18). O Talmud aconselha a um máximo de 4 esposas.
Os judeus europeus continuaram a praticar a poligamia até
o século XVI.
Os judeus orientais praticavam a poligamia regularmente até
a chegada a Israel, onde ela foi proibida por lei. Contudo,
na lei religiosa, que sobrepuja a lei civil em tais casos, a
poligamia é permitida .
E com relação ao Novo Testamento? De acordo com
o padre Eugene Hilman, em seu penetrante livro, a poligamia
é reconsiderada, "Em parte alguma do Novo Testamento
há uma orientação expressa de que o casamento
deve ser monogâmico ou qualquer orientação
que proíba a poligamia". Além disso, Jesus
não falou contra a poligamia, embora ela fosse praticada
pelos judeus de sua época. O padre Hillman chama a atenção
para o fato de que a Igreja de Roma proibiu a poligamia, a fim
de se adequar à cultura Greco-romana (que prescrevia
somente uma esposa legal, enquanto que tolerava o concubinato
e a prostituição). Ele citou Santo Agostinho,
"Agora, em nosso tempo, e de acordo com o costume romano,
não é mais permitido tomar uma outra esposa".
As igrejas africanas e os cristãos africanos muitas vezes
lembram a seus irmãos europeus que a proibição
da poligamia é mais uma tradição cultural
do que uma autêntica injunção cristã.
O Alcorão também permitiu a poligamia, mas não
sem algumas restrições: "Se vós temeis
não serdes capazes de conviver justamente com os órfãos,
casai com mulheres de sua escolha, 2 ou 3 ou 4 vezes; mas se
temerdes que não sereis capazes de conviver justamente
com elas, então casai somente com uma" (4:13). O
Alcorão, ao contrário da Bíblia, limitou
o número de esposas a 4, sob a estrita condição
de que as esposas sejam tratadas igualmente. Isto não
deve ser entendido como uma exortação a que os
crentes pratiquem a poligamia, ou que a poligamia seja considerada
como um ideal. Em outras palavras, o Alcorão "tolera"
ou "permite" a poligamia. Por que a poligamia é
permitida? A resposta é simples: há lugares e
épocas em que razões morais e sociais compelem
para a poligamia. Como os versos do Alcorão acima indicam,
a questão da poligamia no Islã não pode
ser entendida como parte das obrigações da comunidade
com relação aos órfãos e viúvas.
O Islã, como uma religião universal, aplicável
para todos os lugares e tempos, não poderia ignorar essas
pressões.
Em muitas sociedades humanas, as mulheres superam os homens
em quantidade. Em um país como a Guiné, há
122 mulheres para cada 100 homens. Na Tanzânia, há
95,1 homens para 100 mulheres . O que uma sociedade deve fazer
para resolver esse desequilíbrio? Existem várias
soluções, e alguns podem sugerir o celibato, outros
preferem o infanticídio feminino (que ainda acontece
no mundo de hoje em alguns lugares). Outros, ainda, podem achar
que a única saída é a sociedade tolerar
todas as formas de permissividade sexual: prostituição,
sexo fora do casamento, homossexualismo, etc. Para outras sociedades,
como a maior parte das sociedades africanas de hoje, a saída
mais honrosa é permitir o casamento poligâmico,
como uma instituição culturalmente aceita e socialmente
respeitada. A questão, que é muitas vezes incompreendida
no ocidente, é que muitas mulheres de outras culturas
necessariamente não vêm a poligamia como um sinal
de degradação da mulher. Por exemplo, muitas jovens
noivas africanas, sejam cristãs ou muçulmanas,
prefeririam se casar com um homem casado, que tenha provado
a ele mesmo, ser um marido responsável.
Muitas esposas africanas persuadem seus maridos a tomar uma
segunda esposa e assim eles não se sentem sozinhos. Uma
pesquisa realizada na segunda maior cidade da Nigéria
com 600 mulheres, com idades entre 15 e 59 anos, mostrou que
60% dessas mulheres não se importariam que seus maridos
tivessem uma outra esposa. Somente 23% expressaram raiva ante
a idéia de dividirem seus maridos com outras mulheres.
76% das mulheres que se manifestaram numa pesquisa realizada
no Quênia, viram a poligamia positivamente. Em outra pesquisa
realizada no campo, 25 de 27 mulheres consideraram a poligamia
melhor do que a monogamia.
Estas mulheres sentiram que a poligamia pode ser uma experiência
feliz e benéfica se as co-esposas cooperarem umas com
as outras. A poligamia, na maior parte das sociedades africanas
é uma instituição tão respeitada,
que algumas igrejas protestantes começaram a tolerá-la,
"Embora a monogamia possa ser ideal para a expressão
do amor entre o marido e a esposa, a igreja deve considerar
que em certas culturas a poligamia é socialmente aceitável
e que a crença de que a poligamia é contrária
ao cristianismo não se sustenta por muito tempo".
Depois de um cuidadoso estudo sobre a poligamia africana, o
Reverendo David Gitari, da Igreja Anglicana, concluiu que a
poligamia, como idealmente praticada, é mais cristã
do que o divórcio e o novo casamento, porque há
uma preocupação com as esposas e crianças
abandonadas. Eu pessoalmente conheço algumas esposas
africanas, finamente educadas, que apesar de terem vivido no
Ocidente por muitos anos, não fazem qualquer objeção
à poligamia. Uma delas, que mora nos USA, solenemente
estimula seu marido a tomar uma segunda esposa para ajudá-la
na criação das crianças.
O problema do desequilíbrio entre os sexos começa
na verdade nos problemáticos tempos de guerra. Os índios
nativos americanos costumavam sofrer com essa desigualdade de
número entre homens e mulheres, principalmente após
as perdas dos tempos de guerra. As mulheres dessas tribos, que
na verdade desfrutavam de uma alta posição, aceitavam
a poligamia como a melhor proteção contra a tolerância
por atividades indecentes. Os colonos europeus, sem oferecerem
qualquer outra alternativa, condenavam a poligamia indiana como
"incivilizada" .
Após a segunda guerra mundial, havia na Alemanha 7.300.000
mais mulheres do que homens (3.3 milhões delas eram viúvas).
Havia 100 homens na idade de 20 a 30 anos para cada 167 mulheres
naquele mesmo grupo de idade. Muitas dessas mulheres necessitavam
de um homem, não apenas como uma companhia mas, também,
como um mantenedor para a casa, num tempo de miséria
e injustiça sem precedentes. Os soldados do exército
aliado vitorioso exploravam a vulnerabilidade dessas mulheres.
Muitas jovens e viúvas tinham ligações
com membros das forças de ocupação. Muitos
soldados americanos e britânicos pagavam por seus prazeres
com cigarros, chocolates e pães. As crianças ficavam
felizes com os presentes que os estrangeiros traziam. Um menino
de 10 anos, vendo esses presentes com outras crianças,
desejava ardentemente um "inglês" para a sua
mãe e assim, ela não precisaria passar fome por
tanto tempo. Devemos perguntar para nossa consciência
sobre esta questão: O que dignifica mais uma mulher?
Uma segunda esposa, aceita e respeitada, ou uma prostituta virtual,
como no caso da abordagem "civilizada" das forças
aliadas na Alemanha? Em outras palavras, o que dignifica mais
uma mulher, a prescrição Alcorânica ou a
teologia baseada na cultura do império romano?
É interessante notar que, em uma conferência da
juventude internacional, acontecida em Munique, em 1948, o problema
alemão do desequilíbrio no número de homens
e mulheres foi discutido. Quando ficou claro que não
havia solução consensual, alguns participantes
sugeriram a poligamia. A reação inicial da reunião
foi uma mistura de choque e repugnância. Contudo, após
um estudo cuidadoso da proposta, os participantes concordaram
que a poligamia era a única solução possível.
Conseqüentemente, a poligamia estava incluída entre
as recomendações finais da conferência.
Atualmente, o mundo possui mais armas de destruição
em massa do que jamais houve em qualquer tempo e as igrejas
européias podem, mais cedo ou mais tarde, se ver obrigadas
a aceitar a poligamia como o único caminho. O Padre Hillman,
após muito pensar, admitiu este fato, "É
quase concebível que aquelas técnicas genocídas
(nuclear, biológica, química...) podem produzir
um desequilíbrio tão drástico entre os
sexos que o casamento plural poderia ser um meio necessário
de sobrevivência... Em tal situação, os
teólogos e os líderes das igrejas deveriam rapidamente
produzir razões importantes e textos bíblicos
que justifiquem um novo conceito de casamento".
Nos dias atuais, a poligamia continua a ser a solução
viável para alguns males das sociedades modernas. As
obrigações comunitárias a que o Alcorão
se refere, juntamente com a permissão da poligamia, são
mais perceptíveis atualmente nas sociedades ocidentais
do que na África. Por exemplo, nos USA de hoje, há
uma séria crise na comunidade negra. Um em cada 20 jovens
rapazes negros podem morrer antes de atingir a idade de 2l anos.
Para aqueles que estão entre os 20 e 35 anos, o homicídio
lidera a causa da morte . Além disso, muitos rapazes
negros estão desempregados, na prisão ou são
viciados. Como conseqüência, uma em 4 mulheres negras,
na idade de 40 anos, nunca se casaram, enquanto que este número
é de 1 para 10 mulheres brancas . Além do mais,
muitas jovens negras se tornam mães solteiras antes dos
20 anos e se encontram na situação de serem mantidas.
O resultado final dessas trágicas circunstâncias
é que há um aumento no número de mulheres
negras comprometidas com "homem-partilhado". Isto
é, muitas dessas infelizes mulheres negras solteiras
estão envolvidas em casos com homens casados. As esposas
muitas vezes não têm consciência do fato
de que outras mulheres estão dividindo seus maridos com
elas. Alguns observadores da crise do "homem-partilhado"
na comunidade africana na América têm recomendado
a poligamia consensual, como uma resposta temporária
para a diminuição do número de homens negros,
até que reformas mais abrangentes na sociedade americana
sejam tomadas. Esses observadores entendem poligamia consensual
como a poligamia sancionada pela comunidade e na qual todas
as partes envolvidas concordem, em oposição ao
segredo dos casos com homens casados, os quais sempre prejudicam
tanto a esposa como a comunidade em geral.
O problema do "homem-partilhado" na comunidade africana
da América foi ponto de discussão em um painel
realizado na Universidade de Temple, na Filadélfia, em
27.01.93 . Alguns dos palestrantes recomendaram a poligamia
como um remédio potencial para a crise. Eles também
sugeriram que a poligamia não podia ser banida por lei,
particularmente em uma sociedade que tolera a prostituição
e o concubinato. O comentário de uma das mulheres participantes,
de que os negros americanos precisavam aprender com a África,
onde a poligamia era praticada responsavelmente, conseguiu entusiásticos
aplausos.
Philip Kilbride, um antropólogo americano, de tradição
católica romana, em seu livro provocativo, "Casamento
Plural para o Nosso Tempo", propõe a poligamia como
solução para alguns dos males da sociedade americana.
Ele argumenta que o casamento plural pode servir como uma alternativa
potencial para o divórcio em muitos casos, a fim de eliminar
o impacto danoso do divórcio sobre as crianças.
Ele afirma que muitos divórcios foram causados pelo excessivo
número de casos extraconjugais ocorridos na sociedade
americana. De acordo com Kilbride, transformar um caso extraconjugal
em um casamento poligâmico, ao invés do divórcio,
é melhor para as crianças. Além disso,
ele sugere que outros grupos também se beneficiarão
do casamento plural, tais como: mulheres mais velhas, que enfrentam
uma crônica diminuição de homens e os negros
americanos, que estão envolvidos com o "homem-partilhado".
Em 1987, uma votação conduzida por um estudante
de jornalismo da Universidade de Berkeley, perguntava aos estudantes
se eles concordavam que os homens poderiam ser autorizados,
por lei, a terem mais de uma esposa, tendo em vista a visível
diminuição do número de candidatos masculinos
para o casamento na Califórnia. Quase todos os votantes
aprovaram a idéia. Uma estudante chegou a declarar que
o casamento poligâmico preencheria suas necessidades físicas
e emocionais, porque lhe daria maior liberdade do que uma união
monogâmica. Na verdade, o mesmo argumento foi usado por
alguns poucos remanescentes das mulheres praticantes Mormom,
que ainda praticam a poligamia nos USA.
Elas acreditam que a poligamia é um caminho ideal para
a mulher ter, tanto profissão como crianças, uma
vez que as esposas se ajudam umas às outras no cuidado
com os filhos.
Deve-se acrescentar que a poligamia no Islã é
questão de consenso mútuo. Ninguém pode
forçar a mulher a se casar com um homem casado. Além
disso, a esposa tem o direito de estipular que seu marido não
deve se casar com outra mulher. A Bíblia, pôr outro
lado, algumas vezes vale-se da poligamia forçada. Uma
viúva sem filhos deve se casar com o seu cunhado, mesmo
que ele já seja casado (ver a seção "A
condição das Viúvas") e independente
de seu consentimento (Gênesis 38:8/10).
Deve-se notar que, em muitas sociedades muçulmanas de
hoje, a prática da poligamia é rara, uma vez que
a diferença entre os sexos não é grande.
Pode-se dizer que o número de casamentos poligâmicos
no mundo muçulmano é muito menor do que o de casos
extraconjugais no ocidente. Em outras palavras, os homens no
mundo muçulmano são muito mais monogâmicos
do que os homens no mundo ocidental.
Billy Grahan, o eminente evangélico cristão, reconheceu
este fato: "O cristianismo não pode se comprometer
com a questão da poligamia. Se hoje o cristianismo não
pode fazer isso, é em seu próprio detrimento.
O Islã permitiu a poligamia como uma solução
para os males sociais e reconheceu um certo grau de latitude
da natureza humana, mas, somente dentro da estrutura estritamente
definida na lei.
Os países cristãos fazem um estardalhaço
sobre a monogamia, mas, na verdade, eles praticam a poligamia.
Ninguém ignora a existência das amantes na sociedade
ocidental. A esse respeito, o Islã é fundamentalmente
uma religião honesta, que permite a um muçulmano
se casar uma segunda vez se ele precisar, mas proíbe
rigorosamente todas as associações clandestinas,
a fim de salvaguardar a probidade moral da comunidade".
Nota-se que a nova lei civil brasileira já admite a poligamia
ao estabelecer a lei de concubinato onde estabelece direitos
para tais amantes depois de provarem a existência de vê,
como filhos ou tempo de convivência com homens já
casados, isto na minha visão é uma poligamia não
declarada e hipócrita.
Releva notar que muitos países no mundo de hoje, muçulmanos
ou não, proibiram a poligamia. Tomar uma segunda esposa,
ainda que com o livre consentimento da primeira, é uma
violação da lei. Por outro lado, trair a esposa,
com ou sem o seu conhecimento e/ou consentimento, é perfeitamente
legitimada. Qual é a sabedoria legal por detrás
de tal contradição? A lei foi feita para premiar
a decepção e punir a honestidade? Este é
um dos paradoxos fantásticos de nosso mundo "civilizado".